Reserva de emergência – quando NÃO devemos ter
A reserva de emergência é considerada um dos pilares da boa gestão financeira pessoal. Mas existem casos em que ela não é tão importante assim.
Da Redação
Publicado em 7 de maio de 2015 às 14h57.
Última atualização em 4 de janeiro de 2020 às 18h42.
Por quanto tempo você consegue viver, sem comprometer sua qualidade de vida, caso perca seu emprego ou sua fonte de renda cesse repentinamente?
Um das regrinhas básicas do bom senso financeiro diz que devemos ter uma reserva de emergência para gastos e despesas imprevistas. Diz também que deve ser grande o suficiente para nos mantermos “com alguma dignidade”, por um período relativamente longo (usualmente um ano), em caso de perda da fonte de renda.
Porém, “finanças” (e, em particular, finanças pessoais) não é uma ciência exata, e precisamos ser muito céticos com ideias e conceitos que são apresentadas como regras absolutas e “soluções de tamanho único”.
Em um dos meus artigos recentes (“ Afinal, quanto da renda mensal devemos guardar?”) questionei outra das “regrinhas de ouro” das finanças pessoais, que é aquela que diz que devemos guardar um determinado percentual da renda todo mês. No artigo, ressaltei que é uma boa ideia para “quase todo mundo”, mas não é uma regra absoluta.
O mesmo vale para a tal “reserva de emergência”. Algumas pessoas não precisam ter uma reserva (ou pelo menos não precisam ter uma reserva tão grande), por terem sua renda total ou parcialmente protegida. Essa proteção pode ser na forma de garantias e estabilidade no emprego (caso de servidores públicos concursados) ou múltiplas fontes de renda, que acaba sendo um hedge natural para alguns. Pessoas com múltiplas fontes de renda podem até sofrer (e sofrem, ocasionalmente) alguns abalos, mas dificilmente a fonte “seca de vez”. Isso também vale para alguns empresários e profissionais liberais, que podem passar por períodos de vacas magras, mas dificilmente enfrentam uma situação de corte total e abrupto dos rendimentos.
Pessoas com dívidas também não devem ter reservas de emergência. Quem tem dívidas deve pagar as dívidas, simples assim. A pessoa que está endividada, por exemplo, no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito, deve pagar essa dívida (que é caríssima) e estancar a perda decorrente dos custos financeiros. Ao pagar a dívida, o limite se recompõe e, se houver uma emergência, aí sim se usa a linha de crédito. Não é preciso se endividar “preventivamente” só para ter o (falso) conforto psicológico de ter dinheiro.
Mas, afinal, o que é uma emergência financeira?
Uma emergência financeira é um gasto imprevisto e, geralmente, de alto valor, com potencial de desestabilizar seriamente o equilíbrio financeiro de um indivíduo ou de uma família.
Uma das formas de tentar se proteger dessas situações é o uso de seguros. Uma emergência médica pode, facilmente, virar uma emergência financeira (se não tivermos um seguro de saúde). Um incêndio, um processo judicial, um acidente de trânsito… Essas coisas têm o potencial de virar emergências financeiras se não houver uma reserva, ou então um seguro. O mesmo vale para uma perda repentina e inesperada de emprego.
Ter seguros para esses eventos nos permite ser um pouco menos rígidos com a reserva de emergência. É (quase sempre) bom ter a reserva de emergência, mas, em certos casos (quando os riscos estão bem identificados e mitigados), a ausência de uma grande reserva financeira passa a não ser um motivo para perder o sono. Vira mais um “conforto” do que uma necessidade real.
O que NÃO É uma emergência financeira?
Coisas como reparos (ainda que caros e complexos) em veículos e residências, substituições de móveis e eletrodomésticos e procedimentos de saúde eletivos não são situações emergenciais.
Carros e casas exigem manutenção, objetos em geral exigem substituição e nossa saúde exige atenção – são “fatos da vida” e, como tais, devem estar contemplados em nosso planejamento financeiro. Tratar essas coisas como emergências demonstra planejamento deficiente, otimismo excessivo e, em alguns casos, ingenuidade.
Enfim…
No geral, ter uma reserva financeira é bom e recomendável. Mesmo aqueles felizardos com “renda garantida” se beneficiam do conforto de ter uma reserva de emergência. A grande diferença está no grau de preocupação que a pessoa deve ter com o assunto. Aqueles que têm renda protegida e riscos bem gerenciados não precisam perder o sono pensando na reserva de emergência (o que, ressalto novamente, não significa que não é bom tê-la). Já aqueles que correm o risco de perda repentina de renda precisam ser muito mais agressivos na constituição da reserva. Para estes, não é um conforto, e sim uma necessidade.
E, por fim, aqueles que estão endividados, devem se preocupar em pagar as dívidas antes de fazer reservas; do contrário acabam sendo vítimas da armadilha da “contabilidade mental” (que nos faz ter, simultaneamente, dívidas caríssimas e dinheiro “em casa”, rendendo pouco ou nada).
Ao pagar as dívidas, as linhas de crédito ficam disponíveis e podem virar a tábua de salvação no caso de uma emergência real. Aliás, com nossas taxas de juros do jeito que estão, apenas verdadeiras emergências justificam o endividamento.
Por quanto tempo você consegue viver, sem comprometer sua qualidade de vida, caso perca seu emprego ou sua fonte de renda cesse repentinamente?
Um das regrinhas básicas do bom senso financeiro diz que devemos ter uma reserva de emergência para gastos e despesas imprevistas. Diz também que deve ser grande o suficiente para nos mantermos “com alguma dignidade”, por um período relativamente longo (usualmente um ano), em caso de perda da fonte de renda.
Porém, “finanças” (e, em particular, finanças pessoais) não é uma ciência exata, e precisamos ser muito céticos com ideias e conceitos que são apresentadas como regras absolutas e “soluções de tamanho único”.
Em um dos meus artigos recentes (“ Afinal, quanto da renda mensal devemos guardar?”) questionei outra das “regrinhas de ouro” das finanças pessoais, que é aquela que diz que devemos guardar um determinado percentual da renda todo mês. No artigo, ressaltei que é uma boa ideia para “quase todo mundo”, mas não é uma regra absoluta.
O mesmo vale para a tal “reserva de emergência”. Algumas pessoas não precisam ter uma reserva (ou pelo menos não precisam ter uma reserva tão grande), por terem sua renda total ou parcialmente protegida. Essa proteção pode ser na forma de garantias e estabilidade no emprego (caso de servidores públicos concursados) ou múltiplas fontes de renda, que acaba sendo um hedge natural para alguns. Pessoas com múltiplas fontes de renda podem até sofrer (e sofrem, ocasionalmente) alguns abalos, mas dificilmente a fonte “seca de vez”. Isso também vale para alguns empresários e profissionais liberais, que podem passar por períodos de vacas magras, mas dificilmente enfrentam uma situação de corte total e abrupto dos rendimentos.
Pessoas com dívidas também não devem ter reservas de emergência. Quem tem dívidas deve pagar as dívidas, simples assim. A pessoa que está endividada, por exemplo, no cheque especial ou no rotativo do cartão de crédito, deve pagar essa dívida (que é caríssima) e estancar a perda decorrente dos custos financeiros. Ao pagar a dívida, o limite se recompõe e, se houver uma emergência, aí sim se usa a linha de crédito. Não é preciso se endividar “preventivamente” só para ter o (falso) conforto psicológico de ter dinheiro.
Mas, afinal, o que é uma emergência financeira?
Uma emergência financeira é um gasto imprevisto e, geralmente, de alto valor, com potencial de desestabilizar seriamente o equilíbrio financeiro de um indivíduo ou de uma família.
Uma das formas de tentar se proteger dessas situações é o uso de seguros. Uma emergência médica pode, facilmente, virar uma emergência financeira (se não tivermos um seguro de saúde). Um incêndio, um processo judicial, um acidente de trânsito… Essas coisas têm o potencial de virar emergências financeiras se não houver uma reserva, ou então um seguro. O mesmo vale para uma perda repentina e inesperada de emprego.
Ter seguros para esses eventos nos permite ser um pouco menos rígidos com a reserva de emergência. É (quase sempre) bom ter a reserva de emergência, mas, em certos casos (quando os riscos estão bem identificados e mitigados), a ausência de uma grande reserva financeira passa a não ser um motivo para perder o sono. Vira mais um “conforto” do que uma necessidade real.
O que NÃO É uma emergência financeira?
Coisas como reparos (ainda que caros e complexos) em veículos e residências, substituições de móveis e eletrodomésticos e procedimentos de saúde eletivos não são situações emergenciais.
Carros e casas exigem manutenção, objetos em geral exigem substituição e nossa saúde exige atenção – são “fatos da vida” e, como tais, devem estar contemplados em nosso planejamento financeiro. Tratar essas coisas como emergências demonstra planejamento deficiente, otimismo excessivo e, em alguns casos, ingenuidade.
Enfim…
No geral, ter uma reserva financeira é bom e recomendável. Mesmo aqueles felizardos com “renda garantida” se beneficiam do conforto de ter uma reserva de emergência. A grande diferença está no grau de preocupação que a pessoa deve ter com o assunto. Aqueles que têm renda protegida e riscos bem gerenciados não precisam perder o sono pensando na reserva de emergência (o que, ressalto novamente, não significa que não é bom tê-la). Já aqueles que correm o risco de perda repentina de renda precisam ser muito mais agressivos na constituição da reserva. Para estes, não é um conforto, e sim uma necessidade.
E, por fim, aqueles que estão endividados, devem se preocupar em pagar as dívidas antes de fazer reservas; do contrário acabam sendo vítimas da armadilha da “contabilidade mental” (que nos faz ter, simultaneamente, dívidas caríssimas e dinheiro “em casa”, rendendo pouco ou nada).
Ao pagar as dívidas, as linhas de crédito ficam disponíveis e podem virar a tábua de salvação no caso de uma emergência real. Aliás, com nossas taxas de juros do jeito que estão, apenas verdadeiras emergências justificam o endividamento.