Economia

América Latina pode ser solução para crise de abastecimento mundial, aponta BID

Segundo Claver-Carone, "todos os dias vemos exemplos de empresas que querem se mudar da Ásia para a América Latina e o Caribe"

BID: Claver-Carone esclareceu que sua posição "não é anti-China, (AFP/AFP)

BID: Claver-Carone esclareceu que sua posição "não é anti-China, (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 8 de junho de 2022 às 08h38.

A América Latina pode ser o "mar de paz" do qual os investimentos necessitam em meio às turbulências mundiais, tanto para solucionar problemas de abastecimento quanto para realocar negócios de outras latitudes, disse nesta terça-feira o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone.

Pelos recursos e oportunidades que oferece, "a América Latina e o Caribe podem ser uma solução para esses problemas de abastecimento, seja de manufatura na Ásia ou de alimentos e energia na Europa", produto do conflito bélico nessa região, que provê grãos e combustíveis para o mundo, declarou à AFP o executivo, que participa da Reunião de Cúpula das Américas em Los Angeles.

"A questão é melhorar a infraestrutura", considerou Claver-Carone, destacando que os bancos centrais latinos "foram exemplares em se antecipar ao Federal Reserve" americano e tomar medidas para que "a inflação não os pegue de surpresa".

O executivo explicou que, "desde a guerra russa na Ucrânia, para todos os países da região, com exceção de Argentina, El Salvador e Bolívia, o risco-país diminuiu", enquanto o da China aumentou, o que significa que se dissociaram. "Isso nunca havia ocorrido na História", destacou.

Tudo isso motiva os investidores a verem nessa região um atrativo para o "nearshoring", ou transferência de seus negócios de um país para outro, que lhe resulte mais próximo ou conveniente.

Segundo Claver-Carone, "todos os dias vemos exemplos de empresas que querem se mudar da Ásia para a América Latina e o Caribe", projetos que o BID também financia. "Sim, há discórdia política, populismo de esquerdas e direitas, mas existe um consenso do empresariado para transferir suas operações", manifestou.

Claver-Carone esclareceu que sua posição "não é anti-China, mas pró-América Latina e Caribe". Segundo cálculos do BID, o ganho potencial para a América Latina e o Caribe das oportunidades de nearshoring poderia representar um aumento de até 78 bilhões de dólares em novas exportações de bens e serviços.

Um grupo bipartidário de senadores apresentou ontem uma resolução pedindo mais apoio às iniciativas de reshoring e nearshoring, "para realocar as cadeias de suprimentos globais nos Estados Unidos e com nossos aliados regionais no hemisfério ocidental". A resolução destaca "os riscos para a segurança nacional e prosperidade econômica dos Estados Unidos" se continuarem dependendo "de forma desproporcional das redes de abastecimento baseadas exclusiva ou principalmente na China".

Claver-Carone lembrou que, em 2021, o BID bateu recordes de financiamento na região, com 23,5 bilhões de dólares entregues, dobrando a média habitual da entidade. Participam dessas operações tanto o BID quanto seu braço do setor privado, BID Invest.

O governo de Joe Biden anunciou que irá propor uma "reforma ambiciosa" no BID "para abordar melhor o desafio de desenvolvimento da região, uma vez que o setor privado tem um papel central". “Um aumento da participação de capital dos Estados Unidos no BID Invest enviaria uma mensagem importante de apoio à região e aumentaria os investimentos de impacto em áreas que incluem nearshoring, digitalização, clima e energias renováveis”, disse Claver-Carone.

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