Economia

1% mais rico ganha 34 vezes mais do que a metade mais pobre, diz IBGE

PNAD mostra alta da desigualdade, com pior índice de Gini desde início da série em 2012, e queda no percentual de domicílios atendidos pelo Bolsa Família

Bairro de Salvador: o Nordeste tem 27% da população brasileira em idade ativa, mas estão ali 60% dos desalentados, os que desistiram de procurar trabalho (Marco Aurélio Martins/Exame)

Bairro de Salvador: o Nordeste tem 27% da população brasileira em idade ativa, mas estão ali 60% dos desalentados, os que desistiram de procurar trabalho (Marco Aurélio Martins/Exame)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 16 de outubro de 2019 às 11h03.

Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 13h19.

São Paulo - O rendimento médio mensal de trabalho do 1% mais rico do Brasil foi quase 34 vezes maior que da metade mais pobre em 2018, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira (16).

Isso significa que a parcela de maior renda ganhou em média R$ 27.744 por mês, enquanto os 50% na base da pirâmide ganharam R$ 820.

10,4 milhões de pessoas (5% da população) sobrevivem com R$ 51 mensais, em média. Se considerados os 30% mais pobres, o equivalente a 60,4 milhões de pessoas, a renda média per capita sove a apenas R$ 269.

Enquanto os 10% mais pobres da população detinham apenas 0,8% da massa de rendimento, os 10% mais ricos detinham 43,1%. A concentração da renda não era tão alta desde o início da pesquisa, em 2012.

Também houve alta do Índice de Gini, uma das principais medidas de desigualdade, no que se refere ao rendimento médio mensal real domiciliar per capita.

A taxa, que varia de zero (igualdade total) até um (desigualdade máxima), foi estimado em 0,545 em 2018. Entre 2012 e 2015 houve uma tendência de redução (de 0,540 para 0,524), que foi sendo revertida a partir de 2016.

Curiosamente, houve queda do índice no Nordeste de 2017 para 2018. A analista do IBGE, Adriana Beringuy, nota que isso está relacionado menos com uma melhora na renda dos pobres e mais com uma queda na renda dos ricos. Isso ilustra o fato de que a renda é tão concentrada que pequenas variações no topo podem ter impacto forte sobre a medida.

O diagnóstico geral, no entanto, é que os mais pobres ficaram mais pobres e os mais ricos ficaram mais ricos, de acordo com Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad. O fenômeno tem relação com a crise no mercado de trabalho, que afetou especialmente o extrato de trabalhadores com menor qualificação e menor remuneração.

Quando começou a melhora na geração de vagas, os desempregados que conseguiram retornar ao mercado de trabalho passaram a ganhar menos em funções semelhantes ou a atuar em postos informais, que também remuneram menos.

O efeito da crise econômica sobre a desigualdade já havia sido verificado em outras análises. Em agosto, a Fundação Getúlio Vargas divulgou um estudo apontando alta da desigualdade há 17 trimestre seguidos, também com base na PNAD.

Vale lembrar também que calcular a desigualdade através da renda do trabalho medida por pesquisas domiciliares tem suas limitações, pois as famílias mais ricas, essenciais para o cálculo da concentração, têm grande parte da sua riqueza advinda de rendimentos financeiros, que tendem a ser subnotificados.

Renda do trabalho

A média de rendimentos do trabalho do país, considerando pessoas de 14 anos ou mais, ficou em R$ 2.234 no ano de 2018. É mais do que o valor inicial da série em 2012 (R$ 2.133), mas menos do que o registrado em 2014, que foi de R$ 2.279.

No Nordeste, o rendimento médio era de R$ 1.479, enquanto no Sudeste, chegou a R$ 2.572. Na passagem de 2017 para 2018, o Nordeste foi a única região onde o rendimento de trabalho diminuiu.

O rendimento do trabalho corresponde a aproximadamente três quartos do rendimento total das famílias, segundo ela. Em seguida vem as aposentadorias, recebidas por 14,6% da população, com valor médio de R$ 1.872.

A proporção de domicílios que recebiam rendimentos do Programa Bolsa Família caiu de 15,9% em 2012 para 13,7% em 2018. O declínio se acentuou a partir de 2014 e 2015.

O rendimento médio mensal domiciliar dos que recebem dinheiro do programa também caiu e está em R$ 341, após ter chegado ao pico de R$ 398 em 2014.

(Com Estadão Conteúdo)

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