G20: ministros agrícolas de 24 países e 11 organismos internacionais deliberam na sexta-feira e no sábado no Palácio San Martín (Martin Acosta/Reuters)
AFP
Publicado em 27 de julho de 2018 às 18h18.
A remoção de entraves agrícolas ao acordo de livre comércio, negociado há quase 20 anos, por UE e Mercosul se impôs nesta sexta-feira (27) nas reuniões paralelas à Cúpula da Agricultura do G20.
"Estamos avançando nas negociações", disse nesta sexta à AFP um porta-voz ministerial argentino. Foi fruto de um encontro entre o chefe da pasta de Agroindústria, Miguel Etchevehere, e o comissário de Agricultura da União Europeia (UE), Phil Hogan.
"Há forte interesse da Argentina em concluir o tratado de livre comércio em breve", acrescentou a fonte.
O reverso da moeda é que o caminho aparece semeado de obstáculos. Uma nova reunião entre os blocos será celebrada entre o fim de agosto e o começo de setembro em Montevidéu.
Na África do Sul, o governo argentino informou nesta sexta-feira que o presidente Mauricio Macri e Michel Temer reconheceram "as diferenças que ainda persistem dentro do bloco regional, entre elas no setor de automóveis e no de vinhos" para um acordo com a UE. Os dois chefes de Estado assistem à cúpula dos BRICS.
Antes de viajar para a capital argentina, o irlandês Hogan advertiu: "claramente, não estamos satisfeitos com os processos realizados até agora".
Uma alta fonte do Mercosul tinha relevado à AFP a decepção porque a UE não correspondeu no setor agrícola ao "esforço" sul-americano no comércio de automotores.
Outra pedra pareceu surgir do entendimento comercial alcançado na quarta-feira entre Donald Trump e o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, que segundo o presidente americano, incluiu maiores compras agrícolas ao seu país.
"O Mercosul compete com os Estados Unidos nos produtos primários que vende à UE, especialmente com soja e carne. Os europeus não vão querer nem poder comprar ambos. Será um ou outro", disse ao jornal La Nación o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro.
Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai são potenciais produtores e exportadores de alimentos e fazem frente a uma histórica cultura europeia de proteção de seus agricultores e do meio ambiente.
No G20 de Buenos Aires, ministros agrícolas de 24 países e 11 organismos internacionais deliberam na sexta-feira e no sábado no Palácio San Martín. A agenda inclui "o manejo integral e responsável dos solos, a perda e o desperdício de alimentos e o papel da tecnologia no agronegócio".
A presidência temporária argentina fixou os temas. Mas em reuniões bilaterais e nos corredores do palácio San Martín, falava-se das tensões mundiais no comércio. A UE e o Mercosul querem dobrar o fluxo comercial bilateral, que alcançou 80 bilhões de dólares em 2017. Mas não é simples.
Os delegados interromperam seus debates para visitar, como convidados, a Mostra Rural. Trata-se de uma feira para ver animais, cereais desenvolvidos a partir de sementes geneticamente modificadas e máquinas que parecem saídas de um filme de ficção científica - a Argentina "for export", apesar do dia frio, chuvoso e nublado.
Por um lado, os delegados da cúpula têm nas mãos o desafio de resolver um problema grave: como reverter a perda anual mundial de 10 milhões de hectares de cultivos.
Os países do G20 são atores-chave. Representam 60% do total de terras agrícolas e quase 80% do comércio mundial de alimentos e produtos agrícolas.