Economia

Alta da inflação no Brasil destaca necessidade de reformas

Enquanto o governo emprega medidas extraordinárias para conter a inflação, analistas apontam que pode não haver interesse em reformas que reduziriam o poder do Estado


	Notas de real: o IPCA avançou no seu maior ritmo em praticamente oito anos em janeiro
 (Marcos Santos/USP Imagens)

Notas de real: o IPCA avançou no seu maior ritmo em praticamente oito anos em janeiro (Marcos Santos/USP Imagens)

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Da Redação

Publicado em 8 de fevereiro de 2013 às 20h08.

São Paulo/Cidade do México - A inflação brasileira provavelmente piorará antes de melhorar, apesar dos esforços do governo para derrubar o nível de preços com medidas extraordinárias, destacando a necessidade de reformas econômicas mais profundas na maior economia da América Latina.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu em janeiro no maior ritmo em quase oito anos, elevando a inflação anual a 6,15 por cento apesar do corte das tarifas de energia elétrica, promovido pelo governo, que, segundo economistas, reduziu o índice em 0,1 ponto percentual.

Embora boa parte do avanço se deva aos preços de alimentos, os dados também mostram um aumento preocupante da pressão de preços apesar do fraco crescimento econômico, o que distingue o Brasil de seus pares que estão desfrutando maior crescimento com inflação mais baixa.

Ao contrário do México, onde um novo governo conquistou apoio de partidos de oposição para promover importantes reformas estruturais, a agenda de reformas do Brasil parece estar parada. Alguns analistas questionam o interesse do governo em reformas que poderiam reduzir o poder do Estado, com autoridades brasileiras recorrendo em vez disso a medidas extraordinárias para impulsionar o crescimento e conter a inflação.

As medidas vão desde pedir às prefeituras que adiem o aumento das passagens de ônibus até a sinalização de corte de impostos dos produtos da cesta básica.

"É um enfoque de 'remendos' em vez de uma postura de reformas fundamentais", disse o economista do Capital Economics, Neil Shearing.


"Fundamentalmente, a economia enfrenta restrições no lado da oferta, de uma maneira que não ocorre no México, então as pressões inflacionárias no Brasil são muito maiores e continuará assim, particularmente se o governo continuar tentando impulsionar a economia com uma política fiscal frouxa." O Banco Central, que cortou agressivamente os juros para a mínima histórica de 7,25 por cento no ano passado, queixou-se de que o crescimento lento deve-se em grande parte a restrições na oferta, o que foge de sua alçada, já que a política monetária lida com a demanda, não com a oferta.

A alta inflação em janeiro elevou as apostas de que o BC irá aumentar a taxa de juros neste ano, uma movimento que pode complicar ainda mais os esforços para impulsionar a economia.

Embora o BC possa ajustar a demanda ao tornar o crédito mais caro, isso não resolve o descompasso gerado por fortes pressões inflacionárias domésticas e baixo crescimento -- um sintoma de uma economia ineficiente e em dificuldades.

"É como usar um carro velho: você pisa no acelerador e faz barulho, fumaça, mas não ganha muita velocidade", disse o economista do BNP Paribas, Marcelo Carvalho.

"Você sempre pode culpar os preços internacionais de alimentos em uma safra ruim, mas isso não explica por que a inflação de serviços continua persistentemente alta no Brasil." Economistas preveem que a inflação provavelmente subirá em direção ao teto da meta do BC, de 6,5 por cento, no primeiro semestre de 2013, antes de recuar no segundo semestre.

A inflação de serviços e de bens não negociáveis, ambos sinais de pressão inflacionária doméstica, estão atualmente acima de 8 por cento, e o nível historicamente baixo de desemprego de 4,6 por cento está pressionando os salários.

Ainda assim, embora o presidente do BC, Alexandre Tombini, tenha admitido que está preocupado com a inflação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse à Reuters que espera que a medição de janeiro da inflação seja a maior o ano.


PASSOS CURTOS

A mudança na postura do governo ao permitir a apreciação do real, que valorizou para cerca de 1,97 por dólar, vai ajudar a reduzir os custos de bens importados.

Mas isso não é uma solução no longo prazo e torna as exportações mais caras, prejudicando uma economia que já enfrenta dificuldades para decolar.

Autoridades também tentaram derrubar a inflação reduzindo a indexação automática de preços, profundamente enraizada após anos de hiperinflação nas décadas de 1980 e 1990.

Mas economistas dizem que o governo deveria voltar seus olhos para medidas que possam melhorar a capacidade de produção brasileira. Isso inclui reformas para aumentar a produtividade; incentivar o investimento, que está a cerca de metade do nível da China; encorajar novos negócios; e apoiar a mobilidade da força de trabalho. Todas teriam como objetivo permitir que a economia cresça mais rápido sem gerar inflação.

O Brasil está tentando consertar os gargalos que tornam o país um dos lugares mais caros para se fazer negócios: o governo aumentou os períodos de concessão e melhorou condições de financiamento para atrair investidores privados para projetos rodoviários de bilhões de dólares.


Um recente relatório do Boston Consulting Group disse que a prioridade do Brasil deve ser incentivar a produtividade, por exemplo, por meio de mais investimentos em educação. Apenas um quarto do crescimento ao longo da última década, que alçou o Brasil à posição de sexta maior economia do mundo, deveu-se a ganhos de produtividade, frente a 90 por cento na China, mostrou o grupo.

"Num cenário em que você não pode aumentar o número de trabalhadores, matematicamente, tem de vir de produtividade, caso contrário não teremos o tipo de crescimento que aspiramos", disse o diretor do BCG Júlio Bezerra.

O Santander Brasil espera apenas "pequenos passos" do Congresso neste ano em relação às reformas, dada a difícil relação da presidente Dilma Rousseff com parlamentares, e reconhece que amplas reformas tributárias não são politicamente viáveis.

O Congresso vai focar, em vez disso, num novo Código de Mineração, numa estrutura mais simples para o ICMS interestadual e na mudança na distribuição dos royalties do petróleo, no que alguns dizem ser um movimento deliberado para deixar em segundo plano as reformas que levariam a economia a se tornar mais aberta.

"No México, a equipe econômica quer abrir a economia, o mercado, enquanto no Brasil há uma visão de que o Estado deveria ser maior e principal propulsor do crescimento econômico", disse o economista-chefe do MB Associados, Sérgio Vale.

"Mas a presença maior do Estado não gera crescimento, gera ineficiências".

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