Gabriel Galípolo: presidente do BC afastou, com a decisão, qualquer suspeita que ainda restava sobre o seu compromisso em levar a inflação para a meta, de 3%. (Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)
Repórter especial de Macroeconomia
Publicado em 18 de junho de 2025 às 19h11.
Mais uma vez, a diretoria do Banco Central (BC) comandada por Gabriel Galípolo surpreendeu ao elevar os juros para 15% ao ano, ao sinalizar que a taxa ficará nesse patamar pelo menos até janeiro de 2026 e por deixar claro que voltará a subir a Selic, se for necessário.
"Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado", informaram os diretores do BC, no parágrafo mais importante do comunicado divulgado após a reunião.
As sinalizações dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) se somam as derrotas do governo ao longo da semana. Na última segunda-feira, 16, a Câmara aprovou a urgência do projeto que pode derrubar o decreto que eleva alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na última terça-feira, 17, o Congresso derrubou vetos presidenciais e autorizou a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os desvios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esperava o fim do ciclo de alta, segundo interlocutores ouvidos pela EXAME.
O Copom também mandou recados sutis para a equipe econômica e afirmou, na prática, que parte da responsabilidade da alta de juros é do governo que não consegue equilibrar as contas públicas e sinalizar uma trajetória sustentável de crescimento da dívida pública.
Com isso, os juros precisarão, nas palavras do BC permanecer em "patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".
"O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado", informou o Copom.
Com a atividade econômica resiliente, com forte geração de empregos e os estímulos para manter a economia aquecida por meio da oferta de crédito e de programas sociais, resta ao BC manter a Selic em 15% por mais tempo.
Por fim, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, afastou, com a decisão, qualquer suspeita que ainda restava sobre o seu compromisso em levar a inflação para a meta, de 3%. Os juros estão no maior patamar desde julho de 2006, no primeiro mandato de Lula.