O vice-presidente da CE em conferência de imprensa em Bruxelas: "são decisões que correspondem aos espanhóis e aos espanhóis das comunidades autônomas", afirmou (©AFP / Georges Gobet)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2012 às 17h06.
Bruxelas - O vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Joaquín Almunia, advertiu nesta segunda-feira, em entrevista exclusiva à AFP, que o custo da indefinição espanhola quanto a uma eventual solicitação de resgate global à economia desse país pode ser maior que qualquer uma das decisões tomadas.
"A Comissão recomenda um calendário preciso para as decisões", disse o vice-presidente da CE e titular de Competitividade.
E provavelmente essas recomendações ficarão gravadas nesta quinta-feira no "Plano Nacional de Reformas", que prevê advertir às autoridades espanholas sobre a necessidade de cumprimento das metas de déficit acordadas com Bruxelas (6,3% do PIB em 2012, 4,5% em 2013 e 2,8% em 2014).
A Espanha, quarta economia da UE, encontra-se sob uma intensa pressão dos mercados e de uma parte de seus sócios europeus para pedir um resgate global, em um contexto de recessão, asfixia do setor financeiro e um desemprego que afeta um quarto da população ativa.
O governo ainda não se decidiu sobre o assunto e negocia as condições. Almunia destacou que no caso de as autoridades espanholas pedirem a ajuda financeira a seus sócios da Zona Euro, não haverá novas exigências, mais sim um "calendário preciso" para cumprir com as recomendações acordadas em julho com Bruxelas.
Pedir ou não pedir o resgate?
Almunia admitiu que o dilema enfrentado pela Espanha "é difícil", pois o país carregaria o estigma de ter sido resgatado, assim como Irlanda, Portugal e Grécia. Contudo, disse, ambas as possibilidades tem seus prós e contras.
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que tomará sua decisão depois de conhecer os resultados das análises das auditoras independentes sobre o setor financeiro. A Zona Euro já concedeu ao país um crédito de até 100 bilhões de euros para sanear seu setor financeiro.
"Não se trata de uma decisão em branco e preto, ou completamente positiva ou completamente negativa", disse à AFP.
Ao pedir formalmente a ajuda, os interessados deverão firmar um novo memorando de entendimento (acordo), no qual são recolhidas as condições e exigências.
Os investidores já assumem que a Espanha fará finalmente uso do programa de compra ilimitada de dívida anunciado pelo Banco Central Europeu (BCE) para apoiar aos países mais frágeis da Zona Euro.
A questão é saber até quando a Espanha poderá sobreviver sem um resgate fiscal, levando em conta que a política orçamentária do governo está em um momento crítico, sob advertências de que cumprirá com segurança sua meta de déficit público para 2012 devido à recessão e a má situação financeira de suas comunidades autônomas.
Justamente nestes dias, um tema de grande preocupação da agenda da União Europeia tem sido a tensão entre o governo conservador espanhol e algumas regiões, em particular a Catalunha, que derivou em sérias reivindicações separatistas.
"Quando se observam tensões em um Estado membro, seja qual for, é óbvio que a Comissão se preocupa porque compartilha dos problemas e sensações dos europeus", disse Almunia.
De qualquer maneira, "são decisões que correspondem aos espanhóis e aos espanhóis das comunidades autônomas", afirmou.
Segundo Almunia, o tempo de decisões se aperta não só para a Espanha, mas para toda a Europa, ante a "profundidade" da crise da dívida.
Por isso mesmo, esse não é o momento de pensar no futuro da Europa, mas sim de tomar decisões concretas, disse. Para o vice-presidente da CE, "quando temos que dar respostas difíceis, sempre existe a tentação de dizer bom: vamos falar do futuro da Europa (...) Creio que o futuro da Europa não pode ser nunca um voo que nos desvie do que verdadeiramente temos que discutir, analisar e resolver através de decisões".
Em um momento no qual vários dirigentes europeus debatem o futuro e pedem "Mais Europa", envolvidos em um jogo de equilíbrio entre os países devedores e credores, Almunia crê que é preciso união de todos os "inquietos e angustiados que sofrem muito com esta crise de profundas consequências".
"Fico particularmente preocupado em convencer as sociedades grega, portuguesa, irlandesa ou mesmo espanhola - ou ainda de qualquer outro país - de que as recomendações que se dirigem desde a comissão ou desde outras instituições europeias são feitas pensando nos interesses deles próprios.
"Há um déficit que temos que cobrir e não será com debates abstratos, mas sim com uma política europeia mas inteligível e mais compreensível por parte dos cidadãos", disse.