Temer: o preço teto para as usinas no certame é de 248 reais por megawatt-hora (Adriano Machado / Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2016 às 21h19.
São Paulo - O primeiro leilão para contratação de novas usinas de energia a ser realizado após a mudança de governo no Brasil, com a posse de Michel Temer como presidente, deverá ser bem-sucedido em viabilizar novos projetos, embora um cenário econômico ainda desafiador deva limitar a competição entre os investidores.
Especialistas ouvidos pela Reuters apostam que o leilão de reserva agendado para sexta-feira, que contratará apenas hidrelétricas de pequeno porte, oferece um preço atrativo o suficiente para atender a demanda, que deve ser baixa em função da retração da economia, que derrubou o consumo de eletricidade.
Mas a falta de financiamento em condições favoráveis, principalmente, deve inibir uma maior disputa entre investidores pelos contratos de venda de energia, que poderia reduzir preços e beneficiar o consumidor.
O preço teto para as usinas no certame é de 248 reais por megawatt-hora.
"Não vai ter aquele alvoroço, provavelmente o deságio não vai ser tão grande, nem vai ter tantos projetos que realmente vão entrar. Mas o preço está realista, dá para projetos interessantes serem viabilizados... dá pra ter uma competição", afirmou a diretora da consultoria Thymos Energia, Thaís Prandini.
No leilão de reserva, que têm como objetivo aumentar a segurança do sistema elétrico, a demanda é definida pelo governo, ao contrário dos demais leilões para novas usinas, cuja contratação é guiada pela demanda declarada pelas distribuidoras.
O baixo nível de contratação de pequenas hidrelétricas nos últimos anos e a fraca demanda devem ajudar no resultado do certame, uma vez que há um grande estoque de projetos dessas usinas à espera de oportunidades de negócios.
O presidente da Abragel, associação que reúne investidores nesse segmento, Leonardo Sant'Anna, disse que há cerca de 2,5 gigawatts em projetos de pequenas hidrelétricas aptos a participar de leilões, embora boa parte deles não seja competitivo ao preço teto do leilão de sexta-feira.
"A gente espera que tenha empreendedores que consigam viabilizar nesse leilão... mas vemos uma participação menor por conta da precificação... o governo pode estar calibrando (o preço) pela quantidade que ele vai contratar", avaliou.
Foram habilitados para disputar o leilão 641 megawatts em usinas. As vencedoras fecharão contratos para venda da energia por 30 anos, com início do suprimento em março de 2020.
O governo não revela a demanda a ser contratada no leilão, considerada um dado estratégico que pode influenciar na disputa entre os investidores.
Para o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, a demanda deve ficar em torno dos 100 megawatts médios e a oferta não deve ultrapassar o dobro disso, o que deve levar a um certame rápido, com pouco espaço para descontos nos preços.
"Não tem muito projeto, as empresas não têm dinheiro, não têm financiamento... não vejo deságio maior que 10 por cento", afirmou.
Teste de apetite
O presidente da comercializadora de energia América, Andrew Frank, disse que há grande expectativa pelo resultado do certame, que mostrará o nível de apetite dos investidores em energia após a total reformulação da equipe do Ministério de Minas e Energia na gestão Temer.
O certame também testará até que ponto o governo pretende contratar mais energia em um momento de consumo em queda.
"É o primeiro leilão do novo governo, o primeiro depois de uma revisão de carga de energia apontar que a demanda não caiu tanto nesse ano... é um leilão interessante", afirmou Frank.
A nova equipe do ministério tem reiterado em diversas oportunidades a intenção de trabalhar com "preços realistas" nos leilões de energia para atrair o setor privado e fomentar investimentos.
Ao mesmo tempo, investidores e fabricantes pedem também que o governo mantenha a realização de leilões para fomentar investimentos e evitar o esvaziamento de fábricas de equipamentos em meio à menor demanda.