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Tempo é dinheiro (e, em breve, dinheiro será tempo)

A longevidade (e em particular a longevidade com qualidade de vida) é um sonho cobiçado pela Humanidade desde tempos imemoriais. Porém, aquilo que antes se buscava por meio de poções mágicas, crenças heterodoxas e tratamentos bizarros, agora começa a ser perseguido com ajuda da tecnologia. De algum tempo para cá, alguns agentes econômicos relevantes têm feito investimentos sérios em longevidade, sem medo de serem rotulados como malucos, sonhadores ou simplesmente […] Leia mais

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Você e o Dinheiro

Publicado em 21 de maio de 2014 às, 16h48.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h28.

A longevidade (e em particular a longevidade com qualidade de vida) é um sonho cobiçado pela Humanidade desde tempos imemoriais. Porém, aquilo que antes se buscava por meio de poções mágicas, crenças heterodoxas e tratamentos bizarros, agora começa a ser perseguido com ajuda da tecnologia.

De algum tempo para cá, alguns agentes econômicos relevantes têm feito investimentos sérios em longevidade, sem medo de serem rotulados como malucos, sonhadores ou simplesmente egoístas. Talvez a iniciativa mais visível recentemente tenha sido do Google, que criou, em 2013, a Calico (California Life Company), uma empresa de biotecnologia cujo principal objetivo é desenvolver soluções para doenças ligadas ao envelhecimento e, talvez, para o envelhecimento em si.

As perspectivas de longevidade são, de fato, muito animadoras. A expectativa de vida mundial média da Humanidade, no final do Século XIX, não chegava aos quarenta anos. A tecnologia (inclusive a tecnologia médica) evolui de forma exponencial, e a expectativa de vida vem seguindo no mesmo passo.

Mas uma das grandes ironias do mundo das finanças pessoais é que, de um ponto de vista estritamente financeiro, viver muito não é um bom negócio. Uma vida mais longa implica em trabalhar mais tempo, acumular mais capital (com alto risco de, ainda assim, vivermos mais do que nosso patrimônio permite) e ficar dependente de procedimentos médicos cada vez mais caros e complexos.

Eu acredito que veremos alguns grandes avanços na tecnologia médica em breve – não só restritos ao campo das pesquisas, mas já com alguma aplicabilidade prática comercial. O problema é que essas novas tecnologias e procedimentos provavelmente não serão baratos e, pelo menos por algum tempo, deverão ficar restritos a um grupo de pessoas com “bala na agulha” (o que é normal, em se tratando de inovações tecnológicas). Por se tratar de procedimentos mais voltados ao “melhoramento pessoal” do que à cura de doenças específicas, é pouco provável que sejam oferecidos pelo sistema público ou mesmo planos de saúde (pelo menos no curto prazo).

Aqui no Brasil, vivemos um momento peculiar no campo das finanças pessoais. O crédito ao consumo era restrito e começou a ficar farto nos últimos anos, e hoje as angústias financeiras da população estão mais associadas ao endividamento do que a outros temas. Nas economias mais maduras e desenvolvidas, a preparação para a aposentadoria costuma ser o tema “campeão de audiência” (nós ainda não chegamos nesse ponto).

Eu acredito que não demorará muito para que essa questão da preparação para a velhice e a aposentadoria se torne a questão de finanças pessoais mais relevante também aqui no Brasil. Temos expectativa de vida aumentando, retornos financeiros reais caindo, o sistema previdenciário implodindo e, em breve, tratamentos e procedimentos médicos para estender a vida que, provavelmente, vão custar bem caro.

Tudo indica que, no futuro, as pessoas investirão nesses procedimentos para aumentar a longevidade. Estarão, efetivamente, trocando sua riqueza por mais tempo de vida. Benjamin Franklin já dizia que “tempo é dinheiro”, e agora estamos chegando a uma nova era onde o dinheiro também será tempo. É melhor ir se preparando.