Economia

5 fatores, fora a crise, que derrubam o PIB brasileiro

Para o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, muito pouco pode ser feito para salvar 2012

Moedas de Real: “a conta chegou”, disse Maílson da Nóbrega sobre as quedas na expectativa de crescimento do PIB em 2012 (©AFP / vanderlei almeida)

Moedas de Real: “a conta chegou”, disse Maílson da Nóbrega sobre as quedas na expectativa de crescimento do PIB em 2012 (©AFP / vanderlei almeida)

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Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2012 às 13h28.

São Paulo – O mais recente relatório Focus, que mede a expectativa do mercado sobre alguns indicadores, apontou na segunda-feira que o crescimento do PIB deve ser de 1,9% em 2012, mantendo a previsão da semana passada, quando o dado registrou sua décima queda seguida. No final de 2011, as previsões dos economistas indicavam um aumento médio de 3,5%. De lá para cá, o que mudou?

O governo põe boa parte da culpa nos desafios impostos pela crise internacional. Ela não pode ser ignorada, mas não é o fator mais importante, pelo menos na opinião do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, para quem a perda de dinamismo da economia brasileira tem a ver com nossas próprias deficiências. “A conta chegou”, disse. 

A impressão é que dessa vez o país enfrenta uma tormenta, e não mais uma “marolinha” (como Lula se referiu aos efeitos da crise de 2008 no país). Porém, na opinião de Ricardo Amorim, economista e presidente da Ricam Consultoria, o Brasil não está sentindo a crise atual mais do que a anterior. “Esta crise, até agora, foi bem menos profunda no Brasil e no resto do mundo do que a de 2008/2009”. Em 2009, o PIB brasileiro caiu 0,2%.

Pode não ser tão grave, mas o governo já anunciou diversas medidas para tentar esquentar a economia, como o programa de compras PAC Equipamentos e a prorrogação do IPI baixo para a linha branca e móveis. Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, pouco pode ser feito para salvar 2012.

Para Ricardo Amorim, o problema não é o que poderia estar sendo feito agora, mas o que deveria ter sido feito em 2010 e início de 2011, no período de bonança. “Falta ao Brasil uma estratégia de desenvolvimento baseada em um Estado Menor, menos impostos, mais investimento público, juros menores e câmbio menos apreciado. Nada disso será possível enquanto o governo não reduzir seus gastos”, afirmou.

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Tempestade perfeita

Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, não são os problemas estruturais do Brasil que vão explicar o que está acontecendo em 2012, mas várias idiossincrasias. “Nesse ano, foi a crise global e fatores excepcionais (que impactaram o PIB)”, afirmou.

Esses fatores excepcionais não estão relacionados a problemas estruturais do Brasil – e incluem a seca no sul e no nordeste, a crise no Dnit, a implantação do “Euro5” (mudança na lei de emissões de poluentes por motores de veículos comerciais) para caminhões, a crise da construção residencial devido a excesso de oferta, problemas em bancos pequenos e médios, crise argentina, entre outros. O conjunto sugere que talvez o país tenha vivido, em 2012, uma espécie de “tempestade perfeita” (uma conjunto de fatos negativos concomitantes).


Os fatores excepcionais podem ter tirado entre 0,8 e 1 ponto percentual do PIB brasileiro esse ano, segundo o economista. “O crescimento tende a seguir mais moderado até que novos vetores dinâmicos surjam para aumentar a produtividade e os investimentos”, segundo o economista, que prevê maior crescimento no segundo semestre.

Falta de produtividade

Maílson da Nóbrega defende que desde 2005 o Brasil não passou por nenhuma reforma importante que tenha contribuído para aumentar a eficiência e a produtividade. “A reforma tributária não foi feita e o sistema piorou, o Brasil segue como campeão de horas pra lidar com tributos, a infraestrutura deteriorou... E isso tudo interfere na operação da logística. Está aí uma explicação para a perda de dinamismo da economia brasileira”, disse o economista.

O Brasil virou uma economia de baixa produtividade e baixo potencial de crescimento, segundo o ex-ministro. Para o economista, o argumento de que o mercado externo, em crise, não está comprando não é verdadeiro. “A parte afetada pela crise é exportação de manufaturados. O Brasil continua vendendo. Vende menos, mas vende”, disse.

Falta de investimentos em infraestrutura

Produtividade está diretamente relacionada à infraestrutura. Para Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o principal motivo para essa expectativa menor de crescimento do PIB nesse ano é a falta de investimentos em infraestrutura. “Uma indústria forte mais competitiva internacionalmente é importante, não adianta abaixar IPI de carro nacional, isso só ajuda no mercado interno”, disse Dana.

Para Dana, as medidas de incentivo do governo já surtiram efeito, mas a realidade de hoje é diferente. “Mesmo no PAC equipamentos, é o governo consumindo. Precisamos produzir mais, aumentar a capacidade de produção”, afirmou Dana.

Octavio de Barros afirma que o ritmo dos investimentos públicos em 2012 – visto como fator importante de direcionamento da economia – foi superestimado. “Os investimentos para os eventos esportivos ainda não afetam a economia como se esperava. O impacto da crise do Dnit e outros fatores intrínsecos à lentidão decisória no setor público pioraram a situação”, afirmou.


O efeito do crescimento do consumo brasileiro no PIB também foi superestimado, segundo o economista-chefe do Bradesco. “O setor de serviços parrudo e crescendo forte não foi capaz de compensar o frustrante crescimento industrial por dois anos seguidos”, afirmou, em relatório.

Impacto das medidas para conter os efeitos da crise de 2008

“Por um tempo tapou-se o buraco aberto em 2008 na crise, mas ele se esticou, durou 2009, 2010 e parte do começo de 2011. Esse processo acabou antecipando muito do consumo futuro, do investimento futuro, e agora esse excesso acaba pesando um pouco no crescimento de curto prazo”, disse Caio Megale, economista do Itaú Unibanco. O economista defende que esse é apenas um dentre diversos fatores que levam à redução das expectativas sobre o PIB de 2012.

Megale separa o crescimento baixo em componentes cíclicos e estruturais. Os cíclicos são os que impactam a economia agora, mas logo devem se dissipar – permitindo que o PIB retome seu crescimento. Um exemplo de fator temporário são os estoques, segundo o economista. “No final de 2012 e começo de 2011, a expectativa era de crescimento muito forte, logo, a produção foi acelerada, mas a demanda desacelerou, gerando estoques. Isso nos surpreendeu no começo do ano, não percebíamos quão longo seria esse ajuste de estoques”, disse Megale.

Para Maílson da Nóbrega, houve certo esgotamento da estratégia adotada em 2009, perante a crise de 2008. “2012, em termos de instrumental à disposição do governo e sociedade para consumir mais, não é o mesmo de 2009”, disse o economista.

China

No segundo trimestre, a atividade econômica da China registrou seu sexto trimestre seguido de desaceleração. Afetada pela crise no mercado europeu, a China afeta emergentes satélites, como o Brasil. O Brasil é mais sensível à China do que à Europa, segundo Octavio de Barros.

As exportações brasileiras para a China somaram 44,3 bilhões de dólares em 2012. O número que representou 17,3% do total das vendas externas, de 256 bilhões de dólares.

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