Consumo: com inflação em baixa e mercado de trabalho aquecido, famílias continuam a comprar e a impulsionar a economia (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 11h17.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 12h36.
O crescimento de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2023 supreendeu positivamente o mercado, que esperava uma queda entre 0,2% e 0,4%. O resultado foi puxado pelo pelo consumo das famílias, que registrou alta de 1,1%, e pelas exportações, que cresceram 3%.
O desempenho do setor de serviços e da indústria, com expansão de 0,6% de ambos, também deu fôlego à geração de riqueza no país. Apesar do resultado positivo, ainda não está claro se a atividade econômica continuará aquecida ou se vivemos um momento de desaceleração.
O nível de incerteza sobre a economia brasileira ainda é alto. Com investimentos em queda por quatro trimestres, agentes econômicos se questionam até quando o fôlego do mercado de trabalho aquecido sustentará o crescimento. Além disso, o país tem grandes desafios fiscais que podem influenciar as expectativas do mercado.
A equipe econômica promete zerar o déficit público em 2024, mas depende de um aumento de arrecadação brutal para que isso ocorra. Com o apetite do governo para continuar a gastar e a sinalização de que não quer contingenciar recursos em ano eleitoral, o país pode viver um crise de credibilidade.
Ao turbinar programas de transferência de renda, aumentar o salário mínimo e se beneficiar do mercado de trabalho aquecido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sustentado um crescimento econômico baseado em consumo e não em investimento.
Os dados do Ministério do Trabalho mostram que 44,23 milhões de brasileiros trabalhavam com carteira assinada até outubro. Já o IBGE revelou que 100,2 milhões de brasileiros estão ocupados.
Sem perspectivas de longo prazo, questiona-se um "voo de galinha", com um pequeno impulso no primeiro ano de governo e o retorno para patamares baixos de crescimento nos anos seguintes.
“Temos um cenário de estímulos com o consumo das famílias, reajuste de benefícios sociais, aumento do salário-mínimo e mercado de trabalho aquecido que ajudam na recuperação econômica. Mas isso tem limite e não deve trazer um impulso adicional no próximo ano e nos demais. Precisamos da retomada dos investimentos. Uma parte disso vem com a queda de juros, mas temos desafios importantes para tornar o ambiente de negócios mais amigável. A reforma tributária ajuda nesse processo, mas tem transição longa e impactos no longo prazo”, afirma Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.
No caso da indústria, o setor de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos registrou alta de 3,6%, diante do crescimento no consumo de energia. Com reservatórios abastecidos e altas temperaturas, os brasileiros têm consumido mais eletricidade e água, o que favorece o desempenho do setor.
No setor de serviços, os maiores destaques foram as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, com alta de 1,3%, especialmente na parte ligada aos seguros, e as imobiliárias, que tiveram expansão de 1,3%. Das sete atividades analisadas, seis registraram alta.
Além disso, alguns fatores explicam a continuidade dos resultados positivos para o consumo das famílias. Os programas de transferência de renda turbinados no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o mercado de trabalho aquecido com contratações com carteira assinada, a inflação mais baixa e o crescimento do crédito estão entre os fatores justificam a alta de 1,1%.
Os diversos setores econômicos têm surpreendido positivamente ao longo do ano, mas os investimentos, que garantem crescimento de longo prazo, continuam em baixa. Pelo quarto trimestre consecutivo, a Formação Bruta de Capital Fixo registrou retração, com queda de 2,5% entre julho e setembro.
"É um reflexo da política monetária contracionista, com queda na construção e também na produção e importação de bens de capital. Todos os componentes que mais pesam nos investimentos caíram neste trimestre", diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
A venda de produtos para outros países tem dado fôlego para o crescimento econômico. No ano até o mês de novembro, a balança comercial acumula superávit de US$ 89,284 bilhões, com exportações de US$ 310,6 bilhões e importações de US$ 221,3 bilhões. Trata-se do maior saldo comercial e o maior valor de exportação para meses de novembro.
Os expressivos resultados no comércio exterior têm ganhado atenção tanto do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, quanto de economistas internacionais. Recentemente, Lula voltou a citar que o Brasil deveria buscar uma corrente de comércio exterior acima de US$ 1 trilhão. Atualmente, entre importações e exportações, essa quantia se aproxima de 600 bilhões de dólares.