Economia

Alta do dólar ainda vai longe, diz BlackRock; veja 3 razões

Experiência histórica mostra que dólar pode estar entrando em um ciclo longo de valorização graças a um boom energético e a uma divergência de políticas

Notas de dólar (Gary Cameron/Reuters)

Notas de dólar (Gary Cameron/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de agosto de 2015 às 18h49.

São Paulo - O dólar começou a semana passando dos 3,45 reais, aprofundando uma desvalorização da moeda brasileira que foi de 10% em julho e quase 30% em 2015.

No nosso caso, contam as incertezas políticas e a decisão do Banco Central de não intervir, além da revisão da meta fiscal e o cenário cada vez mais sombrio da economia.

Mas é fato que o dólar está se fortalecendo já faz um tempo em relação a praticamente todas as moedas que importam no mundo (com a exceção do yuan chinês). E o ciclo deve continuar.

3 razões para isso foram dadas por Russ Koesterich, estrategista-chefe mundial da BlackRock, em um post no blog oficial da empresa, que gerencia US$ 4,2 trilhões em ativos no mundo. Veja:

1. Políticas divergentes dos bancos centrais

Com os sinais positivos da economia e do mercado de trabalho norte-americanos, não deve passar de setembro ou dezembro a primeira alta de juros pelo Federal Reserve desde a crise financeira. 

Só que enquanto os Estados Unidos apertam, outros países relaxam, entre eles grandes economias como a Índia. É uma falta de sincronia que já tem um bom tempo e pode ser positiva, mas que assusta os emergentes e impulsiona o dólar.  

A Europa tem não apenas juros baixos mas está sendo implementado um programa de compra de ativos para expandir a base monetária, evitar a deflação e estimular o crescimento.

Isso fez a cotação do dólar subir mais de 20% em relação ao euro só nos últimos 12 meses, uma dádiva para um bloco que sofre com a falta de demanda interna e depende de exportações para crescer.

2. A ressurreição do setor de energia dos EUA

Graças ao desenvolvimento de técnicas alternativas de extração de xisto, os Estados Unidos vivem um boom de produção de petróleo e podem superar a Arábia Saudita como maior produtor mundial ainda este ano.

O déficit em conta corrente do país caiu pela metade nos últimos 10 anos, o que apóia a força do dólar. Isso também ressuscitou o debate sobre revogar a proibição de exportar petróleo cru, estabelecida durante as crises de abastecimento estrangeiro nos anos 70.

Reverter este veto seria uma "política simples para estimular o crescimento econômico, abaixar os preços de petróleo e agradar aliados internacionais", de acordo com editorial do jornal The Washington Post publicado neste final de semana.

3. Os ciclos de alta do dólar tendem a durar anos e não meses

"A alta do dólar que estamos vendo este ano é discreta comparada aos episódios de dólar forte do começo dos anos 80 e final dos anos 90. O rali do dólar pode estar só começando", diz o texto da BlackRock.

Mas a firma alerta: espere uma trajetória de valorização, mas não desconte correções de percurso. Ciclos anteriores de apreciação do dólar duraram de 6 a 7 anos, mas chegavam a ter um ano de queda neste ínterim.

E um dólar forte não significa que os EUA devem só comemorar. No 1º trimestre, suas importações cresceram 7,1% e suas exportações caíram 5,9%. De acordo com o New York Federal Reserve, uma alta de 10% no dólar come 0,5% do PIB do país.

Um dólar forte também significa que na prática, há um aperto na liquidez internacional, já que mais de 80% das trocas financeiras internacionais são em dólares, de acordo com a Sociedade para a Telecomunicação Interbancária Financeira Mundial (SWIFT).

Um real mais fraco inibe os gastos no exterior e ajuda as exportações brasileiras, mas se todas as outras moedas de emergentes também caem, este efeito é diluído. 

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