Economia

Acordo com Repsol abre caminho para Argentina em Vaca Muerta

País eliminou um grande obstáculo para atração de investimentos estrangeiros para suas gigantescas reservas não convencionais de petróleo


	Estação de gás da YPF: Argentina chegou a um acordo de compensação com o grupo espanhol Repsol sobre a expropriação da petrolífera YPF
 (Marcos Brindicci/Reuters)

Estação de gás da YPF: Argentina chegou a um acordo de compensação com o grupo espanhol Repsol sobre a expropriação da petrolífera YPF (Marcos Brindicci/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 26 de fevereiro de 2014 às 18h54.

Buenos Aires - A Argentina eliminou um grande obstáculo para a atração de investimentos estrangeiros para suas gigantescas reservas não convencionais de petróleo ao deixar a retórica nacionalista e chegar a um acordo de compensação com o grupo espanhol Repsol sobre a expropriação da petrolífera YPF.

No entanto, o país ainda tem trabalho a fazer, se quiser criar as condições necessárias para atrair os bilhões de dólares necessários para o desenvolvimento da reserva Vaca Muerta, na Patagônia, que pode abrigar um dos maiores depósitos de petróleo e gás do planeta.

A Argentina anunciou na terça-feira que concordou em pagar 5 bilhões de dólares em títulos do governo para encerrar uma enxurrada de ações judiciais iniciadas pela espanhola Repsol depois da nacionalização de sua fatia de 51 por cento na YPF, em maio de 2012.

"Esta era a primeira condição (para atrair grandes investimentos em Vaca Muerta), porque faz com que a tomada da YPF deixe de ser chamada de confisco e passe a ser chamada de expropriação", disse à Reuters o analista de energia Victor Bronstein, diretor do Centro de Estudos de Energia, Política e Sociedade.

"O mundo aceita que se reivindique uma empresa de petróleo, mas você tem que pagar", acrescentou.

O mau humor nos mercados pela recusa inicial de compensar a Repsol foi uma das razões que afastaram grandes investidores estrangeiros de Vaca Muerta. Além disso, a ameaça da Repsol de processar quem se associasse à YPF na região colocou um freio sobre potenciais empreendimentos conjuntos.

Mesmo assim, outros fatores ainda ameaçam o desenvolvimento da área, como os altos custos de um país com uma das mais altas taxas de inflação do mundo, um controle cambial que impede as empresas de remeter dividendos para o exterior, as restrições à importação, os problemas de logística e infraestrutura e a falta de uma economia de escala para os serviços de petróleo.

Resolver estes problemas pode ser demorado.

O governo, que vai entregar o poder em dezembro de 2015, está lutando para conter a inflação --que ameaça este ano ficar perto de 30 por cento-- e conseguir que a enfraquecida economia gere os dólares necessários para neutralizar restrições cambiais aplicadas com a intenção de parar a fuga de divisas.

A distorção faz com que os custos para o desenvolvimento de um poço em Vaca Muerta fiquem entre 8 milhões e 10 milhões de dólares, enquanto nos Estados Unidos uma perfuração semelhante custa entre 2 milhões e 3 milhões de dólares, de acordo com analistas.

O desenvolvimento das reservas não convencionais, onde os hidrocarbonetos estão presos em rochas no subsolo profundo, é mais caro do que o dos reservatórios convencionais.

"Na minha opinião, o acordo com a Repsol era uma condição necessária, mas não suficiente, para causar um 'boom' de investimentos", disse Jorge Lapeña, ex-secretário de Energia e atual presidente do Instituto de Energia General Mosconi.

"Isso, é necessário que o país tenha uma política de energia a longo prazo, que ele não tem", acrescentou.

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