Economia

Agenda de privatizações de Mattar ganha o holofote após reforma

Conhecido por integrar um seleto grupo próximo a Guedes, o ex-CEO da Localiza tem planos ambiciosos para reduzir o tamanho do estado

Salim Mattar: secretário de desestatização de Bolsonaro se autodenomina um economista “mais à direita dos liberais” (Andre Coelho/Bloomberg)

Salim Mattar: secretário de desestatização de Bolsonaro se autodenomina um economista “mais à direita dos liberais” (Andre Coelho/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 27 de julho de 2019 às 08h00.

Última atualização em 27 de julho de 2019 às 08h00.

Os planos do secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, devem ganhar força nos próximos meses. Com o avanço da reforma da Previdência no Congresso, o projeto de privatizações do governo ganha espaço na lista de prioridades. Conhecido por integrar um seleto grupo próximo ao ministro Paulo Guedes, o ex-CEO da Localiza tem planos ambiciosos para reduzir o tamanho do estado e vender mais de 100 estatais.

Mattar se autodenomina um economista “mais à direita dos liberais” e foi responsável por um ganho de 2.400% no preço das ações da Localiza, a maior empresa de aluguel de carros da América Latina, durante seu período como principal executivo da companhia.

Agora, ao lado de Paulo Guedes, ele lidera de um dos maiores esforços de privatização da história do Brasil e, se depender dele, até mesmo as joias da coroa - Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica - poderiam ser vendidas.

Consciente de que parlamentares não compartilham de sua visão, ele prepara um plano para colocar em prática sua agenda pró-mercado. É desse esforço que o presidente Jair Bolsonaro precisa para entregar uma de suas promessas de campanha: vender ativos para estimular investimentos e melhorar as contas públicas.

Mattar, um bilionário de 70 anos que viaja de jatinho particular mesmo quando a trabalho do governo, é visto como um empresário bem sucedido e o nome certo para o atual cargo, apesar da falta de experiência no setor público.

“Mattar tem o perfil perfeito para o cargo em que está”, disse Marcel Zambello, analista da Eleven Financial Research. “Ele foi um pioneiro. Quando você fala sobre a Localiza com os investidores, seus olhos brilham porque trouxe maiores retornos do que os concorrentes.”

Burocracias

As expectativas para os planos de Mattar são elevadas. Neste ano, a Petrobras vendeu cerca de R$ 46 bilhões em ativos para o setor privado, incluindo o gasoduto TAG e o controle da BR Distribuidora. Outras empresas estatais e até mesmo o próprio governo também contribuíram com o esforço vendendo participações minoritárias em outras empresas, totalizando cerca de R$ 22 bilhões. A privatização da Eletrobras ainda está pendente no Congresso.

“Um dos objetivos que temos é reduzir o tamanho do estado. O estado brasileiro é gigantesco, obeso, lento, burocrático e oneroso para o pagador de impostos e inferniza a vida do cidadão e das empresas”, disse Mattar à Bloomberg.

Ao mesmo tempo, a confiança dos empresários e os investimentos seguem fracos, o que contribui para a baixa expectativa com o crescimento econômico.

Muito acostumado ao trabalho no setor privado, Mattar tem sido criticado por sua falta de paciência e compreensão dos processos burocráticos da administração pública, de acordo com um membro do ministério que pediu para não ser identificado.

Executivos que fazem a transição do setor privado para o governo têm dificuldade em se adaptar a um ritmo de trabalho que muitas vezes é mais lento e deve seguir um rito político, de acordo com Rafael Cortez, sócio da consultoria Tendências.

“O Mattar vem avançando mais devagar por causa desse choque e também devido aos sinais mistos de Bolsonaro e seu círculo político”, disse Cortez.

Mattar não quis fazer comentários. Em um recente evento em São Paulo, ele explicou como lida com o ambiente difícil de Brasília: meditando todas as manhãs.

Família de imigrantes

Neto de imigrantes libaneses, o sonho de infância de Mattar era ser pianista. Mas, após pressão do pai, mudou o rumo de sua vida profissional e passou a estudar administração de empresas. Em 1973, fundou a Localiza, em Belo Horizonte.

Os caminhos de Mattar e Paulo Guedes se cruzaram pela primeira vez há 20 anos, quando o atual ministro integrou o conselho de administração da Localiza. Essa ligação levou Mattar a participar da campanha de Jair Bolsonaro no ano passado, já que seu candidato preferido, João Amoedo, do Novo, não decolou nas pesquisas.

Para facilitar as privatizações, Mattar argumenta que o governo deve primeiro limpar a casa para tornar as empresas públicas mais atraentes aos investidores, o que geralmente implica em demissões e revisão de contratos existentes.

Em entrevistas recentes, ele reconheceu que a maior parte das privatizações só ocorrerá em 2021. Por enquanto, o governo Bolsonaro acabou absorvido pelos esforços para aprovar a reforma da Previdência no Congresso, prioridade que está ofuscando outras propostas de política econômica.

Para Victor Mizusaki, analista do Bradesco BBI, o secretário tem a personalidade e o histórico profissional necessários para superar os desafios. Ele citou que Mattar foi inovador ao atrair investimentos de private equity e abrir o capital da Localiza, a primeira empresa do setor a estrear na bolsa. “Mattar tem a capacidade de executar, e ele é um solucionador de problemas”, disse Mizusaki. “Ele é o homem certo para o cargo.”

(Com a colaboração de Murilo Fagundes, Felipe Marques e Vinícius Andrade).

Acompanhe tudo sobre:BloombergBurocraciaGoverno BolsonaroPrivatizaçãoSalim Mattar

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE