Economia

60% culpam guerra na Ucrânia e Bolsonaro por alta dos combustíveis

Pesquisa EXAME/IDEIA mostra ainda que metade dos entrevistados considera o governo federal, de alguma forma, culpado pelo preço dos combustíveis

Carro abastecendo: preço da gasolina sofreu reajuste na semana passada. (Bloomberg/Getty Images)

Carro abastecendo: preço da gasolina sofreu reajuste na semana passada. (Bloomberg/Getty Images)

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Gilson Garrett Jr

Publicado em 19 de março de 2022 às 08h30.

Última atualização em 22 de março de 2022 às 15h48.

Fatores internos e externos refletem no preço dos combustíveis aqui no Brasil. Desde a alta do preço do barril do petróleo, em consequência da Guerra da Ucrânia, até uma fala do presidente Jair Bolsonaro podem fazer você pagar mais caro ou mais barato no posto próximo da sua casa. Atualmente, a Petrobras tem uma política de cotação dos combustíveis atrelada ao que é praticado no exterior, em dólar.

Para 60% dos brasileiros, o conflito na Europa e o presidente são os maiores responsáveis pelos atuais preços da gasolina, do etanol e do diesel, segundo a mais recente pesquisa EXAME/IDEIA. Entre os entrevistados, 20% consideram que a maior responsável pela alta é a Petrobras, e outros 10% entendem ser os governadores dos estados e do Distrito Federal.

A sondagem ouviu 1.284 pessoas entre os dias 15 a 17 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Leia o relatório completo.

(Arte/Exame)

Maurício Moura, fundador do IDEIA, faz dois destaques em relação à responsabilidade sobre o patamar alto dos preços dos combustíveis. O primeiro deles é que quanto maior o grau de escolaridade, maior é o entendimento de que é um fator externo. Dos entrevistados com nível superior, 33% defendem ser culpa de fatores internacionais. Já no universo de pessoas com ensino fundamental, este número é de 28%.

O segundo apontamento diz respeito à responsabilidade da esfera federal. “Se somarmos quem acha que os responsáveis são Petrobras e o presidente, temos metade do país que, de alguma maneira, atribuiu a culpa ao governo federal. Lembrando que o presidente se beneficia quando temos indicadores econômicos positivos, mas também perde popularidade quando tem aumento de combustível”, diz.

No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, o IPCA dos combustíveis, principal indicador de inflação do Brasil, teve uma alta de 33%. A gasolina subiu 32%, o etanol, 36%, e o diesel, 40%. Valores muito acima do índice geral, que está em 10,54%.

Ainda sem estar contido nestes números, a Petrobras fez um reajuste nos combustíveis, na semana passada, e elevou o preço da gasolina em 18,7%, e do diesel em 24,9%. Os valores se referem ao que foi alterado nas refinarias.

Brasileiros deixaram o carro na garagem

O aumento dos combustíveis em função da guerra na Ucrânia já provocou mudanças no comportamento dos consumidores brasileiros. Segundo a pesquisa EXAME/IDEIA, 83% dos entrevistados dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto por causa do aumento da gasolina, do diesel e do etanol.

(Arte/Exame)

Os dados mostram que quanto menor a renda, maior o ajuste na maneira de se locomover para driblar a alta dos combustíveis. Entre os que ganham até um salário mínimo, 92% dizem que diminuíram o uso do carro ou da moto. Na parcela com poder aquisitivo mais alto, com renda superior a 5 salários mínimos, este número é de 74%.

“Os combustíveis têm efeito direto na vida do brasileiro. 80% dos entrevistados dizem que estão muito insatisfeitos com o preço praticado no país atualmente. Isso nos dá a dimensão da importância do tema. Em algumas regiões, como a Sul, esta insatisfação chega a 84%”, explica Maurício Moura.

A pesquisa ainda quis saber como o aumento dos combustíveis vai mudar a rotina dos brasileiros. Cerca de um terço dos entrevistados (30%) diz que vai usar mais o transporte público. Outra parcela, de 29%, afirma que vai andar mais a pé. “Isso coloca mais pressão sobre o sistema de transporte público nas principais cidades brasileiras. E os números deixam essa informação bastante eloquente”, diz Moura.

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