O vice-presidente Michel Temer e a presidente Dilma Rousseff quando ela ainda era presidente (Ricardo Stuckert Filho/PR)
João Pedro Caleiro
Publicado em 31 de agosto de 2016 às 15h36.
São Paulo - Com 61 votos a favor e 20 contra, o Senado julgou Dilma Rousseff culpada por cometer crimes fiscais e a retirou do cargo de presidente.
A votação de hoje encerra o processo iniciado em dezembro e confirma Michel Temer no cargo que já ocupa de forma interina desde maio.
A volta de Dilma era considerada praticamente impossível, mas analistas apontam que o fim da interinidade abre espaço para o governo Temer mostrar a que veio.
Nos últimos meses, ele foi elogiado pelo mercado pela equipe econômica e pelo discurso de defesa de privatizações, reformas e ajuste fiscal.
Mas Temer é altamente impopular, as eleições municipais estão na esquina e ninguém sabe se ele conseguirá o apoio legislativo necessário para aprovar mudanças constitucionais.
A sua principal proposta até agora é um teto de gastos do governo, com correção pela inflação do ano anterior, mas também há sinalização de reformas previdenciárias e trabalhistas.
EXAME.com perguntou para 6 economistas se a conclusão do impeachment muda alguma coisa na economia. Veja o que eles responderam:
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores
"Acho que, do ponto de vista das expectativas, muda pouco, já que eram favas contadas desde meados de abril. Talvez tenha um pequeno impacto positivo sobre os preços dos ativos por conta dos estrangeiros, que vinha esperando a concretização do impeachment para tomar algumas decisões envolvendo o Brasil.
O que muda mais, em minha opinião, é que o governo Temer, já não podendo mais se esconder por detrás da interinidade, será cobrado com mais veemência para entregar aquilo que está prometendo, sobretudo na área fiscal. O risco é que, se ele frustrar as expectativas favoráveis construídas em torno dele, o próprio governo Temer poderia passar a ser questionado."
Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings
"Sim. A definição do impeachment muda a gestão da política econômica do País de forma efetiva, pois, a partir de agora Temer e sua equipe econômica poderá colocar em prática todo seu plano de gestão e negociar com o Congresso a aprovação de medidas necessárias para recolocar o País no trilho do crescimento.
Na interinidade, essa gestão de medidas ficava comprometida, pois ainda precisava do apoio do Congresso para a efetivação dele no cargo, por isso não poderia confrontar o Congresso em algumas votações de medidas importantes, bem como precisava fazer muitas concessões.
A partir de agora, com a efetivação dele no cargo, o corpo a corpo entre a equipe econômica e o Congresso será mais intenso e menos flexível. Bem como os diversos setores de atividade poderão reivindicar o detalhamento das medidas até aqui anunciadas para ajustar as contas públicas e estimular a economia, fato que antes era difícil pela condição da dependência do apoio efetivo do Congresso para o impeachment favorável."
Bruno Rovai, economista do banco inglês Barclays
"A conclusão do impeachment confirma toda a mudança de políticas econômicas que foram anunciadas desde o meio de maio, quando o Temer assumiu como presidente interino.
O que a gente deve continuar observando, dessa forma, é um giro de 180 graus nas políticas fiscais, para-fiscais e monetária, todas elas que garantem uma redução na probabilidade de monetização da dívida publica e garantem um ambiente de estabilidade para o Brasil.
Na verdade, hoje deve ser um dia até marcante: não somente temos o ultimo capitulo da transição política, como também temos o orçamento de 2017, que deve mostrar que o crescimento esperado para o ano que vem deve fazer com a trajetória do primário passe a mostrar melhora. Deixamos o pior da crise política, fiscal e da recessão para trás."
José Roberto Afonso, pesquisador do FGV/IBRE
"A expectativa é que sim. Diante de uma crise econômica tão grave é preciso um governo que possa tomar decisões firmes e com sólida maioria parlamentar. A transição foi feita nos últimos meses. Agora, é esperar que o governo possa governar com mais solidez e vontade."
Alexandre Schwartsman, ex-economista-chefe do Santander e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) durante o governo Lula
"Acredito que o governo estará mais confortável para propor medidas mais específicas (previdência, por exemplo), que até o impedimento poderiam dar margem a votos a favor da presidente.
Mas sigo cético acerca da capacidade de aprovar reformas mais ambiciosas. Não me parece ter o mandato para fazê-lo e o Congresso segue fracionado.
Em resumo, recuperação, sim, mas lenta, mais por força das expectativas que algo de bom saia do Congresso do que em reação a medidas que mudem a perspectiva fiscal."
Gesner Oliveira, professor da EAESP-FGV e sócio da GO Associados
"O encerramento do processo de impeachment é uma boa notícia ao país. Melhora as expectativas em relação à recuperação da economia, atrai investidores estrangeiros e atenua, mas não encerra, um período de incertezas que se arrasta há mais de dois anos.
Há três linhas de ação essenciais para tirar o país de uma das piores recessões de nossa história. A primeira, é concretizar o ajuste fiscal. A aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que institui um teto para o gasto da União é um primeiro passo.
A segunda é acelerar os investimentos em infraestrutura, especialmente por meio de parcerias e concessões. É nesse setor que reside a maior chance de uma retomada consistente da economia e da geração de empregos.
A terceira é resgatar a competividade do setor externo mediante uma dosagem adequada nas políticas monetária e cambial e na ação sistemática para conquistar novos mercados para os produtos e serviços brasileiros."