Dinheiro: Em vez de carregar pilhas de notas, é mais prático para os venezuelanos realizarem transações com notas de dólares (Mario Tama/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 7 de dezembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 7 de dezembro de 2019 às 09h00.
O dólar americano ampliou seu domínio na Venezuela com o maior uso da moeda por residentes, até para compras menores.
Atualmente, o dólar físico responde por mais da metade de todas as transações de varejo, já que a quantidade em circulação aumentou para US$ 2,7 bilhões, segundo dados da empresa de pesquisa Ecoanalitica, com sede em Caracas. O valor é o triplo da quantia total de notas de bolívares, combinada com o valor em moeda local depositado em contas correntes e de poupança, segundo os dados.
O dólar passou a dominar a economia da Venezuela após anos de desvalorização e hiperinflação, que corroeram o valor do bolívar a um nível que paira um pouco acima do zero, e em meio à escassez de notas em moeda local. Em vez de se darem ao trabalho de carregar pilhas de notas, é mais prático para os venezuelanos realizarem transações com notas de dólares transportadas enviadas ao país em remessas ou retiradas em casas de câmbio nas fronteiras da Colômbia e Brasil.
Enquanto até recentemente era ilegal realizar operações com as verdinhas, essas restrições quase evaporaram na prática. Até o presidente Nicolás Maduro, que geralmente se esforça ao máximo para manter controle sobre a economia, aceitou a transição diante de uma crise econômica que causou a emigração em massa em meio à crescente pobreza. As coisas estão tão ruins e o bolívar tão fraco que a Venezuela teve dificuldade para imprimir notas físicas suficientes para acompanhar a desvalorização.
“Esse processo que eles chamam de dolarização pode ajudar a recuperação do país, a expansão das forças produtivas no país e a economia”, disse Maduro em entrevista na TV no mês passado. “Graças a Deus que existe.”
A dependência da Venezuela de moeda estrangeira também vai além dos dólares. Em meio às sanções que limitam o acesso do país ao sistema financeiro global, a petroleira estatal PDVSA costuma realizar transações em yuanes, e o banco central recentemente estudou a possibilidade de usar criptomoedas como Bitcoin ou Ether.
(Com a colaboração de Fabiola Zerpa).