Economia

4 destaques sobre o crescimento do PIB em 2011

Com um crescimento abaixo do esperado e longe do bom desempenho de 2010, resultados da economia brasileira não podem ser explicados apenas pela crise internacional

No primeiro ano do governo Dilma, PIB avançou 2,7%; presidente citou a crise como causa do baixo crescimento (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

No primeiro ano do governo Dilma, PIB avançou 2,7%; presidente citou a crise como causa do baixo crescimento (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de março de 2012 às 17h50.

São Paulo – O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje os números do crescimento da economia do país em 2011. O Produto Interno Bruto (PIBcresceu 2,7%, um resultado bem distante dos 7,5% observados em 2010.

Os números, abaixo do esperado pelo governo, foram justificados pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com base na crise internacional e nas medidas de contenção adotadas no fim de 2010 e começo do ano passado para frear a escalada da inflação.

Para economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Ibmec, os resultados podem ser atribuídos à crise, mas apenas em parte. Os problemas mais profundos continuam sendo alguns velhos conhecidos, como o nível insuficiente de investimentos por parte do governo e as dificuldades em alavancar a competitividade da indústria nacional.

Veja abaixo quatro destaques apontados pelos economistas a respeito do crescimento econômico do país em 2011.

Ruim para o mundo, pior para o Brasil

Tanto a presidente Dilma Rousseff quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, comentaram o anêmico resultado do PIB pondo boa parte da culpa na crise internacional. Para Mantega, por exemplo, o crescimento foi considerado satisfatório, em um ano de crise, combate à inflação e medidas macroprudenciais.

Entretanto, para o professor de economia da FGV Samy Dana, o resultado foi baixo demais para um país emergente. “Uma coisa é um país desenvolvido, como a Alemanha, crescer a esta taxa. (A projeção do FMI é que a Alemanha cresça 3% em 2011). Eles já têm infraestrutura e um padrão de vida elevado. Outra coisa é um país que tem tanto para crescer apresentar um avanço destes no PIB”.

O pior dos BRICs

Com o avanço de 2,7% no PIB, o Brasil termina o ano de 2011 com um desempenho bem abaixo do de seus colegas emergentes. Segundo projeções do FMI, Rússia, Índia e China devem reportar crescimentos em 2011 de 4,1%, 7,4% e 9,2%, respectivamente.

“A China está conseguindo crescer mesmo em meio à crise e tem procurado constantemente espaço para depender menos dos Estados Unidos e da União Europeia. O Brasil está perdendo esta oportunidade. Geramos empregos a uma taxa parecida com a chinesa, mas aqui pagamos mais impostos, temos custos altos, câmbio valorizado, e isso torna as coisas muito complicadas”, afirma Dana.


Cambio e indústria

Em entrevista coletiva para falar dos resultados do PIB em 2011, o ministro Guido Mantega falou sobre a relação entre a questão cambial e o baixo desempenho da indústria ao longo do ano. Segundo o ministro, o governo vai usar um arsenal de medidas para impedir a valorização do real e melhorar a competitividade do setor industrial.

Segundo o professor de economia do IBMEC Reginaldo Nogueira, o real valorizado tem sido um problema recorrente há alguns anos. “O problema é que isto se intensificou agora e tornou ainda mais escancarados os problemas de produtividade que a indústria brasileira tem. Não temos mais um câmbio que compense nossas deficiências, nossa carga tributária elevada, a infraestrutura em frangalhos e a baixa qualificação da mão de obra”, afirma.

Para Nogueira, a preocupação maior deveria ser com investimentos que suprissem as carências da indústria nacional. Isto porque a tendência de valorização do real tende a ser contínua, já que, em tempos de crise, a regra básica da política econômica é a de tomar medidas monetárias expansionistas. “Não podemos acusar Europa e Estados Unidos por isso, é algo esperado quando se está em uma crise. Eles querem evitar uma crise bancária seríssima, faz parte do jogo, é economia básica.”

Juros

O crescimento aquém do esperado pode significar um espaço maior para o governo cortar juros. Amanhã o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia a nova taxa Selic, que atualmente está em 10,50% ao ano.

Tanto o economista da FGV quanto o do Ibmec esperam um corte de 0,5 ponto percentual na taxa. “Não adianta cortar mais do que isto, porque ainda estamos sendo pressionados pela inflação no setor de serviços. De que adianta cortar muito a Selic se algumas das taxas mais comuns no Brasil, como do cartão de crédito e do cheque especial ainda estão nas alturas?”, afirma Sami Dana, da FGV.

Para ele, os estímulos à economia por meio de artifícios monetários, como os cortes na taxa básica de juros, são uma maneira “de não encarar assuntos mais sérios como reformas fiscais e estruturais, competitividade, regulação, e aumento dos investimentos”.

Acompanhe tudo sobre:Crescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoIndicadores econômicosPIBPolítica cambialPolítica industrial

Mais de Economia

ONS recomenda adoção do horário de verão para 'desestressar' sistema

Yellen considera decisão do Fed de reduzir juros 'sinal muito positivo'

Arrecadação de agosto é recorde para o mês, tem crescimento real de 11,95% e chega a R$ 201,6 bi

Senado aprova 'Acredita', com crédito para CadÚnico e Desenrola para MEIs