O presidente argentino negocia empréstimo com o FMI e analistas falam em 30 bilhões de dólares (Marcos Brindicci/Reuters)
AFP
Publicado em 16 de maio de 2018 às 14h41.
Há algumas semanas os argentinos observam angustiados a queda do peso frente ao dólar. A notícia de que o presidente liberal Mauricio Macri busca auxilio do Fundo Monetário Internacional (FMI) reavivou velhos fantasmas de crise e de ajustes dolorosos.
Contudo, o governo se empenha em enviar uma mensagem tranquilizadora e garante que a Argentina é um país solvente.
O que levou a Argentina à crise cambial e financeira, e o que será preciso para resolvê-la?
Analistas concordam que o principal problema da economia argentina é seu déficit fiscal (3,9% do PIB em 2017) e de balança comercial (8,47 bilhões de dólares em 2017).
Há dois anos e meio, Macri desenvolve um programa de ajustes considerado gradual, que tenta levar o país do modelo protecionista dos governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003-2015) para um de abertura.
Entre suas primeiras medidas, eliminou o controle de câmbios e negociou com fundos especulativos para tirar o país da moratória. Isso lhe permitiu financiar o déficit com créditos do exterior por montantes e 30 bilhões de dólares anuais.
Ramiro Castiñeira, analista da Econométrica, garante que Macri "assumiu um país quebrado. Com muito esforço, fez avanços, como sair do default, sair das restrições e recuperar o crescimento econômico. Mas não conseguiu resolver o estrutural: o déficit".
Muitos argentinos lembraram, nos últimos dias, da crise econômica e social de 2001, que provocou a queda de quatro presidentes em uma semana e levou o país a declarar a maior moratória da história.
Embora haja semelhanças entre os dois momentos, como a rápida desvalorização do peso e o pedido de auxílio ao FMI, especialistas destacam que há diferenças que concedem margem de manobra ao governo de Macri.
Em 2001 regia o "1 a 1", como ficou conhecida a política cambial de taxa fixa de um peso igual a um dólar.
Hoje, a taxa de câmbio flutuante e a política econômica autônoma "devem facilitar um ajuste que evite que a crise cambial escale para uma crise bancária e acabe em depressão econômica", de acordo com Edward Glossop, da Capital Economics.
"Uma política monetária autônoma permite ao Banco Central aumentar as taxas de juros para escorar os fluxos de capital. Ao mesmo tempo, uma debilidade da moeda ajudaria a estabilização, ao recuperar a competitividade e tornar os ativos locais mais atraentes", opinou Glossop.
O lema do governo de Macri foi o "gradualismo". Ou seja, fazer os ajustes pouco a pouco, para não provocar nem um choque social, nem um nível de conflito que afetasse a governabilidade.
Assim, eliminou paulatinamente subsídios às tarifas dos serviços públicos, abriu o país às importações e reduziu o gasto, mas sem alcançar o equilíbrio.
O fim dos subsídios a serviços como os de gás, eletricidade e água encareceu, em alguns casos astronomicamente, o gasto dois cidadãos, cujo poder de compra foi mordido por uma inflação de mais de 20% ao ano.
Marcos Peña, chefe do Gabinete, afirmou: "Não podemos continuar pensando que a culpa é de outro. A culpa de gastarmos mais do que temos é dos argentinos".
O governo afirma que recorreu ao FMI para prevenir uma crise maior. Embora ainda não tenha sido definido o montante do auxílio a ser recebido, é quase certo que o organismo multilateral vai criar algumas condições.
"O FMI vai repensar o gradualismo", opina Castiñeira. "A Argentina tem que tomar consciência da situação na qual se encontra para poder fazer o ajuste necessário e não ter que se endividar no exterior", alerta.
Para Marina dal Poggetto, da firma EcoGo, "não depender do crédito externo requer um ajuste muito violento, que é politicamente complicado".
Na véspera de um 2019 marcado por eleições presidenciais e sem maioria parlamentar, a tarefa parece difícil.