Economia

5 cicatrizes que permanecem nos EUA depois do quase calote

A recorrência de problemas fiscais nos Estados Unidos abalou não só a imagem dos partidos Republicano e Democrata, como também a credibilidade americana perante o mundo


	Servidores federais retiram a barreira para a reabertura do memorial Martin Luther King, em Washington: republicanos e democratas chegaram a um acordo para evitar o calote
 (Mark Wilson/Getty Images)

Servidores federais retiram a barreira para a reabertura do memorial Martin Luther King, em Washington: republicanos e democratas chegaram a um acordo para evitar o calote (Mark Wilson/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2013 às 15h20.

São Paulo - Após 16 dias de paralisação do governo e de intensas negociações entre republicanos e democratas, os Estados Unidos conseguiram, para alívio mundial, chegar a um acordo para livrar o país de um calote visto como catastrófico - ou pelo menos arrastar as discussões por mais quatro meses.

O acordo aprovado pela Câmara e Senado e assinado pelo presidente Barack Obama na noite desta quarta-feira, elevou o limite da dívida americana até 7 de fevereiro, afastando o risco de default e possibilitando a reabertura do governo.

Agora, republicanos e democratas deverão negociar o orçamento fiscal até meados de dezembro.

Passado o sufoco, o país - e o mundo todo - avalia quais foram os danos colaterais para a economia que estava começando a se recuperar.

Entre eles, o abalo da credibilidade americana perante os mercados internacionais e o provável prolongamento dos estímulos monetários do Federal Reserve. 

Veja a seguir as cinco principais cicatrizes que ficam na economia americana após o "quase-calote":

1- Credibilidade abalada

A credibilidade americana perante o mundo sai abalada. “Esse período deixou muito claro que os problemas fiscais nos Estados Unidos se tornaram recorrentes e que a gestão Obama é incapaz de coordenar uma situação política harmônica que evite esse tipo de problema”, afirma André Perfeito, da Gradual Investimentos.

O discurso do presidente Barack Obama logo após a aprovação do acordo é mais uma prova do clima de insegurança."Nós vamos nos recuperar disso, somos indispensáveis, seguros para o mundo todo. Conquistamos isso nos últimos 200 anos, mas porque mantemos nossa palavra e cumprimos nossas obrigações. Vocês podem contar conosco", disse Obama, pedindo que o mundo volte a confiar nos Estados Unidos.

Na opinião do professor Samir Cury, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV), esta crise de credibilidade põe em questão a posição dos Estados Unidos como país líder da economia e do sistema financeiro mundial. 

Nesta semana, um jornal chinês publicou um editorial pedindo pela "desamericanização" do mundo. O jornal Xinhua, controlado pelo governo da China, publicou o texto no qual afirma que, tendo em vista as recorrentes crises fiscais no país, o mundo precisa que uma nova moeda seja institucionalizada para o comércio mundial. 

“O próximo round dessa briga entre os partidos já está marcado e não há nenhum indicativo de que vá ser uma negociação mais fácil”, afirma Cury. 

2- Estímulos monetários ganham força

Com a política fiscal engessada pelos embates partidários, recai sobre a política monetária o papel de manter a economia americana em processo de recuperação. Antes dessa crise, o mercado já estava esperando que o Federal Reserve (FED, o Banco Central americano) começasse a diminuir gradativamente a injeção de dinheiro na economia.


Agora, com a decisão sobre o teto da dívida em suspenso até o começo do ano que vem, é improvável que o BC continue com este plano. “Eles não vão fazer isso agora nem em um horizonte previsível”, afirma o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos.

3- Dólar enfraquecido

Outra consequência do arranhão na imagem da economia americana pode ser sentido na moeda. Segundo André Perfeito, pode haver um enfraquecimento ou menor interesse dos investidores em relação ao dólar

4- Investidor e consumidor desconfiados

Alguns setores da economia americana que estavam em recuperação, como o de construção e o de consumo, devem sofrer com a queda na confiança tanto do investidor quanto do consumidor.

Isso acontece porque tanto a expectativa de curto prazo quanto a de longo prazo ficaram abaladas. O mercado imobiliário, por exemplo, depende de investimentos de longo prazo, mas com a situação do orçamento e da dívida indefinidas pelo menos até o início de 2014, os empresários devem postergar esses aportes financeiros até que a situação esteja mais estável. 

5- Consequências imediatas

Os 16 dias de paralisação do governo americano tiveram consequências imediatas relacionadas, principalmente, a atividades do governo que não funcionaram. Com o fechamento de parques e museus, houve uma queda na arrecadação com turismo. Os funcionários paralisados, sem saber quando voltariam a receber seus salários, diminuíram o consumo e houve uma menor circulação de renda. 

Além disso, algumas atividades de comércio exterior, como exportação e importação, que dependem de autorizações de órgãos federais ficaram paradas. “São pequenas coisas, com impacto pequeno dentro do tamanho da economia americana, mas para um país que estava se recuperando, não é uma boa notícia”, explica o professor Samir Cury. 

Segundo estimativa do banco Morgan Stanley, cada semana de paralisação custou 0,15 ponto percentual ao PIB americano do quarto trimestre. 

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