Vista do Morro do Papagaio em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil (Thinkstock/Thinkstock)
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 00h05.
Última atualização em 22 de janeiro de 2018 às 08h28.
São Paulo - A riqueza dos bilionários no mundo aumentou 13% ao ano, em média, desde 2010. O ritmo é seis vezes mais rápido do que os 2% de alta anual média nos salários pagos a trabalhadores.
Os dados estão no relatório “Recompensem o trabalho, não a riqueza”, lançado nesta segunda-feira (22/1) pela Oxfam, organização internacional não-governamental de combate à pobreza e desigualdades.
"A economia segue sendo muito boa para quem já tem muito e péssima para quem tem pouco”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil, em nota para a imprensa.
Os números chegam em timing estratégico, um dia antes do início da reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
O evento que reúne a elite política e econômica do mundo contará com o presidente brasileiro Michel Temer e o presidente americano Donald Trump entre seus cerca de 3 mil participantes.
Desigualdade
O relatório da Oxfam afirma que de toda a riqueza gerada no mundo em 2017, 82% foi parar nas mãos do 1% mais rico do planeta.
Enquanto isso, a metade mais pobre da população global – 3,7 bilhões de pessoas – não ficou com nada. Os dados são referentes ao patrimônio líquido e tem como fonte o banco Credit Suisse.
A escolha metodológica da organização de usar a medida de riqueza menos dívida foi criticada no passado por ser demasiadamente simplista e causar distorções.
"A opção foi feita depois de consultar especialistas e não causa distorção pois não muda a narrativa", afirma Rafael Georges, coordenador de campanhas da Oxfam Brasil.
"Como estamos falando de dados agregados e de população mundial, casos isolados de quem é rico e tem dívidas – os Eikes [Batistas] da vida – se perdem nesse mar estatístico. Quem tem dívidas, em geral, são os mais pobres", diz ele.
Isso também explica, segundo ele, como como pode haver continuidade de queda na taxa de pobreza global, um fenômeno que já dura décadas, mesmo verificando que os mais pobres não estão construindo patrimônio e que as desigualdades estão aumentando.
“A maioria das pessoas no Brasil e no mundo vive de renda do trabalho, uma medida melhor captada nas pesquisas de renda, e não de patrimônio", diz Pedro.
Ele também nota que as taxas de pobreza são medidas por linhas "muito pouco ambiciosas" e que mesmo quem as supera em dado momento pode seguir vulnerável ou estar se endividando.
O mundo ganhou um bilionário a cada dois dias entre março de 2016 e março de 2017, levando para 2.043 o total de bilionários no planeta. Nove em cada 10 são homens.
O número de bilionários brasileiros no período passou de 31 para 43, com patrimônio acumulado de US$ 549 bilhões, um crescimento de 13% em relação ao ano anterior.
Ao mesmo tempo, os 50% mais pobres do país viram sua fatia da renda nacional ser reduzida ainda mais.
O país tem hoje, segundo o relatório, 5 bilionários com patrimônio equivalente ao da metade mais pobre da população brasileira.
A Oxfam também fez uma pesquisa com 120 mil pessoas em 10 países que representam um quarto da população mundial.
Mais de três quartos dos entrevistados concordam que o fosso entre ricos e pobres em seu país é muito grande, variando de 58% na Holanda a 89% na Nigéria, e 60% concordam que é responsabilidade dos governos reduzir a lacuna.
A organização diz que a situação é fruto de "uma 'tempestade perfeita'” em que sindicatos perdem poder de negociação e "empresas usam a mobilidade dos seus investimentos para promover uma 'corrida para trás' entre países em termos de tributação e direitos trabalhistas", entre outros fatores.
Entre as recomendações do relatório da Oxfam para melhorar a situação estão limitar os retornos a acionistas e altos executivos, garantir que os ricos paguem uma cota justa de impostos, combatendo a evasão e sonegação fiscais, e aumentar gastos com serviços públicos, como de saúde e educação.
A estimativa da organização é que um imposto global de 1,5% sobre a riqueza dos bilionários poderia cobrir os custos de manter todas as crianças na escola.