Da esquerda para a direita: Nhlanhla Musa Nene, David Van Rooyen e Pravin Gordhan (Waldo Swiegers/Bloomberg)
João Pedro Caleiro
Publicado em 14 de dezembro de 2015 às 15h18.
São Paulo - Nos 6 meses entre outubro de 1992 e março de 1993, o Brasil teve 4 ministros da Fazenda diferentes (Marcílio Moreira, Gustavo Krause, Paulo Haddad e Eliseu Resende).
Na semana que passou, foi a vez da África do Sul trocar de ministro duas vezes no espaço de dias. Primeiro veio a demissão na quarta-feira de Nhlanhla Musa Nene, primeiro negro no cargo, onde estava desde maio de 2014.
O movimento surpreendeu todo mundo e foi criticado dentro e fora do país. O mercado reagiu derrubando o rand sul-africano para o pior nível da sua história e tirando quase US$ 11 bilhões do país em 2 dias.
O presidente Jacob Zuma não deu detalhes, mas tudo indica que Nene caiu por resistir a aumentos maiores para funcionários públicos e recusar a aprovar fundos para novas plantas nucleares e aviões para a aérea estatal e para o uso pessoal de Zuma.
Ele foi trocado pelo pouco conhecido David Van Rooyen, assessor legislativo com boas conexões partidárias e ex-prefeito de uma pequena cidade. Na quinta-feira, ele admitiu ter à sua frente uma "tarefa colossal". No domingo, foi transferido para outro cargo.
Seu substituto é Pravin Gordhan, um bem avaliado ministro das Finanças entre 2009 e 2014 e que já chegou dizendo que o teto de gastos do governo é "sacrossanto".
Por um lado, o recuo acalmou os mercados. Por outro, mostra a fraqueza e falta de rumo do governo de Zuma, que chega ao seu último ano de mandato com pouco apoio dentro do partido e popularidade em baixa recorde.
"Críticos diriam que ter um ministro de Finanças servindo por apenas dois dias não pega bem para a reputação da África do Sul. Investidores internacionais provavelmente estão pensando: por que é que o presidente não fez uma decisão mais ponderada da primeira vez?", disse Mohammed Nalla, líder de pesquisa no Nedbank Capital, para a Reuters.
A turbulência política é ao mesmo tempo causa e consequência do estado problemático da economia sul-africana, que assim como a brasileira sofreu um duro golpe com a queda do preço internacional das commodities que exporta, como ouro e platina.
Recentemente, a agência Standard & Poor's colocou a nota de crédito da África do Sul em perspectiva negativa enquanto a Fitch rebaixava o país para apenas um degrau acima do grau de investimento.
Ela também revisou a perspectiva de crescimento do país de 2,1% para 1,4% em 2015 e de 2,3% para 1,7% em 2016. O desemprego passa dos 25% e a confiança industrial e do consumidor têm atingido recordes negativos.