Economia

Americanos assustados sinalizam lenta recuperação do consumo

Mesmo com a suposição de que a covid-19 estará sob controle nas próximas semanas, a economia dos EUA enfrenta uma lenta e dolorosa batalha

Nova York: os consumidores respondem por 70% do PIB americano e foram atingidos em várias frentes (Gabby Jones/Bloomberg)

Nova York: os consumidores respondem por 70% do PIB americano e foram atingidos em várias frentes (Gabby Jones/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 11 de maio de 2020 às 18h30.

Última atualização em 11 de maio de 2020 às 21h03.

David Wright, de 62 anos, estava na porta de sua loja Replay Arcade na semana passada, tentando ver o lado positivo das coisas. Como único proprietário, ele é inquilino do Mall of Georgia, que ficou fechado por um mês, mas reabriu em 4 de maio.

“O tráfego é cerca de 10% do normal, mas 10% é melhor do que zero”, disse rindo em entrevista por telefone de sua empresa nos arredores de Atlanta.

Mesmo com a suposição de que a covid-19 estará sob controle nas próximas semanas, a economia dos Estados Unidos enfrenta uma lenta e dolorosa batalha contra a devastadora crise de saúde pública.

Os consumidores respondem por 70% do PIB americano e foram atingidos em várias frentes. Para alguns, foi um golpe certeiro na conta bancária. Outros foram afetados em suas condições de assalariados, consumidores e animais sociais.

“Não podemos simplesmente apertar o interruptor”, disse Claudia Sahm, diretora de política macroeconômica do Washington Center for Equitable Growth. “Só porque você pode ir à loja e comprar novamente, não significa que irá.”

Capacidade de gastos

Sem dúvida, haverá torcida de políticos eleitos e líderes empresariais à medida que as restrições forem lentamente suspensas. Já se fala em demanda reprimida, pois consumidores sonham em sair de casa para comprar além de alimentos e remédios.

Isso pode ser realidade em algumas áreas, como serviços de saúde, onde visitas médicas importantes, mas não urgentes, e procedimentos médicos foram adiados. Em termos mais amplos, é provável que a realidade seja decepcionante.

Para começar, mais de 33 milhões de americanos perderam o emprego nas sete semanas desde que grandes setores da economia foram paralisados para conter o surto. Muitos podem ficar sem trabalho no longo prazo, depois do fim dos benefícios de seguro-desemprego, que deixam de ser pagos após 39 semanas, e muito além da ajuda semanal de 600 dólares do governo federal que deve expirar em 31 de julho.

“Existe vontade de gastar e capacidade de gastar”, disse Jack Kleinhenz, economista-chefe da Federação Nacional de Varejistas. “Para muitas pessoas, sua capacidade de gastar foi negada.”

Geração mais nova

Choques econômicos graves podem assustar até os que continuam empregados, mas ficaram abalados vendo amigos, vizinhos ou parentes perderem o trabalho. Economistas também destacam que esta é a segunda recessão no espaço de 12 anos pior do que a Grande Depressão.

Richard Curtin, diretor de pesquisa sobre consumidores da Universidade de Michigan, teme que o efeito cumulativo, especialmente nas gerações mais jovens, possa se comparar ao impacto devastador que a década de 1930 teve na psicologia dos americanos.

“A Grande Depressão afetou as pessoas durante a vida inteira, e isso pode ser verdade agora para a geração de millennials”, disse.

Também há um fator diferente desta vez. Esta crise foi desencadeada por um vírus que, por si só, pode matar. Como isso afetará o consumo não está claro. Os primeiros sinais de economias já em processo de reabertura e de pesquisas de atitudes dos consumidores não parecem promissores.

Impacto psicológico

Dados da China, onde o vírus surgiu e onde muitas restrições foram reduzidas, apontam para uma lenta recuperação dos gastos dos consumidores, segundo relatório de economistas do HSBC Bank, em Londres. E, na Suécia, embora bares e restaurantes tenham permanecido abertos durante o surto, os clientes continuam longe.

Pesquisa da YouGov mostrou que 57% dos americanos estavam com “muito” ou com “um pouco” de medo de contrair o vírus. Entre os 26 países pesquisados desde 24 de abril, a média foi de 62%, com apenas a Finlândia abaixo de 40%.

 

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