Economia

Agricultores argentinos retêm US$9,7 bi em estoques de soja

Produtores estão liberando apenas o suficiente no mercado para pagar impostos, custos operacionais sensíveis à inflação e empréstimos bancários


	Colheita de soja em uma fazenda próxima de Salto, na Argentina
 (Diego Giudice/Bloomberg News)

Colheita de soja em uma fazenda próxima de Salto, na Argentina (Diego Giudice/Bloomberg News)

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Da Redação

Publicado em 12 de setembro de 2014 às 16h47.

Buenos Aires - Agricultores argentinos estão retendo 21,5 milhões de toneladas de soja colhidas nesta temporada, de acordo com dados do governo, com preços baixos no mercado internacional e incertezas financeiras no país levando-os a segurar um percentual maior do grão na comparação com um ano atrás.

Os produtores estão vendendo da "mão para a boca", nas palavras de um executivo do setor de exportação de grãos, liberando apenas o suficiente no mercado para pagar impostos, custos operacionais sensíveis à inflação e empréstimos bancários, que se tornaram mais caros desde o default da dívida realizado pela Argentina em julho.

A produção global de soja em 2013/14 de soja foi de 283,1 milhões de toneladas, sendo que 7,5 por cento deste volume estão retidos em fazendas argentinas. Tomando-se como base o preço FOB (livre a bordo do navio), as reservas detidas valem 9,7 bilhões de dólares.

Se o volume chegasse ao mercado, ajudaria a pressionar ainda mais os preços internacionais, que já operam no menor patamar em quatro anos.

A Argentina é o terceiro maior exportador global de soja e o principal fornecedor de farelo de soja.

Um abismo entre o câmbio no mercado negro e a taxa oficial tem aumentado as expectativas de uma forte desvalorização antes do final do ano.

A moeda está sob pressão da inflação alta, do encolhimento da economia e do fracasso do governo em fazer o pagamento de obrigações de títulos da dívida em julho.

A presidente Cristina Kirchner descartou a possibilidade de uma intervenção pesada no mercado de câmbio, mas não conseguiu convencer os mercados locais, o que significa que os produtores deverão continuar retendo soja para usar como uma poupança mais segura que o peso.

Produtores colheram 53 milhões de toneladas de soja em 2013/14, 9,5 por cento mais que em 2012/13, de acordo com o Ministério da Agricultura. A soja é geralmente plantada entre setembro e dezembro na Argentina, com a colheita entre abril e junho.

Os produtores venderam 31,5 milhões de toneladas de sua colheita 2013/14 de soja até o momento, ou 57 por cento da colheita, mostraram dados do ministério.

No ano passado, nesta época produtores tinham vendido aproximadamente o mesmo volume, que correspondia a 67 por cento da safra 2012/13, que foi menor.

"Alguém que não precisa de dinheiro agora vai adiar a venda, considerando o contexto financeiro instável e a probabilidade de uma desvalorização do peso", disse Leandro Pierbattisti, analista da associação de armazenagem de grãos da Argentina.

A tendência para a acumulação é clara quando comparada com a safra 2009/10, quando 41,5 milhões de toneladas de soja haviam sido vendidas até este momento na temporada, ou 75,5 por cento.

Santiago del Solar, que administra 15 mil hectares na importante província agrícola de Buenos Aires, disse que seus agricultores vizinhos iriam segurar ainda mais estoques se não fosse uma taxa de inflação que economistas privados estimam em 40 por cento este ano.

Ele disse que já vendeu 60 por cento de sua safra 2013/14, além de outros 20 por cento no mercado de futuros.

"Por causa da inflação você tem que vender 20 ou 30 por cento a mais de soja, a fim de pagar as mesmas contas que você tinha no ano passado", disse ele.

"Agora custa de 20 a 30 por cento a mais do que um ano atrás para comprar a mesma quantidade de combustível, fertilizantes e outros insumos."

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