Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 11h37.
A primeira economia do mundo continuará em festa em 2019? À primeira vista, os Estados Unidos parecem estar em seu melhor momento no encerramento de 2018, mas o futuro vem carregado de incertezas.
O crescimento será de cerda de 3% em 2018, o melhor desempenho desde a crise financeira há 10 anos, em particular, graças aos grandes cortes de impostos implementados pela administração de Donald Trump. Além disso, o país tem criado empregos, sua taxa de desemprego é de menos de 4% e os preços continuam sendo bons.
Mas essa economia ideal, nem muito quente nem muito fria, começa a mostrar fragilidade e 2019 chegará com grande quantidade de incertezas.
O comércio está em plena desaceleração, com crescimento esperado de somente 6,2% para o próximo ano, segundo o FMI. Além disso, as taxas de juros e - do outro lado do Atlântico - o Brexit e os protestos dos 'coletes amarelos' na França e na Itália preocupam.
As hostilidades comerciais impulsionadas pela Casa Branca representam um risco real para o crescimento dos Estados Unidos, e também para os outros países. Segundo o FMI, o PIB mundial poderia cair 0,75% devido ao aumento das tensões.
Washington lançou uma guerra tarifária, que só cresceu nos últimos meses, com o objetivo de equilibrar o comércio, e especialmente contra as práticas de Pequim, a quem acusa de roubo de patentes, transferências forçadas de tecnologia e espionagem industrial.
A trégua de 90 dias assinada entre Pequim e Washington não foi convincente e o impacto na economia é real, já que o déficit comercial -sobre o qual Trump mede o sucesso de sua política- está aumentando.
"A batalha comercial não agrega nada ao crescimento, por agora, e não é certo que faça isso em longo prazo", disse o economista Joel Naroff.
"Obviamente, os chineses buscam diversificar suas cadeias de fornecimento para limitar sua dependência dos Estados Unidos e abrir outros mercados para seus produtos", diz. O efeito negativo poderia ser, portanto, durável para os Estados Unidos.
Empresas americanas, como a MedSourceLabs, que faz negócios com a China para fabricar equipamentos médicos, temem: "a incerteza começa a se sentir nas relações diárias com nossos fornecedores" chineses, disse em entrevista à AFP seu CEO, Todd Fagley.
"Nosso temor é que a cura seja pior que a doença", afirmou Jake Colvin, vice-presidente do Conselho Nacional de Comércio Exterior, o lobby dos exportadores.
General Motors e Ford já chamaram atenção para o fato que as tarifas sobre o aço e o alumínio custariam para eles pelo menos 1 bilhão de dólares nesse ano, em um momento em que o ciclo de vendas de automóveis parece ter alcançado seu ponto máximo.
Agricultores americanos também se veem afetados, ao se perceberem forçados a reduzir os preços ou armazenar seu cultivo de soja, que antes das hostilidades vendiam para China.
Especialistas esperam uma desaceleração no próximo ano: Goldman Sachs Research estima um crescimento de 2,5%, similar à expectativa do Banco Central. A Oxford Economics aposta em uma alta de 2% no final de 2019.
A administração Trump continua garantindo que espera que a tendência se mantenha a um ritmo igual ou superior a 3%.
Mas a economia dos Estados Unidos não pode permanecer imune ao enfraquecimento do crescimento global mostrado pelo FMI.
Jerome Powell, chefe do poderoso Banco Central Americano (Fed), começou no final de novembro a duvidar do ritmo da economia e da alta das taxas de juros.
O Fed, que, segundo o mercado, vai decidir por um leve aumento da taxa de jurus em 19 de dezembro, poderia decidir também, no mesmo dia, desacelerar os aumentos no próximo ano.
O mercado imobiliário americano está retrocedendo devido ao efeito das oito altas nas taxas de juros desde o final de 2015, que elevaram o custo dos empréstimos imobiliários para cerca de 5%, algo que não acontecia há dez anos.
O consumo, 70% da economia dos Estados Unidos, está em seu apogeu, mas enfrenta a queda de Wall Street, onde o Dow Jones perdeu seus ganhos do ano em poucas semanas. A pesada dívida das empresas, assim como o déficit federal, também são fatores de risco.
Apesar disso, Christine Lagarde, a diretora do FMI, disse recentemente que "não há elementos de uma recessão a curto prazo".
No final do ano, os investidores e economistas esperam que a curva das taxas de juros seja invertida, quando a taxa da dívida em dois anos se transforme em mais alta do que a taxa a longo prazo.
Historicamente, esse fenômeno precedeu em muitos trimestres a maioria das recessões dos Estados Unidos desde 1950.