Economia

A indústria da Copa do Mundo: estudo mostra os bilionários números do mundial

Dez vezes maior que o Super Bowl, Copa do Mundo é um dos maiores negócios do esporte. São mais de 3 bilhões de espectadores e bilhões em receita para a FIFA, mostra relatório do BTG Pactual

 (Dan Mullan/Getty Images)

(Dan Mullan/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 23 de novembro de 2022 às 06h00.

Ao longo de 28 dias, mais de 3 bilhões de pessoas devem assistir a um dos maiores eventos esportivos do planeta: a Copa do Mundo de futebol, que neste ano é realizada no Catar — pela primeira vez em um país árabe. No mundial de 2022, 32 países se enfrentam em 64 partidas, incluindo a grande final. O evento, além de cravar o nome de novos heróis na história no futebol a cada quatro anos, também é sinônimo de cifras gigantescas no balanço, movimentando bilhões de dólares em marketing, ingressos, transmissões e outras frentes.

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Novo relatório da equipe de Equity Research do banco BTG Pactual, divulgado nesta terça-feira, 22, e assinado pelos analistas Carlos Sequeira e Eduardo Rosman, compilou os principais números de receita e audiência envolvendo a Copa do Mundo.

A competição tem a segunda maior audiência dentre eventos esportivos, à frente das Olimpíadas e só atrás do Tour de France, de ciclismo, que tem maior duração em horas (são 21 dias de prova, enquanto os jogos na Copa do Mundo ocorrem só algumas vezes por dia ou menos).

Na Copa, a audiência está concentrada principalmente na final, com um terço dos espectadores só nessa partida.

"Só a final da Copa é dez vezes maior do que o Super Bowl [final do campeonato de futebol americano]", explica Sequeira, um dos autores do relatório. "Os números são impressionantes. Primeiro, quando pensamos na quantidade de pessoas que assistem. E, depois, se olharmos para como a Copa do Mundo é um business bilionário em receita."

TV e marketing lideram receita

Nem toda a receita da Copa está concentrada no mês do evento, e parte do faturamento e acordos vêm ao longo do ciclo de quatro anos entre uma disputa e outra. Ainda assim, mais de 70% da receita da FIFA, associação internacional de futebol e organizadora da competição, é gerada em ano de Copa — o que dá boa dimensão sobre o impacto direto da competição, aponta o relatório.

Ao longo do ciclo completo da Copa do Catar, a expectativa é que a só receita da FIFA feche em US$ 6,44 bilhões de dólares. São US$ 4,6 bilhões estimados para 2022 e o restante, já computado nos anos anteriores.

(Fora da FIFA, há ainda receitas não medidas mas indiretamente impactadas pela Copa, como investimentos de empresas e movimentação de comércio e serviços, entre outros.)

Na FIFA, a maior parte do dinheiro vem dos direitos de televisão. No ciclo que antecedeu a Copa da Rússia em 2018, o último com números fechados, a receita total foi de US$ 6,42 bilhões, sendo metade com direitos de transmissão (49% do total, ou US$ 3,3 bilhões). Em seguida vieram direitos de marketing, como patrocínios (29%).

A divisão do faturamento na FIFA é parecida à que já acontece nos clubes. Nos times, seja no Brasil ou na Europa, metade do faturamento também está na venda dos direitos de TV dos campeonatos locais, apesar dos avanços em receita de marketing no futebol nos últimos anos.

"A evolução das receitas da FIFA nos últimos ciclos vem crescendo de forma importante, sobretudo se voltarmos a períodos como o início dos anos 1980", diz Sequeira. "O trabalho de promoção e criação desse mega evento foi muito bem-sucedido nos últimos 30, 40 anos."

Um destaque dos autores é a dimensão dos investimentos feitos para transmissão da Copa na América do Sul. A receita de transmissão da FIFA obtida com os sul-americanos é menor do que na Europa, mas, comparativamente ao PIB, a taxa é muito maior. O número, segundo o relatório, mostra "quais regiões dão mais importância ao futebol" em relação ao tamanho da economia.

Futebol em todos os cantos: a estratégia da FIFA

Para além dos já conhecidos fanáticos sul-americanos, um avanço importante na audiência da Copa do Mundo vem ocorrendo em locais em que o futebol tinha menos espaço historicamente.

A audiência no Oriente Médio e na África teve a maior alta entre as regiões, crescendo 66% entre a Copa no Brasil, em 2014, e a na Rússia, em 2018. Os números para a audiência no Catar ainda não estão computados, uma vez que a competição está em curso, mas devem seguir trazendo avanços.

A alta acontece, primeiro, pela base de comparação baixa. Mas o relatório aponta também que o aumento de espectadores em Oriente Médio e África "provavelmente reflete o crescimento do número de competidores dessas regiões", com o total indo de duas seleções locais em 2014 para cinco em 2018.

Já na América do Sul, onde a audiência subiu 9%, o motivo apontado é o crescimento populacional natural na região e os telespectadores especificamente do Peru, que se classificou para a competição em 2018 pela primeira vez em 36 anos. A leve queda na Europa (-2%), por sua vez, teria vindo em partes da ausência de seleções importantes, como Itália e Holanda.

Ambos os movimentos ocorreram com as regras já existentes da FIFA, com seleções ganhando ou perdendo vagas nas repescagens globais, por exemplo. Para as próximas Copas, no entanto, a FIFA fará mudanças nas regras para comportar mais times.

Catar e Equador - Copa do Mundo

Catar e Equador na abertura da Copa: ampliação no número de equipes a partir de 2026 deve ajudar a aumentar audiência (Simon Stacpoole/Offside/Offside/Getty Images)

"O que a FIFA está tentando fazer, e já fez no último ciclo, é trazer mais países — e mais países trazem mais audiência. Provavelmente, com esse projeto de aumentar a quantidade de seleções, vai aumentar mais. Esse crescimento [em audiência] já está um pouco contratado", diz Sequeira.

A escolha do Catar como sede em 2022 é um símbolo desse movimento, sendo o primeiro árabe da história a sediar uma Copa do Mundo. Há críticas à escolha do país em frentes como direitos humanos, a mudança de data para fugir do verão impraticável no Oriente Médio e a falta de tradição dos catares no futebol (o que a derrota por 2x0 para o Equador na abertura da competição deixou dolorosamente à mostra).

Estima-se que a Copa no Catar custou US$ 220 bilhões, a mais cara da história. O montante inclui construção de estádios e um plano de investimento em infraestrutura até 2030.

Mais seleções na Copa de 2026

No intuito de trazer mais espectadores interessados pelo evento, a FIFA terá na Copa de 2026 48 times classificados, ante os 32 do atual formato.

Aumentos do tipo já ocorreram no passado: a Copa do Mundo começou a ser disputada em 1930 com só 13 seleções (o Brasil incluso, a única seleção a participar de todas as Copas do Mundo), até chegar em 24 seleções em 1982 e em 32 em 1998, na Copa da França.

O acréscimo de 16 novas seleções para 2026, no entanto, será o maior já visto. O movimento foi criticado por parte dos observadores do futebol por possivelmente incluir times de pior qualificação na competição. Para a receita da FIFA, na outra ponta, o objetivo está claro: levar o futebol (e, sobretudo, a Copa do Mundo como um negócio) para o maior número de lugares possíveis.

Além de mais seleções, a competição em 2026 será sediada em 16 cidades de três países: Estados Unidos, Canadá e México. Com mais seleções em campo e países-sede com infraestrutura pronta e de fácil acesso, a expectativa é de audiência recorde na TV e, em solo, de número de visitantes superando facilmente a casa dos 1,5 milhão esperados no Catar neste ano.

Catar: sede de 2022 é símbolo da tentativa da FIFA de levar a indústria da Copa a novos lugares (apesar das críticas no caminho) (Andrej Isakovic/Getty Images)

De quebra, como já ocorreu com a Copa de 1994 sediada nos EUA, a próxima Copa pode ajudar a FIFA a seguir quebrando uma outra fronteira: a do valioso mercado estadunidense, que ainda tem espaço para crescer no interesse pelo futebol.

"O futebol nos EUA tem crescido muito, e muito por causa dos latinos. Então, acredito que tem tudo para ser um sucesso de público, e em um país que tem infraestrutura", aponta Sequeira sobre a próxima Copa.

O relatório do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) sobre o mundial de seleções faz parte de uma série de análises publicadas pela equipe de equity sobre negócios do futebol, incluindo em clubes na Europa e no Brasil. Sequeira aponta que um dos objetivos de analisar a disputa de seleções especificamente e os balanços da FIFA foi mostrar a relevância do "negócio Copa do Mundo, independentemente de quem tem chances de ganhar ou não", afirma o analista.

A Copa de 2022 movimentará paixões — e muitos dólares — até a grande final, marcada para 18 de dezembro.

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