Sede do Banco Central: inflação e riscos fiscais são avaliados por diretores da autarquia para definir queda de juros (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 14h42.
O resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que registrou alta de 0,31% em janeiro, surpreendeu positivamente todo o mercado. Na Bloomberg e na Reuters, a mediana das apostas era de 0,47%. E a projeção mais baixa chegou a 0,33% na agência norte-americana.
Na avaliação de agentes econômicos, o dado traz certo alívio para o Brasil, que convive com grande incerteza fiscal, diante do debate sobre a mudança da meta fiscal, além dos temores decorrentes das mudanças climáticas, que podem afetar o preço de alimentos.
O resultado também dá segurança ao Banco Central (BC) para continuar a queda de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne na próxima semana e deve reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano. Os próximos passos, entretanto, dependem de mais clareza da política fiscal. Um déficit público siginifica mais gastos do governo, o que pode pressionar a inflação. Com isso, o ciclo de queda poderia ser interrompido.
Como mostrou a EXAME, nos bastidores do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a discussão não é se a meta fiscal de zerar o déficit público em 2024 será alterada. Técnicos da ala política e da equipe econômica afirmaram que o debate interno é quando essa mudança deve ser anunciada, como será comunicada à sociedade e ao mercado, além do valor em que as despesas ultrapassarão as receitas.
As discussões iniciais partem de uma previsão de déficit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), que poderia chegar a até 0,75% da geração de riquezas no país, com base na banda prevista no novo arcabouço fiscal. A decisão final caberá ao presidente da República e depende do envio ao Congresso de projeto para alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Em entrevista ao programa Vozes do Mercado, da Exame Invest, Eduardo Morais, gestor da Principal Claritas, afirmou que o mercado espera uma mudança da meta fiscal para um déficit de 0,5% do PIB. Entretanto, ele alerta que uma mudança maior seria prejudicial para o país.
"É o que o mercado espera [mudança do déficit fiscal para 0,5% do PIB]. Não pode ir para 1% ou para mais de 1%. Está sendo um cenário bastante positivo, mas é preciso lembrar que estamos no Brasil”, disse.
As estimativas de mercado para o resultado da inflação do ano têm caído ao longo das últimas duas semanas, segundo o Boletim Focus. A mediana das expectativas, que chegou a 3,91%, foi reduzida para 3,87% e agora está em 3,86%. Com o resultado do IPCA-15 de janeiro, economistas passaram a revisar suas apostas.
Andréa Angelo, estrategista de inflação Warren Investimentos, reduziu de 4,1% para 3,9% a projeção para a inflação de 2024. Segundo ela, apesar de o resultado do IPCA-15 ter surpreendido e da revisão na estimativa para o ano, a leitura qualitativa seguiu ruim.
“Os serviços subjacentes aceleraram e foram destaque pela terceira leitura seguida. Este grupo está mais alto que em 2023 e próximo a 2021, quando rodou a 5,5% anualizado. Em nossa medida dessazonalizada e anualizada, os serviços subjacentes subiram para 4,92% de 4,18% e o grupo de serviços intensivo em trabalho de 4,96% para 5,55%”, afirmou.
Andréa afirma que, por ora, segue acreditando na continuidade da desinflação de serviços subjacentes neste ano, com projeção de 4,50%, “mas as dúvidas quanto a isso estão latentes”.
“Com esta avaliação da inflação qualitativa corrente trazendo dúvida sobre a velocidade da desinflação deste grupo, o Banco Central deverá seguir no ritmo de 0,50 ponto percentual de queda da Selic”, disse.
O economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, reduziu a projeção para a inflação de 4% para 3,85%. Mais otimista que os demais, Amabile Ferrazoli, economista da Tenax Capital, diminuiu a estimativa de 3,70% para 3,65%.