Desigualdade: (David Cliff/NurPhoto/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 20 de janeiro de 2020 às 17h49.
Última atualização em 20 de julho de 2022 às 10h35.
A crescente desigualdade no mundo tem sido um tema de destaque do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) nos últimos anos.
O evento anual, que vai reunir líderes globais na cidade suíça de Davos de 21 a 24 de janeiro, publicou em sua página no domingo (19) um estudo da ONG britânica Oxfam mostrando que cerca de 2 mil bilionários acumularam mais riqueza do que 60% do planeta.
Uma razão, segundo a organização, é o colapso no sistema de tributação dos super-ricos e de grandes empresas, que vêm tendo de arcar com cada vez menos impostos e têm mais facilidade de sonegá-los.
A Oxfam destaca que apenas 4% da receita global de impostos provém da tributação da riqueza, e que há estudos mostrando que os super-ricos evitam até 30% de sua obrigação tributária.
Entre 2011 e 2017, os salários médios nos países do G7 aumentaram 3%, enquanto o valor distribuído por meio de dividendos para acionistas ricos cresceram 31%.
“Nossas poucas economias estão enchendo os bolsos de bilionários e grandes empresas às custas de homens e mulheres comuns”, disse o presidente da Oxfam India, Amitabh Behar. “Não é de admirar que as pessoas comecem a questionar se os bilionários deveriam existir.”
Nesta segunda-feira (20), o Fórum publicou em seu blog cinco fatos impressionantes do estudo feito pela Oxfam. Veja a seguir:
Em 2019, os 2.153 bilionários do mundo detinham mais riqueza acumulada que 4,6 bilhões de pessoas, segundo a Oxfam.
Para mostrar a dimensão dessa disparidade, a organização calculou que, se uma pessoa tivesse economizado US$ 10.000 por dia desde a construção das pirâmides no Egito, teria hoje um quinto da fortuna média dos cinco bilionários mais ricos do mundo.
Na realidade, quase metade da população mundial vive com menos de US$ 5,50 por dia, segundo estimativa do Banco Mundial ressaltada pelo WEF.
A África é o segundo continente mais populoso do mundo, perdendo só para a Ásia. Além de privilegiar uma minoria, o sistema econômico vigente também é machista, escreve a Oxfam.
O trabalho não remunerado ou mal remunerado é feito principalmente por mulheres e meninas em todo o mundo, destaca a Oxfam.
No total, a organização calcula que são 12,5 bilhões de horas trabalhadas sem remuneração em atividades essenciais para o bem-estar das sociedades, comunidades e o funcionamento da economia, como cuidar de outras pessoas, cozinhar, limpar, buscar água e lenha.
"A pesada e desigual responsabilidade do trabalho de cuidar perpetua as desigualdades de gênero e econômicas", diz o estudo.
Esse número é três vezes o tamanho da indústria de tecnologia do mundo, de acordo com dado da Oxfam ressaltado pelo WEF.
O trabalho não remunerado deixa mulheres e meninas com mais de 15 anos "incapazes de atender às suas necessidades básicas ou de participar de atividades sociais e políticas", diz o estudo.
Globalmente, 42% das mulheres em idade de trabalhar são incapazes de manter um emprego por causa de suas responsabilidades de cuidados não remunerados, em comparação com 6% dos homens.
Investimentos em políticas como acesso à água, saneamento e eletricidade podem ajudar, diz a Oxfam.
“Nas comunidades de baixa renda da Índia, nas famílias com acesso à eletricidade, as meninas passam meia hora a menos por dia trabalhando com cuidados a outras pessoas e tem 47 minutos a mais de sono", diz o estudo.
De acordo com a Oxfam, se os governos aumentarem a tributação do 1% mais rico pelos próximos 10 anos, poderiam gerar investimentos para criar 117 milhões de empregos. O relatório diz:
“As mulheres já pagaram a conta a todos. Todos devem contribuir de acordo com seus meios, incluindo corporações e os mais ricos de nossa sociedade. Isso exigirá que os governos se comprometam a garantir que isso aconteça”.
A Oxfam lista seis soluções que, segundo a organização, poderiam diminuir o espaço entre ricos e pobres no mundo. Ele propõe que governos e empresas trabalhem juntos para:
A metodologia da Oxfam já foi criticada na Reuters e no Spectator por considerar patrimônio como ativos menos dívida – dessa forma, um americano endividado parece mais pobre no papel do que um africano sem qualquer ativo.
Definir (e calcular) o que é riqueza para os mais pobres é bem mais difícil do que para bilionários. Há alguns anos, a Oxfam escreveu um post esclarecendo e justificando suas escolhas metodológicas.