Economia

Agricultura vira salva-vidas da economia brasileira

No primeiro trimestre, o PIB do país avançou 1% em relação ao anterior, graças a uma alta de 13,4% do setor agropecuário

Agricultura: a alta de 2016 foi a mais importante registrada pelo setor em 20 anos (Mario Tama/Getty Images)

Agricultura: a alta de 2016 foi a mais importante registrada pelo setor em 20 anos (Mario Tama/Getty Images)

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AFP

Publicado em 19 de julho de 2017 às 12h40.

O setor agropecuário sustentou a alta do PIB brasileiro entre janeiro e março de 2017, o primeiro avanço após oito trimestres de baixas, mas analistas questionam se este papel de locomotiva é sustentável ou mesmo desejável.

No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil avançou 1% em relação ao anterior, graças a uma alta de 13,4% do setor agropecuário, em comparação ao modesto avanço de 1% da indústria e um crescimento nulo no setor de serviços.

Trata-se da alta mais importante registrada pelo setor em 20 anos, estimulada por uma "super colheita" de cereais e oleaginosos, que, neste ano, deve ser 27% superior à de 2016.

"A agricultura virou a condutora da economia brasileira após dois anos difíceis, por causa das condições climáticas ruins", explica Sylvain Bellefontaine, economista do BNP Paribas. Contudo, "um trimestre não representa uma tendência. É um resultado excepcional".

"Mesmo se tratando de um grande fornecedor de atividade, sobretudo para a indústria, em termos de participação, o setor agropecuário não pesa demais para ser determinante na saída da crise. Ele não pode ser a locomotiva da recuperação", prevê Amanda Tavares, economista do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o IBGE, em 2016, a agropecuária representou 5,5% do PIB brasileiro, contra 21,2% da indústria e 73,3% do setor terciário. Desde 2000, sua cota fica em torno de 5% do PIB, à exceção de 2003, quando chegou a 7,2%.

Boom de exportações...

Ainda assim, a agropecuária representa o primeiro lugar das exportações brasileiras.

Nos últimos 16 anos, de acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o país quadruplicou suas exportações de produtos agropecuários e e agroalimentares, de 20 bilhões de dólares em 2000 a 85 bilhões em 2016. O país se tornou o maior exportador mundial de café, aviários e açúcar e o segundo maior exportador de soja e um dos dois principais de carne bovina.

A participação de matérias-primas agrícolas em exportações, que era de 22,8% em 2000, não ficou abaixo dos 40% desde 2009. Em 2016, ela chegou a 42,7%, segundo dados do MDIC.

"O setor primário é fundamental para o país a curto prazo, porque ele puxa as exportações, dentro de um contexto internacional favorável ao Brasil, com bom desempenho da Europa e dos Estados Unidos, uma recuperação dos países emergentes e uma previsão de aceleração das trocas comerciais", explicou Sylvain Bellefontaine.

A China, grande consumidora de produtos agrícolas, se tornou o principal parceiro comercial do Brasil desde 2009.

"Em 2016, o Brasil exportou 35,9 bilhões de dólares para a China, 44% disso vindo da soja", apontou Heloisa Lee Burnquist, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).

A oleaginosa é um dos principais produtos exportados do país - representa 10,4% do total em 2016.

...com infraestrutura precária

A longo prazo, os obstáculos de infraestrutura freiam o dinamismo do setor. A dependência de rodovias congestionadas ou em mau estado de conservação encarecem a produção.

Por outro lado, o fato de o governo e a bancada ruralista privilegiarem muito o agronegócio, essa volta à primarização da economia é arriscada, segundo alguns economistas.

"O setor se desenvolveu sobretudo pelo impulso da demanda exterior, o que favoreceu a expansão de monoculturas intensivistas em grande parte destinadas à exportação e, portando, dependentes da situação econômica dos nossos parceiros comerciais", alerta Mauro Rochlin, professor de Economia na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro.

"Para efetivamente sair da crise, o Brasil deve investir em sua indústria, cuja competitividade piorou nos últimos anos, bem como nos setores de ponta", concluiu.

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