Economia

Agricultores de Mato Grosso avaliam plantar safrinha de soja

Produtores planejam plantar uma segunda safra de soja nesta temporada, em substituição à chamada safrinha de milho


	Soja:  plantio de uma segunda safra sempre foi um diferencial competitivo de regiões como o Centro-Oeste brasileiro e o Paraná
 (SAULO MAZZONI)

Soja:  plantio de uma segunda safra sempre foi um diferencial competitivo de regiões como o Centro-Oeste brasileiro e o Paraná (SAULO MAZZONI)

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Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2013 às 13h38.

São Paulo - Produtores de Mato Grosso, Estado onde mais se colhe grãos no país, planejam plantar uma segunda safra de soja nesta temporada, em substituição à chamada safrinha de milho, numa tentativa de evitar os baixos preços sinalizados para o cereal.

A extensão das lavouras que serão plantadas com essa prática arriscada, porém, ainda é uma incógnita.

"Não sei ainda a área, mas a soja segunda safra é uma realidade", disse o agricultor Laércio Lenz, presidente do Sindicato Rural de Sorriso, importante município produtor na região norte de Mato Grosso.

O plantio de uma segunda safra sempre foi um diferencial competitivo de regiões como o Centro-Oeste brasileiro e o Paraná. O clima e as tecnologias existentes permitem que uma mesma área seja cultivada duas vezes na mesma temporada.

Usualmente em Mato Grosso, a chamada "safrinha" tem sido dominada pelo milho, o que ajudou o Brasil a praticamente duplicar a produção do cereal nos últimos dez anos.

Desde julho deste ano, no entanto, as cotações do milho despencaram 40 por cento no mercado internacional, pressionadas por grandes safras nos Estados Unidos e no Brasil. Os preços ficam ainda mais depreciados em regiões como o norte de Mato Grosso, distante dos portos e com logística deficitária. A soja, ao contrário, não caiu tanto e continua rentável.

Apesar do incentivo econômico para trocar o milho pela soja na próxima safrinha, produtores terão que ponderar enormes riscos sanitários, alertam especialistas.

"A lista com os fatores negativos agronomicamente não cabem numa folha de caderno", disse à Reuters o diretor técnico da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja MT), Nery Ribas.


A falta de rotação de culturas pode perpetuar a presença de fungos como o causador da ferrugem asiática e as populações de vermes como os nematóides e de lagartas, caso da Helicoverpa armigera, uma das pragas mais temidas nesta safra.

"Se o agricultor fizer safrinha, exagerar, e alguma coisa sair do controle, está prejudicando sua própria próxima safra", comentou Ribas.

Custos

O diretor da consultoria Clarivi, Leonardo Sologuren, que passou os últimos dias percorrendo áreas produtoras de Mato Grosso, lembra que o plantio de uma segunda safra de soja poderia trazer uma economia inicial para os produtores.

Seria necessário, por exemplo, um baixo investimento em fertilizantes --porque a terra já foi preparada para a primeira safra. Além disso, o produtor não compraria sementes, plantando grãos colhidos na primeira safra.

"Cai a produtividade, para cerca de 40 sacas por hectare, mas o custo também cai", disse Sologuren, o que ficaria abaixo das 50 sacas de produtividade média registrada em Mato Grosso.

Uma segunda safra de soja pode perder produtividade devido ao regime de chuvas menos favorável e uma menor incidência de sol.


Por outro lado, as aplicações de inseticidas e fungicidas tendem a aumentar bastante em uma segunda safra de soja. "Se fizer a conta, pode ficar inviável. Tem que ser muito consciente", afirmou Ribas, da Aprosoja MT.

Área plantada

O norte de Mato Grosso é apontado como a região com maiores chances de ver uma maior safrinha de soja. Por lá, o preço do milho está atualmente abaixo dos custos de produção --impactado pelo valor do frete até os portos.

"Tenho ouvido diariamente isso aí", disse Ribas, da Aprosoja MT, referindo-se às conversas de produtores que podem investir numa segunda safra de soja.

Nenhuma entidade, no entanto, tem ainda uma estimativa sobre a área a ser plantada com a segunda safra de soja.

Ribas e Sologuren relatam ter ouvido estimativas no mercado mato-grossense de cerca de 1 milhão de hectares, contra 8,3 milhões na primeira safra.

No entanto, todos os especialistas ouvidos pela Reuters disseram que a área seria grande demais e que ainda é impossível fazer estimativas.


A decisão dos agricultores será tomada entre o fim de dezembro e janeiro, mais perto da colheita, e levará em conta os preços do milho naquele momento.

"O milho tem uma história que não leva apenas em consideração os fatores econômicos... Acreditamos que no fechamento do prazo de plantio, o milho será a primeira opção", avaliou o analista Marcos Rubin, da consultoria Agroconsult, em entrevista ao Thomson Reuters Global Agriculture Forum.

Na última temporada, a safrinha de soja foi insignificante em Mato Grosso, lembraram os especialistas, porque o milho no Brasil tinha preços atrativos, após uma quebra de safra nos EUA.

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