Economia

Força do iuane revela uma retomada na economia chinesa

Em 11 de setembro, o valor da moeda chinesa atingiu seu nível mais alto em quase um ano e meio

China ainda enfrenta uma grande dívida e um crescimento lento

China ainda enfrenta uma grande dívida e um crescimento lento

EH

EXAME Hoje

Publicado em 28 de setembro de 2017 às 11h58.

Última atualização em 28 de setembro de 2017 às 15h11.

Pequim – Para quem se preocupa com o estado da economia mundial, a China tem sido uma das principais razões para perder o sono.

Seu sistema financeiro trabalha sob uma montanha de empréstimos, enquanto um crescimento mais fraco levou muitos chineses e empresas a transferir seu dinheiro para o exterior nos últimos anos.

A China ainda enfrenta uma grande dívida e um crescimento lento. Mas mesmo alguns pessimistas dizem que o país encontrou maneiras de controlar seus problemas – pelo menos por enquanto.

Essa perspectiva de melhoria está, em parte, refletida na moeda chinesa. O iuane, também conhecido como o renminbi, aumentou de valor nas últimas semanas, ajudado pela crescente confiança nas perspectivas econômicas do país e por um impulso político para a estabilidade.

Em 11 de setembro, o valor da moeda atingiu seu nível mais alto em quase um ano e meio. Enquanto a China mantém um firme controle sobre seu valor, o interesse dos investidores no iuane ajuda a fortalecê-lo.

Outros sinais mostram que a China está estabilizando seu curso após uma quebra do mercado de ações e uma desvalorização inesperada da moeda há dois anos, que abalou o mundo financeiro e trouxe problemas em longo prazo para o país. Seus dados econômicos sugerem que o crescimento continuará em um ritmo estável, se nada mudar. O mercado de ações está se fortalecendo de novo.

A China não resolveu seus problemas, é claro, mas investidores e economistas dizem que os esforços para manter a economia sob controle restauraram a fé na administração econômica do país.

Em um sinal de autoconfiança, o governo eliminou duas políticas no fim de semana de 9 e 10 de setembro que encareceram as apostas para investidores que acreditam que o iuane irá enfraquecer – as medidas tinham sido adotadas depois que o dinheiro começou a deixar o país há dois anos.

“Talvez a China seja o cisne negro e tudo o que sabemos não se aplica a ela”, disse Zhu Ning, economista da Universidade de Tsinghua, que publicou um livro no ano passado criticando a forma como o governo geriu o aumento da dívida bancária.

Em termos de suas preocupações anteriores sobre a dívida chinesa, ele acrescentou: “Também tenho dúvidas sobre o que eu acreditava”.

A moeda, que é uma das principais maneiras pelas quais o governo controla a economia, é um indicador da saúde econômica do país e uma fonte de tensão para os Estados Unidos e outros parceiros comerciais. Com o boom econômico, o iuane aumentou muito sua força. Quando o crescimento vacilou nos últimos anos, o dinheiro fugiu do país, pressionando a moeda.

Os altos e baixos da moeda representam as preocupações com a dívida.

A China confiou em uma enorme onda de empréstimos para impulsionar sua economia após a crise financeira global há quase uma década. Enquanto a estratégia funcionava, ia empurrando o país para níveis de dívida similares, em relação ao tamanho de sua economia, aos de países como os Estados Unidos e outros desenvolvidos.

Isso ocorreu em um período de tempo extremamente curto, soando os alarmes em Wall Street e outros lugares. Em maio, a Moody’s Investors Service, uma empresa de rating, reduziu sua classificação de crédito sobre a dívida do país, dizendo que o aumento das despesas da China prejudicaria o crescimento em longo prazo. A desvalorização da moeda e a quebra do mercado em 2015 também diminuíram a confiança em Pequim.

Desde então, as autoridades tomaram uma série de medidas que parecem resolver os problemas em curto prazo, apesar de fazer pouco pelo longo prazo.

Pequim limitou rigorosamente a quantidade de dinheiro que pode ser enviado para o exterior e restringiu o que um número crescente de líderes do país considera compras corporativas inúteis. O governo já recorreu a estratégias como o software de reconhecimento facial em caixas eletrônicos em Macau, um território controlado pela China que é uma meca de jogos de azar, com sua própria moeda, mais facilmente conversível, e que há muito tempo tem uma reputação de lavagem de dinheiro.

O governo também manteve empréstimos de fontes nas quais confia, como os bancos estatais do país. O impulso tem sido forte o suficiente para manter o crescimento, mesmo quando as autoridades acabam com outros tipos de empréstimos que consideram potencialmente perturbadores. O mercado de ações começou a se recuperar da quebra há dois anos, assim como o aumento dos preços dos imóveis assegura aos investidores a saúde do desenvolvimento chinês, e o crescimento econômico resiliente sugere que os lucros das empresas podem aumentar.

Charlene Chu, analista chinesa da Autonomous Research, uma empresa global que assessora fundos multimercados e outros gerenciamentos internacionais de dinheiro, há muito se preocupa com a possibilidade do crescimento da dívida da China a um patamar insustentável. Hoje, Pequim tem a capacidade de adiar seus problemas, disse ela.

“O que eu aprecio agora é que não há apenas atores independentes aqui. Não há banco que diga em novembro que ‘nossa perspectiva econômica não é boa, vamos diminuir nosso crédito’. Eles podem se atrapalhar por um tempo”.

Mas Chu e outros veem os esforços de Pequim como tampões: se a finalidade não é a dívida, a China arrisca passar um longo período de baixo crescimento, como o Japão. Alguns indicadores econômicos sugerem que o crescimento chinês começará a diminuir no segundo semestre deste ano.

Mas a crescente valorização da moeda sugere que os investidores não estão tão preocupados quanto antes. Enquanto a China mantém o firme controle do valor de sua moeda, isso permite que o iaune se mova para cima ou para baixo em um certo limite no seu mercado interno.

Depois de cair para quase 7 para cada dólar no final do ano passado, o iuane se recuperou. Em 11 de setembro, o banco central da China estabeleceu a moeda ligeiramente mais forte que 6,5 para cada dólar pela primeira vez desde maio de 2016.

“O mercado inverteu significativamente a sua visão pessimista” da moeda chinesa, disse Zhou Hao, economista do Commerzbank em Singapura.

A melhora da moeda é parcialmente política. A China está preparando um Congresso do Partido Comunista que começa em Pequim em 18 de outubro (o evento ocorre a cada cinco anos).

O presidente Xi Jinping deixou claro que quer estabilidade até então em praticamente todos os aspectos da vida do país, incluindo a economia.

Outros movimentos monetários – particularmente o dólar dos Estados Unidos – estão contribuindo para a força do iuane.

O dólar enfraqueceu, já que o Federal Reserve teve uma velocidade lenta para aumentar as taxas, porque a economia dos Estados Unidos cresceu um pouco menos vigorosamente do que o previsto, e a inflação particularmente não atendeu às expectativas.

Na Europa, que finalmente se recupera da crise econômica global, o euro encenou um poderoso aumento face ao dólar no ano passado.

Então, enquanto o iuane se fortaleceu em relação ao dólar, enfraqueceu contra o euro. Isso desencadeia o impacto de uma moeda mais forte nas fábricas chinesas que exportam sua mercadoria, uma vez que o fato as torna menos competitivas.

A China pode ter alguns ganhos políticos com a moeda mais forte. O presidente Donald Trump, que há muito tempo critica as políticas econômicas chinesas, acusou Pequim de manter sua moeda artificialmente fraca – uma acusação verdadeira no passado, mas não hoje. Também poderia aliviar o limite das saídas de dinheiro, se assim quiser.

“Se o dólar está se depreciando, a China tem muitas opções políticas fáceis”, disse Brad W. Setser, ex-vice-secretário adjunto do Tesouro dos Estados Unidos, que agora é especialista em China no Conselho de Relações Exteriores.

Zhu, da Universidade de Tsinghua, acredita que o governo chinês poderia continuar a adiar seus problemas. Mas advertiu contra a complacência, dizendo que a dívida chinesa poderia causar problemas se não for observada cuidadosamente.

“Quando a bolha explodirá? Quando ninguém acreditar que é uma bolha”, disse ele.

Keith Bradsher | © 2017 New York Times News Service

Acompanhe tudo sobre:ChinaCrescimento econômicoExame HojeIuane

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE