20º Estados Unidos (Damyen Morris/Flickr)
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de fevereiro de 2015 às 15h19.
São Paulo - "Nós somos o 99%": o grito dos manifestantes do Occupy Wall Street ganhou o imaginário popular e se tornou símbolo da reação contra o aumento da desigualdade.
Do outro lado, está o 1%, pintado como um grupo isolado. Mas na verdade, 1 em cada 9 americanos fará parte desta elite em algum momento da vida, de acordo com um novo estudo publicado pela PLOS ONE.
"Muitos experimentam mobilidade intermitente ou de curto prazo no topo da pirâmide, contra uma parcela menor que persiste neste degrau ao longo de vários anos consecutivos.", dizem Thomas A. Hirschi, da Universidade de Cornell, e Mark R. Rank, da Universidade de Washington em St. Louis.
Eles não foram os primeiros a analisar a mobilidade no topo ao longo do tempo. Um estudo da Tax Foundation mostrou que entre 1999 and 2007, metade daqueles que ganharam mais de US$ 1 milhão em algum ano fizeram isso uma vez só, enquanto só 6% mantiveram o status de milionários ao longo de todo o período.
Outra análise, feita pela Receita americana, pegou os 400 maiores pagadores de impostos entre 1992 e 2009 e percebeu que 73% das pessoas só entraram na lista por um ano e apenas 2% apareciam por 10 anos ou mais.
Conclusões
O trabalho de Hirschi e Rank utilizou um banco de dados de 18 mil indivíduos ao longo de 44 anos, ajustado para refletir a composição da população geral.
Eles concluíram que ao chegar aos 60 anos, praticamente 70% da população terá passado pelo menos um ano entre os 20% mais ricos. 53% das pessoas terão passado pelo menos um breve período entre os 10% no topo, 36% entre os 5% e 11% no 1% mais rico.
"Ao invés de grupos estáticos que experimentam níveis contínuos de obtenção de renda, parece que existe um movimento muito mais fluido para dentro e para fora destes grupos", diz o texto.
Mas essa passagem pela elite da elite costuma durar pouco. 11% dos americanos passam pelo 1%, mas só 2,2% permanecem lá por 5 anos ou mais, e só 1,1% ficam firmes e fortes no topo por 10 anos ou mais.
Contexto
O lado ruim é que isto prova que o medo de perder riqueza tem raízes bem reais. O lado bom é que esta efemeridade impede que a desigualdade se torne ainda mais entrincheirada, além de mostrar que há oportunidades na sociedade - ainda que elas estejam longe de ser igualitárias:
"Educação, casamento e raça estão entre os fatores mais fortes que definem a renda do topo, e o efeito da raça em particular sugere padrões de desigualdade social relacionados ao passado e à exclusão e discriminação presente. Seria um engano presumir que a chegada no topo da pirâmide é apenas uma funação de trabalho duro, aplicação e igualdade de oportunidade.", diz o texto.
Outras conclusões do estudo também não são nada otimistas: 54% da população vai experimentar pelo menos um ano na pobreza ou próximo dela (definida como 150% abaixo da definição federal) e 79% viverá pelo menos um ano de "insegurança econômica".
O trabalho da dupla se insere em uma tendência recente de analisar fatores econômicos do ponto de vista da trajetória individual de uma vida.
Um estudo do instituto Brookings com a mesma base de dados usada por Rank e Hirschi mostrou que a a expectativa de vida dos mais ricos está crescendo muito mais rápido que a dos mais pobres. Outro trabalho do Fed de Nova York concluiu que são os 10 primeiros anos de carreira que definem a renda de um adulto.