Economia

Alfaiate do rei corta mais tecido com otimismo de banqueiros

Luis Sans está comprando mais cashmere em um momento em que a recuperação da Espanha reacende o desejo por tecidos finos

Luis Sans, dona da alfaiataria e loja de roupas Santa Eulalia, em Barcelona (Daniel Loewe via Bloomberg)

Luis Sans, dona da alfaiataria e loja de roupas Santa Eulalia, em Barcelona (Daniel Loewe via Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 16 de julho de 2014 às 23h39.

Madri - Luis Sans, que faz ternos sob medida para o ex-rei Juan Carlos e jaquetas para o presidente do Banco Santander, Emilio Botín, está comprando mais cashmere em um momento em que a recuperação da Espanha reacende o desejo dos banqueiros por tecidos finos.

“As expectativas das pessoas mudaram”, disse Sans, 48, cuja alfaiataria e loja de roupas Santa Eulalia -- não muito longe da Casa Batlló, obra de Antoni Gaudí que é ponto turístico de Barcelona -- foi fundada em 1843 e é de sua família há quatro gerações.

“Eles acham que este ano será melhor que o ano passado e isso estimula o gasto de quem tem dinheiro”.

À medida que a Espanha emerge de uma crise econômica de seis anos e do resgate bancário europeu de 41 bilhões de euros (US$ 56 bilhões), financistas e homens de negócios estão se sentindo mais à vontade para gastar dinheiro com produtos e serviços de luxo.

O acúmulo de pedidos por ternos e smokings feitos à mão é um sinal de confiança, entre os ricos, de que a recuperação econômica da Espanha está se consolidando, disse Gonzalo López Larráinzar, um alfaiate de Madri que cria peças de alto padrão, em entrevista.

“Nós passamos pela pior crise que eu já vi trabalhando aqui nos últimos 32 anos, mas agora parece realmente que chegamos ao fundo do poço”, disse López Larráinzar, em entrevista em seu ateliê, no centro de Madri, enfeitado com fotos autografadas de clientes como Juan Carlos e Simeão II, da Bulgária.

“Nossos clientes podem ter muito dinheiro, mas se eles não confiam em suas empresas ou na economia em geral, eles não virão comprar”.

López Larráinzar disse esperar que as vendas aumentem neste ano pela primeira vez desde 2010 à medida que os clientes, incluindo os principais banqueiros espanhóis, além de nobres e de membros de famílias reais europeias, comprarem ternos a partir de 2.000 euros.

As vendas caíram para menos da metade no ano passado, para cerca de 130 ternos, contra cerca de 300 antes do início da crise, seis anos atrás.

Início da crise

A partir de 2008 um colapso imobiliário desencadeou uma crise bancária que originou uma estagnação na Espanha, drenando mais de 400 bilhões de euros em crédito da economia e deixando um quarto dos espanhóis sem emprego.

A economia começou a se expandir novamente no terceiro trimestre do ano passado e agora a recuperação está ganhando força: o governo prevê um crescimento de 1,2 por cento neste ano e de 1,8 por cento em 2015.

As vendas do setor de varejo, que haviam caído 38 meses seguidos até agosto do ano passado, subiram a uma taxa anualizada de 0,8 por cento em maio, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas da Espanha.

Uma pesquisa de abril a respeito das condições de empréstimos, publicada pelo Banco da Espanha, mostrou que os bancos flexibilizaram os critérios para aprovação de empréstimos ao consumidor pela primeira vez desde o início de 2010.

Para a Santa Eulalia, localizada no exclusivo Passeig de Gràcia, em Barcelona, sua história continua sendo um chamariz: a loja tem cadeiras usadas em seu primeiro desfile de moda, em 1926, e o provador dos homens tem três espelhos que datam de 1940.

Os clientes dispostos a desembolsar 2.800 euros ou mais pelos ternos estão retornando, disse Sans. Ele espera que sua equipe de 15 membros produza 380 ternos sob medida neste ano e 400 no ano que vem, contra 368 em 2013.

Com esses preços os clientes podem ser exigentes. Considere Botín, do Santander, por exemplo. Botín, 79, prefere ternos azul-marinho ou em tons de carvão e encomendou jaquetas esportivas e calças na cor do banco, vermelho.

Botín certa vez enviou uma amostra de cor com antecedência simplesmente para que a Santa Eulalia pudesse chegar à tonalidade certa, disse Sans.

“Vestir um terno feito sob medida é uma espécie de vício -- você nunca vai querer voltar atrás”, disse Sans, que usa óculos de armação escura e veste ternos de algodão, linho ou lã de sua loja.

Ternos para cavalheiros

Embora os banqueiros continuem comprando ternos executivos azuis e cinzas que são sua marca registrada, os alfaiates artesanais de Madri e Barcelona enfrentam desafios mais de longo prazo, disse López Larráinzar.

As mudanças nos caprichos da moda e a tendência de que os espanhóis ricos se vistam mais informalmente são mais perigosas para empresas como a dele do que qualquer crise econômica, disse ele.

“Um terno clássico de um cavalheiro espanhol é muito sofisticado -- é algo que está entre a elegância de Savile Row e o estilo mais ousado de Milão”, disse ele. “Meu avô fabricava 4.000 por ano nos anos 1950 e 1960”.

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