Economia

A ’sarneyzação’ de Dilma Rousseff

Acordos fechados com o PMDB e Cunha podem garantir à presidente os votos necessários para barrar um impeachment, mas não aprovar medidas fiscais


	A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente José Sarney: Dilma repetiria José Sarney, mantendo o poder mas sem ter forças para governar de fato
 (Antonio Cruz/ABr)

A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente José Sarney: Dilma repetiria José Sarney, mantendo o poder mas sem ter forças para governar de fato (Antonio Cruz/ABr)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2015 às 20h48.

Acordos fechados com o PMDB e Eduardo Cunha podem garantir à presidente Dilma Rousseff os votos necessários para barrar um processo de impeachment, mas não para aprovar as medidas fiscais.

Dilma repetiria José Sarney, mantendo o poder mas sem ter forças para governar de fato.

Com isso, a economia correria o risco de sofrer deterioração adicional, com prolongamento da recessão, aprofundamento do déficit fiscal e aumento do desemprego.

A CPMF, que poderia dar um fôlego fiscal ao menos no curto prazo, exigiria 3/5 dos votos do Congresso. A mesma votação seria necessária para aprovar a reforma da Previdência, vista pelo mercado como a solução de longo prazo para o déficit. Mesmo Lula e FHC fracassaram nessas matérias.

Para Dilma, com impopularidade recorde e apoio no Congresso muito menor que seus antecessores, o desafio seria infinitamente maior.

Os analistas do mercado se mostram céticos quanto à capacidade de o governo cumprir as metas fiscais e salvar o Brasil de novos rebaixamentos de rating.

A presidente deve continuar caminhando sobre “gelo fino”, diz o economista Marco Caruso, do Banco Pine. Gastos obrigatórios como os da Previdência vêm crescendo continuamente acima do PIB nominal. Com a recessão comprimindo as receitas, será difícil evitar déficits fiscais em 2015 e 2016.

Para o “gelo fino” não rachar, seria necessário passar no Congresso as medidas do ajuste fiscal, sobretudo a CPMF, que só fechariam as contas por um ano.

Para ele, será nevitável atacar gastos obrigatórios, como os relacionados à vinculação de receitas, benefícios sociais e Previdência. “Aí só tem vespeiros”.

O governo passa por um processo de “sarneyzação”, tornou-se um “walking dead”, diz o economista, citando a série de TV americana e o ex-presidente que comandou um País sob crise permanente nos anos 80, ao explicar que, mesmo barrando o impeachment, Dilma deve seguir com baixa governabilidade.

A chance de uma recuperação do crescimento é pequena. Caruso prevê recessão de 3% este ano e 1% no ano que vem, com risco de evoluir para -2%.

Mesmo para os anos seguintes, 2017 e 2018, o PIB potencial não passa de 1% de crescimento, o que deve ser insuficiente para recuperar o mercado de trabalho, que sempre reage com atraso em relação às demais variáveis.

Para o economista, o desemprego deve chegar a 10% em algum momento de 2016 e seguirá em 2 dígitos no ano eleitoral de 2018.

Enquanto o governo não sai das cordas, a deterioração da economia prossegue, com o BC tendo de manter os juros altos para proteger a inflação dos efeitos tanto do real desvalorizado quanto do déficit fiscal.

Andre Muller, economista da Quest Investimentos, prevê números ainda mais negativos para o PIB, de -3,1% este ano e -1,8% no próximo.

Só o carregamento estatístico para o próximo ano, diz Muller, asseguraria nova recessão de -1,4%.

Ele reconhece que as contas correntes estão melhorando com o real fraco, mas observa que o peso do setor externo na economia brasileira é relativamente pequeno.

Sem uma resolução política que diminua as incertezas fiscais, diz o economista, as expectativas para o crescimento devem continuar piorando, podendo em algum momento contaminar também as projeções para 2017.

Ao rebaixar o Brasil ontem para BBB-, última escala dentro do grau de investimento na régua da agência, a Fitch disse que a dívida bruta do Brasil pode chegar perto de 70% do PIB em 2016, “significativamente acima” da mediana de 43% dos países com nota BBB, e continuar subindo.

A agência observa que a recessão no País tem sido mais profunda do que o esperado anteriormente. Além de sofrer com o cenário externo adverso, o Brasil também enfrenta dificuldades para implementar medidas de ajuste.

A Fitch dá uma lista de fatores que poderiam estabilizar o rating brasileiro, incluindo uma consolidação fiscal, melhora do ambiente de investimentos e crescimento, além de um quadro político que aumente a credibilidade da política econômica e das perspectivas de reformas.

Porém, a agência colocou a perspectiva da nota brasileira como negativa. Isso sugere que estes desenvolvimentos positivos não são a alternativa mais provável.

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffEduardo CunhaJosé SarneyMDB – Movimento Democrático BrasileiroPartidos políticosPersonalidadesPolíticaPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

Governo avalia mudança na regra de reajuste do salário mínimo em pacote de revisão de gastos

Haddad diz estar pronto para anunciar medidas de corte de gastos e decisão depende de Lula

Pagamento do 13º salário deve injetar R$ 321,4 bi na economia do país este ano, estima Dieese

Haddad se reúne hoje com Lira para discutir pacote de corte de gastos