Mauricio Macri, presidente da Argentina REUTERS/Marcos Brindicci (Marcos Brindicci/Reuters)
Reuters
Publicado em 2 de setembro de 2018 às 16h46.
Buenos Aires - Enquanto a Argentina prepara seus planos de reduzir o déficit orçamentário para convencer investidores nervosos de que pode pagar suas dívidas, o presidente Mauricio Macri está sob crescente pressão para reverter uma de suas principais políticas: cortes nos impostos de exportações de produtos agrícolas.
O ministro da Economia, Nicolas Dujovne, prometeu anunciar na segunda-feira medidas para reduzir o déficit primário de 2019 - suas necessidades de financiamento antes do pagamento dos juros da dívida - num esforço para interromper a queda do peso, uma das moedas de pior performance no mundo neste ano.
A Argentina já concordou em reduzir seu déficit primário a 1,3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) sob um programa de 50 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em junho, gerando protestos de sindicatos. Agora, Dujovne prometeu mais cortes no déficit antes de viajar a Washington para negociar com o FMI a aceleração da ajuda.
O retorno das tarifas de exportação mais uma grande redução no número de ministérios estavam sob discussão durante negociações da crise lideradas por Macri neste domingo, segundo a mídia local.
O governo não detalhou sua nova meta de déficit primário ou que medidas espera tomar para estabilizar a moeda depois de uma desvalorização de 16 por cento na semana passada, mas investidores querem ações decisivas.
“O mercado provavelmente vai esperar um orçamento de 2019 que faça uma tentativa crível de eliminar o déficit primário”, disse Jeffrey Lamoreaux, analista senior na Fitch Solutions.
Ele disse que os mercados esperavam que Macri, que tomou posse em dezembro de 2015 depois de 12 anos de administrações de esquerda, implementasse uma combinação de tarifas de exportação para a agricultura com redução de subsídios e gastos sociais.
“O risco para Macri é que ele aliene um dos poucos setores que ainda dá apoio a ele”, disse Lamoreaux.
O lobby agrícola tem sido um pilar de apoio para Macri enquanto ele tenta impulsionar a competitividade da terceira maior economia da América Latina. O poderoso setor agrícola apoiou sua coalizão pró-mercado tanto nas eleições presidenciais de 2015 quanto nas eleições legislativas do ano passado.
O retorno das tarifas de exportações marcaria uma grande reviravolta. Macri retirou as taxas sobre milho e trigo logo depois de assumir. Ele também começou a reduzir gradualmente as taxas sobre soja e derivados, que estão no coração da disputa entre a ex-presidente populista Cristina Fernandez e o setor agrícola.
Conversas sobre medidas para taxar o milho e o trigo da Argentina apoiaram preços nos futuros internacionais de grãos na bolsa de Chicago na sexta-feira, disseram operadores. A Argentina é a terceira maior exportadora de soja e milho do mundo.
Dois ex-assessores econômicos do governo Macri sugeriram que tarifas de exportação seriam uma opção efetiva de curto prazo.
“Eu nunca acreditei nesta medida como uma opção permanece, mas isso é um incêndio”, disse Carlos Melconian, que chefiou o estatal Banco Nacion no primeiro ano do mandato de Macri, durante uma entrevista na televisão, referindo-se à queda do peso e crescentes preocupações sobre a habilidade da Argentina de pagar sua dívida.
Luciano Cohan, o ex-subsecretário para programação macroeconômica sob Macri, escreveu no Twitter que uma tarifa de exportação de 5 por cento sobre todos os produtos, não apenas os agrícolas, resultaria num ganho de 3,5 bilhões a 4 bilhões na arrecadação no próximo ano.
Um porta-voz para o Ministério da Agricultura da Argentina disse que ele não tinha informação sobre nenhum plano para taxar exportações. Um porta-voz do Ministério da Economia não respondeu ao pedido de comentário.