São Paulo - Carros elétricos e leves que se dirigem sozinhos e são compartilhados. É esta a visão de um futuro próximo que surge de um relatório lançado na última semana pelo banco americano Goldman Sachs sobre as perspectivas para o setor automotivo na próxima década. 4 temas aparecem bastante: a pressão para cortar as emissões de gases estufa, o foco em segurança em uma sociedade que envelhece, o desejo de conveniência para otimizar tempo e espaço e a necessidade de preços acessíveis. Para juntar isso tudo, só com muita inovação: "a necessidade da indústria automotiva de abraçar a mudança tecnológica é agora mais urgente do que nunca", diz o relatório. 7 tendências foram identificadas: uma "dieta" no peso dos carros, inovação nos motores, carros autônomos, poder para fornecedores, entrada de novas empresas, carros conectados e foco nos emergentes. Entenda cada uma delas:
O americano médio passa entre 300 e 400 horas dirigindo por ano, mas esse tempo pode em breve ser colocado para algum uso mais produtivo: os carros autônomos do Google começarão a ser testados nas ruas no verão norte-americano deste ano. A Tesla planeja lançar um carro com “direção automática” no próximo trimestre, enquanto a Cadillac promete o mesmo para o ano que vem. 2016 também deve ter lançamentos do tipo pela Audi, Mercedes-Benz e BMW. Ninguém sabe como será a regulação estatal, mas vale lembrar que apesar de sua cota de acidentes, os carros autonônomos são considerados muito mais seguros do que os conduzidos por humanos. "Uma porcentagem cada vez menor de pessoas jovens tira carteira de motorista em países desenvolvidos como os Estados Unidos e o Reino Unido. Se a direção autônoma e o compartilhamento de carros pegar em áreas urbanas, jovens nessas áreas talvez nunca aprendam a dirigir", diz o Goldman Sachs.
O Goldman Sachs espera que a regulação de poluição e eficiência continue ficando cada vez mais rígida no mundo todo, tanto no nível local quanto no nacional, e com uma possível harmonização em nível internacional. Isso exigirá das montadoras uma inovação constante para diminuir e melhorar os motores, com vários tipos de modelos híbridos. No entanto, a aposta do banco é na convivência e não na substituição total de modelos. A previsão é que daqui 10 anos, os veículos elétricos respondam por 1 em cada 4 carros vendidos, o que ainda deixaria os veículos convencionais com uma parcela de mercado de 75%.
4. Carros conectados e mobilidade compartilhadazoom_out_map
4/8(Reprodução/Hyundai)
A "internet das coisas" é a nova fronteira da tecnologia: objetos conectados geram um fluxo de dados inédito que permite ganhos de conveniência e eficiência que até agora eram impensáveis. Até 2024, as redes móveis verão um crescimento de 10 vezes nas conexões máquina-a-máquina e metade destas conexões será automotiva, segundo a Machina Research. De acordo com a companhia de pesquisa de tecnologia Gartner, cerca de 1 em cada 5 veículos no mundo todo terá alguma forma de conexão com rede sem fio até 2020, o que soma mais de 250 milhões de veículos conectados. Isso também significa que vai ficar mais fácil compartilhar veículos, o que muda totalmente o cálculo de custo em comprar um carro e reflete em outras indústrias, como a de seguros.
Como a regulação de emissão de gases estufa deve ficar cada vez mais dura, as montadoras terão que buscar empresas que possam fornecer equipamentos de alta tecnologia que tragam economia de combustível. A parte de pesquisa e desenvolvimento de cada grande empresa também deve ser diversificada para pulverizar o risco. Como elas estarão focadas em partes específicas, isso abre espaço para que os fornecedores de peças criem parcerias para fornecer e padronizar todo o resto.
"Até pouco tempo, segurança contra colisões e redução de peso eram metas irreconciliáveis", diz o banco. Agora, nem sempre. Isso é especialmente importante porque a redução de peso permite usar menos combustível e de quebra, emitir menos gases estufa. O banco aposta que na próxima década, veremos um grande aumento no uso de materiais como alumínio, aço de alta resistência e plástico reforçado com fibra de carbono.
A euforia com o Brasil passou, e o setor automotivo tem sofrido as consequências: 250 concessionárias foram fechadas e 12 mil profissionais foram demitidos só entre janeiro e abril deste ano. Isso não significa, no entanto, que os emergentes saíram do radar das empresas do setor. Muito pelo contrário: o espaço é enorme até em países que já estão desacelerando como a China, maior mercado mundial. "Esperamos que o PIB per capita supere 10 mil dólares em alguns países em desenvolvimento por volta de 2025, e é este o nível no qual geralmente a motorização começa a ganhar ímpeto", diz o relatório. A expectativa do banco é que mesmo países que não cheguem neste patamar possam ter ganhos expressivos. A Índia, por exemplo, já está crescendo mais do que a China e pode se tornar o 3º maior mercado automotivo do mundo dentro de uma década.