Vista de favela no morro do Vidigal, no Rio de Janeiro (REUTERS/Pilar Olivares)
João Pedro Caleiro
Publicado em 31 de outubro de 2013 às 14h25.
São Paulo - 65% dos 11,7 milhões de moradores de favelas no Brasil são de classe média - quase o dobro dos 33% registrados 10 anos atrás. A porcentagem de moradores que são de classe baixa caiu de 65% para 32%, enquanto a de classe alta teve ligeiro aumento, de 2% para 3%.
"O que acontece é que o Brasil cresceu diminuindo a desigualdade social, e isso mudou o status dessa população", diz Renato Meireles, presidente do Data Popular. O Brasil como um todo se divide entre 22% de classe alta, 54% de classe média e 24% de classe baixa.
Os dados são de uma pesquisa realizada pelo Data Popular em parceria com a CUFA (Central Única das Favelas). 2 mil pessoas foram entrevistadas em 63 favelas de todas as regiões do Brasil e a margem de erro é de 2,24 pontos percentuais.
A pesquisa de campo, realizada entre 15 de setembro e 15 de outubro deste ano, contou com pesquisadores oriundos das favelas e qualificados para o trabalho.
Foram utilizados também dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do Censo IBGE e do POF (Pesquisa de Orçamento Familiar).
Emprego, renda e consumo
A pesquisa também mostra que de 2003 para 2013, aumentou ligeiramente o percentual dos moradores de favelas acima de 10 anos inseridos no mercado de trabalho, que foi de 49% para 54%.
A renda anual dos moradores de favela atingiu este ano a marca de 63,2 bilhões de reais, o equivalente à soma do consumo total das famílias do Paraguai e Bolívia.
A melhora do emprego e da renda impulsionou o consumo: atualmente, 99% dos moradores de favela do Brasil têm geladeira, 91% têm ferro de passar roupa, 20% possuem carro e 13% têm moto.
Contrastes
Renato Meireles divulgou alguns dados com exclusividade para EXAME.com que mostram que na favela, é maior a proporção de lares com alguns itens do que na média do país.
"A TV de tela plana, por exemplo, está em 46% dos lares das favelas, enquanto o número é de 35% no Brasil como um todo. É uma questão prática e objetiva de espaço: na casa da favela não cabe uma televisão normal", aponta.
A discrepância aparece em outros itens, como máquina de lavar (presente em 69% dos lares em favelas e 49% no país) e micro-ondas (55% na favela e 35% no Brasil).
O acesso à internet também chama a atenção: 52% dos moradores da favelas estão conectados. Entre os jovens de 16 a 29 anos, esta taxa chega a 78%, maior do que a média geral nacional e equivalente à proporção entre a mesma faixa etária no resto do país.
Na questão do acesso ao sistema bancário, as favelas ainda ficam para trás: 53% dos moradores tem conta em banco, contra 70% na média nacional dos centros urbanos.
Perspectivas
A pesquisa também mediu a intenção de consumo dos moradores da favela para o próximo ano. 2,1 milhões de pessoas pretendem comprar uma TV de plasma, LED ou LCD nos próximos 12 meses. Já 1 milhão tem a intenção de comprar um smartphone.
Comprar um carro no próximo ano está no horizonte de 1,1 milhão de brasileiros que moram em favelas, acima dos 814 mil que sinalizaram a intenção de comprar uma moto.