Economia

10 motivos para o mundo manter juros baixos, segundo o FMI

Em antecipação à reunião do G20, FMI faz apelo: mundo está turbulento demais e é preciso que os juros não subam por enquanto


	Mãos de Christine Lagarde, a diretora do FMI: eles querem que os juros continuem baixos
 (Simon Dawson/Bloomberg)

Mãos de Christine Lagarde, a diretora do FMI: eles querem que os juros continuem baixos (Simon Dawson/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 3 de setembro de 2015 às 13h55.

São Paulo - Lá se vão sete anos da crise financeira - e sete anos de juros levados para zero (ou quase isso) nos países ricos.

A maré mudou desde que o Federal Reserve americano começou a desmontar seu programa de compra de ativos e sinalizou que uma alta nas taxas estava próxima.

O mercado reagiu tirando dinheiro e derrubando moedas de países emergentes, mas a fraqueza do crescimento mundial e as turbulências recentes da China semeiam dúvidas de que a era do juro zero esteja prestes a acabar.

De acordo com uma pesquisa do Citi, há 6 meses atrás os mercados estavam precificando em 60% a chance do Fed subir os juros em setembro. Este número já caiu para 40%.

Amanhã, começa na Turquia a reunião que vai reunir os presidentes de bancos centrais e ministros das Finanças dos países do G-20 (incluindo Joaquim Levy).

Em antecipação, o FMI (Fundo Monetário Internacional) acaba de lançar um relatório defendendo que a política monetária precisa continuar frouxa. E deram 10 motivos para isso:

1. Aumentou a incerteza sobre as perspectivas das economias emergentes

Em um discurso nesta semana, a presidente do FMI, Christine Lagarde, disse que as economias emergentes "necessitam estar atentas para conduzir os possíveis efeitos secundários da desaceleração e o ajuste das condições financeiras globais".

2. O crescimento global na segunda metade de 2015 desacelerou em relação ao mesmo período do ano passado.

Só nesta semana, mais 3 sinais já surgiram de que a economia global não vai bem: recessão no Canadá, queda de dois dígitos nas exportações sul-coreanas (um indicador importante) e atividade fraca nas indústrias dos Estados Unidos, zona do euro, China e Brasil.

3. Nas economias avançadas, o ritmo de recuperação diminuiu em meio a uma prolongada fraqueza no crescimento da produtividade.

Nesta quinta-feira, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, manteve as taxas de juros inalteradas, reviu para baixo as previsões de crescimento e inflação e prometeu reforçar ou prolongar o programa de compra de títulos em caso de mais piora.

4. O crescimento nos emergentes está diminuindo com diferenças grandes entre regiões e países.

Nesta parte, o FMI fala de Brasil, que divulgou na semana passada uma queda de 1,9% do PIB:

"A retração foi maior que o esperado, com confiança dos negócios e dos consumidores ainda recuando em meio a condições políticas em deterioração. Com preços das commodities em declínio, o ímpeto continua a enfraquecer em outros países da região".

5. As condições financeiras continuam fáceis nas economias avançadas, mas apertaram para os emergentes diante da deterioração do clima no mercado financeiro.

No Brasil, o fluxo financeiro teve saldo negativo até 28 de agosto, mas foi compensado por uma melhora na balança comercial. 

Na contramão da política monetária frouxa dos países avançados, o Brasil tem os juros reais mais altos do mundo. O ciclo de aumentos promovido pelo Banco Central tem como objetivo trazer a inflação para perto do centro da meta do ano que vem.

6. Os preços das commodities enfraqueceram de forma aguda.

As mudanças e turbulências na China fazem minguar seu apetite por recursos, o que tende a puxar para baixo o preço das commodities.

O petróleo, em especial, está abaixo da metade do seu preço de pico, com duras consequências para grandes exportadores como Rússia e Venezuela.

As commodities foram um grande motor da expansão brasileira na década passada e a queda dos seus preços nos prejudica. Agora teremos que viver "do nosso próprio suor", segundo o ministro Levy.

7. As taxas de câmbio nos emergentes sofreram forte pressão nas últimas semanas.

No Brasil, o dólar já está perto do patamar de R$ 3,80. Grande parte disso é por causa de fatores locais, como a apresentação do Orçamento com déficit, mas há quedas fortes nas moedas de outros países como Rússia e Colômbia.

8. A atividade econômica nas economias avançadas deve acelerar de forma apenas modesta neste e no próximo ano.

9. O cenário para os emergentes enfraqueceu relativamente a 2014.

10. A distribuição de riscos continua no lado negativo, e uma materialização simultânea de alguns destes riscos implicaria em um cenário bem mais fraco.

Em outras palavras: o mundo não pode correr o risco de aumentar juros em um cenário onde um pouso forçado da China e uma nova rodada de tensão com a Grécia já poderiam, sozinhos, colocar tudo a perder.

O investidor veterano Bill Gross, da Janus Capital, discorda. Para ele, juros tão baixos por tanto tempo criam mais distorções do que resolvem:

"O Fed está começando a reconhecer que 6 anos de juro zero têm influência negativa na economia real - eles destroem modelos de negócios históricos essenciais para o capitalismo como fundos de pensão, empresas de seguros e a própria disposição de economizar o dinheiro em si".

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