Continua após a publicidade

Sobre touros e ursos

No mundo da bolsa de valores, é comum se usar metáforas do reino animal para designar investidores ou 'fases" do mercado. Saiba mais neste artigo.

colmeia2
colmeia2
V
Você e o Dinheiro

Publicado em 4 de junho de 2012 às, 13h07.

Última atualização em 25 de abril de 2019 às, 23h12.

Você já assinou minha newsletter? Fique por dentro de meus artigos, vídeos e outras publicações. Cadastre-se clicando aqui.

Quem nunca olhou para o céu à noite e ficou admirando as estrelas, as constelações, e imaginando como aqueles gregos malucos de antigamente (influenciados por babilônios ainda mais malucos) conseguiam enxergar figuras de animais e outras coisas, ligando pontos em estrelas aparentemente dispostas de forma aleatória? É preciso muita imaginação e muito boa vontade para unir meia dúzia de pontinhos no céu e conseguir enxergar um leão, um escorpião ou um carneiro.

Nós, seres humanos, temos essa mania de ver representações de animais em todo lugar, até no mercado financeiro. Investidores iniciantes (ou aspirantes a investidor), que se interessam pelas bolsas de valores, às vezes leem em livros, fóruns de internet ou ouvem de investidores mais experientes expressões como “os touros estão dominado o mercado” ou “os ursos estão saindo da toca” e ficam sem entender nada. “Afinal, estamos falando da bolsa de valores ou de um zoológico?”

É uma tradição no mundo da bolsa de valores associar os movimentos dos mercados a esses dois animais: o touro e o urso. A origem dessa história ainda é incerta, mas ela foi espalhada para o resto do mundo a partir dos Estados Unidos. Basicamente, se diz que o mercado em alta é o “mercado dos touros” e o mercado em queda o “mercado dos ursos”. Também é comum se referir aos “comprados” (aqueles que compram ativos apostando na alta) como touros, e aos “vendidos” (que apostam na baixa) como ursos.

Essa coisa de usar esses dois animais para simbolizar os movimentos do mercado vem, dizem eles, da observação de que o touro golpeia com os chifres de baixo para cima (daí a associação com o ato de “subir”) e o urso golpeia com a pata de cima para baixo (daí a associação com quedas). Assim como no caso das constelações dos gregos e babilônios, é preciso dar asas bem grandes à imaginação e também é necessária uma certa “forçada de barra” para conseguir enxergar isso.

Existem referências a ursos e touros no mercado em registros do final do Século XVIII. Eu às vezes tento imaginar de onde veio essa lenda, e me vêm à cabeça aqueles americanos do velho oeste, naquelas pradarias com enormes manadas de bisões, ou então já aos pés das rochosas, onde os ursos começam a aparecer. Aí eu imagino que eles deviam se socializar com os índios daquela região (isso, naturalmente, quando não estavam trocando tiros e flechadas uns com os outros…), talvez fumando o famoso “cachimbo da paz”… E vai saber que tipo de substância tinha naquele cachimbo! Daí para começar a ver ursos e touros no mercado financeiro era só um passo… (se bobear aparecia até um elefante cor de rosa…).

Mas o assunto surgiu na minha cabeça porque, na semana passada, tive uma discussão sobre isso com o pessoal que me acompanha nas redes sociais. Contei que na minha época de trader (vivi uns bons anos da minha vida exclusivamente de operações financeiras, principalmente em mercados futuros), eu tinha o hábito de colocar imagens que eu pegava na internet e expor no software de mensagens instantâneas que eu usava, assim todas as pessoas com quem eu tinha contato sabiam, só de olhar, se eu estava comprado ou vendido.

Uma vez eu fui alçado ao status de herói por meus colegas traders. Eu acertei na mosca um topo intermediário do mercado em maio de 2006 e fiquei vendido no índice futuro (não é comum acertar uma virada de movimento com essa precisão, mas às vezes acontece). Coloquei uma imagem do personagem “Zé Colméia”  apontando para baixo! E ainda escrevi “vendidão” na minha mensagem de status. O pessoal adorou e isso virou um clássico instantâneo na “subcultura trader”.

Outras vezes eu colocava a imagem de um touro doente que está neste link do portal americano “Marketwatch” (da Dow Jones) que você pode ver clicando aqui.

Quando estava comprado, também usava figuras de touros mais animados para comunicar minha posição. Mas isso era apenas uma brincadeira, uma bobeira de trader principiante e ingênuo querendo “tirar uma onda” com os outros. Às vezes eu acertava, e tinha meus momentos de glória. Mas muitas vezes o tiro saia pela culatra e eu ficava ali, me sentindo envergonhado (e com um pouco menos de dinheiro…) com aquele urso apontando pra baixo, rindo da minha desgraça, enquanto o mercado subia como um foguete debaixo do meu nariz… Mas isso faz parte da vida do trader (e também do investidor menos agressivo). Às vezes se ganha, às vezes se perde… Não tem como acertar sempre. Aliás, muitos traders e investidores de sucesso erram muito mais que acertam, mas conseguem ser bem sucedidos no mercado pois sabem gerenciar o dinheiro e controlar os riscos. O importante é proteger o capital e procurar ganhar muito quando se acerta e perder pouco quando se erra.

Para finalizar: A "fauna" da bolsa não é habitada apenas por touros e ursos. Aqui no Brasil os animais aquáticos também marcam presença e frequentemente ouvimos falar de "sardinhas" e "tubarões". Se quiser saber mais sobre o que é uma "sardinha da bolsa" (e como não virar uma), de uma olhada neste outro artigo meu: Como não ser uma “sardinha” na bolsa.

Quer receber atualizações deste blog e outros conteúdos por email? Assine minha newsletter clicando aqui.