Economia

Análise: Com sinal de mais alta da juros, Galípolo e diretores 'blindam' BC de especulações

Membros do Copom têm sinalizado compromisso em levar inflação para a meta, mesmo com pressões governistas contra elevação da Selic

Banco Central: tanto Galípolo quanto os diretores, a maioria indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm mostrado compromisso inabalável em reduzir o ritmo de alta dos preços no Brasi (Adriano Machado/Reuters)

Banco Central: tanto Galípolo quanto os diretores, a maioria indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, têm mostrado compromisso inabalável em reduzir o ritmo de alta dos preços no Brasi (Adriano Machado/Reuters)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 21 de março de 2025 às 06h04.

A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de subir os juros para 14,25% ao ano foi a última que ainda guardava resquícios da gestão de Roberto Campos Neto. As últimas três altas de 1 ponto percentual foram contratadas em dezembro, quando ele ainda presidia da autoridade monetária.

A partir de agora, Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central (BC), tem as rédeas da comunicação e caberá a ele e aos demais diretores domar as expectativas para a inflação dos próximos anos.

Ao que parece, tanto Galípolo quanto os diretores — a maioria indicada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva — têm mostrado compromisso inabalável em reduzir o ritmo de alta dos preços no Brasil.

O empenho nessa tarefa foi explicitado no comunicado, quando os membros do Copom sinalizaram mais uma alta de juros na reunião de maio, o que foi interpretado pela maioria do mercado como elevação de 0,5 ponto percentual.

Quem temia uma mudança de rota do BC na gestão da política monetária com Galípolo recebeu mais uma prova de que ele e os demais diretores não têm compromisso com o erro nem darão margem para qualquer questionamento quanto à credibilidade do trabalho, mesmo com as pressões políticas comuns no governo petista.

Galípolo age tecnicamente, diz economista

O economista-chefe da gestora JGP, Fernando Rocha, afirma que o ajuste de três pontos percentuais, promovido pelo Copom no passado recente, foi feito de maneira técnica.

Segundo ele, a autoridade monetária manteve na comunicação o desconforto com a desancoragem das expectativas de inflação, citou a assimetria do balanço de riscos e se comprometeu com mais um ajuste, o que não dá margem para questionamentos do mercado.

“O mercado tem seus preconceitos e suas desconfianças — talvez com alguma razão — diante das críticas do presidente Lula ao Roberto Campos. Os preconceitos têm algumas justificativas, mas o Galípolo sabe dessa dificuldade. Ele e o Copom têm procurado agir tecnicamente”, diz.

Rocha afirma que o BC deve subir os juros em 0,5 ponto percentual na reunião de maio, para 14,75% ao ano. Para ele, uma elevação de 0,75 ponto percentual não teria o efeito adequado de mostrar uma redução de magnitude do ajuste monetário, como foi comunicado pela diretoria. O efeito poderia ser o contrário. Mostrar um ímpeto desnecessário no momento em que a economia dá sinais de desaceleração, pondera Rocha.

BC quer ganhar tempo para analisar economia

Drausio Giacomelli, economista sênior e estrategista do Deustche Bank para mercados emergentes, afirma que a comunicação do BC foi dura ao sinalizar uma piora do ambiente inflacionário do Brasil e da economia internacional.

Com tantas incertezas, a autoridade monetária reduzirá o ritmo de alta de juros para 0,5 ponto percentual para ganhar tempo e analisar os dados do nível de atividade e de inflação, aponta o economista.

"O BC está cauteloso, vai reduzir o ritmo de alta de juros, mas não me parece o fim. Ainda espero mais uma alta de 0,5 ponto percentual em junho, encerrando o ciclo de alta em 15,25%", diz.

A dúvida que persiste no mercado é o tamanho do ciclo de alta de juros. Até o momento, Galípolo e os demais diretores têm acertado em não dar margem para questionamentos sobre o compromisso em levar a inflação para a meta.

Entretanto, esse trabalho pode ser dificultado diante do impulso econômico que o governo começou a dar por meio da liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e das novas regras para a concessão de crédito consignado para quem trabalha com carteira assinada.

O mérito da medida de baratear o crédito para os brasileiros é inquestionável. Entretanto, como consequência, haverá uma pressão inflacionária com a injeção de mais recursos na economia.

O ápice desse debate ocorrerá em 2026, ano de eleição, se o governo conseguir aprovar a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5.000 por mês. Em um país pobre como o Brasil, os ganhos de renda das famílias são canalizados para o consumo, o que, mais uma vez, resulta em pressão inflacionária.

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