Espanha: segundo García-Legaz, as dificuldades surgidas no Mercosul pela delicada situação política da Venezuela não devem afetar o curso das conversas (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2016 às 16h29.
Brasília - A Espanha está convencida que o acordo comercial que a União Europeia (UE) negocia com o Mercosul pode ser alcançado no final de 2017, segundo disse nesta quinta-feira à Agência Efe o secretário de Estado de Comércio espanhol interino, Jaime García-Legaz.
"Se houver vontade política, isso é possível", afirmou o funcionário espanhol em Brasília, onde hoje se reuniu com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, para analisar o estado dessas negociações, retomadas este ano depois de mais uma década de tentativas infrutíferas.
García-Legaz admitiu que, até o momento, as propostas apresentadas por ambos blocos não convencem, mas ressaltou que neste momento, ao contrário de outros, há uma "vontade política" de um e outro lado que deverá ajudar a resolver as eventuais diferenças.
"A oferta inicial da União Europeia é pobre e insuficiente", enquanto a apresentada pelo Mercosul "também deverá melhorar", considerou o secretário de Estado de Comércio espanhol, que indicou que a negociação partiu de "níveis muito baixos", que podem ser elevados à medida que avance a discussão.
Segundo García-Legaz, as dificuldades surgidas no Mercosul pela delicada situação política da Venezuela, que apesar de ser membro do bloco não participa das negociações com a UE, não devem afetar o curso das conversas.
"A União Europeia decidiu negociar com o Mercosul além do barulho causado pela situação da Venezuela", disse o funcionário espanhol, que apontou que nem o bloco comunitário nem o Mercosul "se podem dar ao luxo que isso afete a negociação".
García-Legaz considerou que hoje existe uma "harmonia" maior entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os quatro fundadores do bloco comprometidos na negociação com a UE.
Essa harmonia, em sua opinião, foi atingida em parte depois das mudanças políticas que se registraram na Argentina, com a chegada ao poder de Mauricio Macri, e no Brasil, após o processo que levou à cassação da agora ex-presidente Dilma Rousseff, substituída por Michel Temer desde agosto.
No entanto, reconheceu que "sempre pode haver desculpas" para adiar um acordo entre ambos blocos, as quais podem surgir tanto no Mercosul como na própria UE, na qual a França ainda se mostra reticente em relação a essa negociação.
Mesmo assim, sustentou que na União Europeia "existe um bloco muito amplo favorável ao acordo com o Mercosul", liderado pela Espanha e integrado por, entre outros países, Portugal, Itália e a própria Alemanha.
Justamente à falta de um acordo dessa natureza García-Legaz atribuiu, em parte, os números do comércio bilateral entre Espanha e Brasil, que em 2014 alcançaram picos próximos a US$ 7 bilhões e no ano passado caíram para cerca de US$ 5 bilhões.
O funcionário espanhol indicou que esses montantes não correspondem com o tamanho e importância das economias de Espanha e Brasil e muito menos com os fortes vínculos que existem entre ambos países.
No entanto, afirmou que "há tarifas altas" e ressaltou que mesmo assim "há um comércio que se produz apesar dessas barreiras e que poderia melhorar muitíssimo" se fosse alcançado um acordo entre a UE e o Mercosul.
"Se as barreiras desaparecerem, veremos uma explosão do comércio como já a houve com o México e agora com o Peru", uma vez que negociaram acordos comerciais com o bloco comunitário europeu.