Economia

Agro deve impulsionar crescimento do PIB no 1º trimestre; veja o que esperar

Economista consultados pela EXAME apontam que os indicadores de atividade econômica do país surpreenderam positivamente nos três primeiros meses do ano, o que mostra resiliência da economia brasileira.

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 29 de maio de 2025 às 16h58.

A economia brasileira deve apresentar um crescimento forte no primeiro semestre, com destaque para o resultado do agronegócio, segundo economistas e relatórios consultados pela EXAME. O dado será divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira, 30, às 9h.

As previsões apontam para uma alta entre 1,2% e 1,7% na comparação com o trimestre anterior. No quarto trimestre do ano passado, a economia desacelerou e fechou em 0,2%.

O consenso das análises é que os indicadores de atividade econômica do país surpreenderam positivamente nos três primeiros meses do ano, o que mostra resiliência da economia brasileira.

As estimativas apontam que, assim como em 2023 e 2024, o primeiro semestre será mais forte, com um segundo semestre em desaceleração. No último Boletim Focus, o mercado elevou a projeção para o PIB de 2025 para 2,14%. Na primeira estimativa do ano, a previsão era de 2,02%.

Em relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME), assinado por Alvaro Frasson, Arthur Mota, Lorena Laudares e Victor Amaral, a estimativa é para um "forte crescimento na margem" de 1,6% no trimestre e alta na comparação anual de 3,1%.

"O PIB deve confirmar a resiliência da economia no início do ano, apoiado pelo mercado de trabalho ainda resiliente", disse o documento.

Para Antonio Ricciardi, economista do banco Daycoval, o Brasil deve ter um crescimento de 1,7% no período, com aumento anual de 3,2%. Ricciardi aponta que grande parte do crescimento será de um avanço do agronegócio, que deve ter uma alta de 11%.

Para além do agro, o economista diz que os outros setores devem ter resultado forte. Para ele, boa parte será sustentado pelo consumo das famílias, que foi surpreendido, principalmente, por uma taxa de desemprego menor do que esperado.

Nesta quinta-feira, a taxa de desempregou registrou 6,6% no trimestre encerrado em abril, abaixo do esperado pelo mercado. O Caged, que registra os postos de trabalho com carteira assinada, teve em abril uma alta de 7,4%, com 257 mil empregos criados, resultado acima do estimado pelo mercado.

"Os dois últimos resultados do desemprego renovaram a mínima histórica da série com ajuste sazonal, mostrando a resiliência do mercado de trabalho. Uma surpresa positiva que mostra um dinamismo que não era esperado e que levou uma massa salarial mais forte", disse Ricciardi.

O relatório do Banco Pine, por sua vez, projeta para o primeiro trimestre crescimento de 1,7% em relação ao trimestre anterior e 3,3% na comparação anual. Os economistas Cristiano Oliveira, Pedro Batistella e Ana Paula Tavares estimam que o PIB agropecuário crescerá 14,3%, puxado por aumento de produção e produtividade. Para indústria e serviços, esperam alta de 0,1% e 1,4%, respectivamente. O consumo das famílias deve subir 0,8%, enquanto investimentos terão alta de 1,5%.

Para o segundo trimestre, o Banco Pine prevê crescimento de 0,5%, mas espera desempenho fraco no segundo semestre, impactado por condições financeiras apertadas e pela desaceleração dos setores mais sensíveis ao crédito. O banco mantém a estimativa de crescimento do PIB em 2,4% para 2025, com o agronegócio como principal motor da economia.

Juros elevados devem desacelerar economia no restante do ano

Eduardo Grübler, gestor de multimercados da Warren AMW, diz que “os resultados do primeiro trimestre devem superar as projeções iniciais, com destaque para o setor de serviços e mercado de trabalho fortes, além das exportações agrícolas impulsionadas pela safra recorde”.

Segundo Grübler, a inflação alta — com previsão do governo de cerca de 5% em 2025, acima da meta de 4,5% — justifica a manutenção dos juros elevados, o que deve desacelerar a economia ao longo do ano. O gestor destaca que “os números de emprego e renda continuarão crescendo, porém, em ritmo mais lento”.

Com projeção de crescimento de 1,2% no 1º trimestre, Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, afirma que o cenário macroeconômico sinaliza desaceleração no segundo semestre, influenciada pelo aperto no crédito e inflação elevada. A economista diz que a alta da Selic, que permanece em 14,75%, limita investimentos e reduz o dinamismo da economia.

“A política monetária mais restritiva já impacta concessões de crédito, e a sensação térmica do PIB pode ser menor que os números, devido à forte dependência do agro da demanda externa e ao sentimento pessimista de famílias e empresas”, afirma Vitória.

A economista diz ainda que o crescimento do PIB acima do potencial, como o previsto para o primeiro trimestre, pressiona o Banco Central e justifica a manutenção das taxas de juros elevadas.

"Isso reforça a necessidade de um planejamento de longo prazo voltado a um crescimento mais sustentável, com foco maior em investimento, em contraste com o atual modelo baseado em fatores atípicos como super safra e consumo impulsionado por crédito e transferências de renda", diz.

O que é o PIB e como ele é calculado?

PIB (sigla para Produto Interno Bruto) consiste na soma de todos os bens e serviços que foram produzidos em um território ao longo de um período. Para o cálculo do PIB, considera-se o resultado na moeda local do país.

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