Quer ser um day trader? Então faça o teste
Ser um "day trader" (e viver de operações de curto prazo no mercado financeiro) é o sonho de muita gente. Mas... Será que é "pra você"?
Publicado em 25 de junho de 2012 às, 11h21.
Última atualização em 2 de janeiro de 2020 às, 17h37.
Você já assinou minha newsletter? Fique por dentro de meus artigos, vídeos e outras publicações. Cadastre-se clicando aqui.
Quando se fala das “tribos” que habitam o mundo dos investimentos, em especial da renda variável, logo vêm à cabeça os adeptos da análise fundamentalista e os da análise técnica. Inclusive, muitos livros-texto de finanças dividem os investidores entre esses dois grupos, esquecendo que existem outras tribos menos populares e menos conhecidas. Uma dessas tribos é a dos adeptos do random walk, que se apoiam na teoria dos mercados eficientes e defendem que o comportamento passado de um determinado ativo financeiro não tem nenhuma relação com seu comportamento futuro. O comportamento futuro é baseado em variáveis totalmente aleatórias e imprevisíveis; dessa forma, qualquer tentativa de obter uma performance melhor que a dos principais índices de mercado (incluindo as já referidas análises técnica e fundamentalista) é mera perda de tempo (e de dinheiro).
Existem traders que operam baseados em regras rígidas e sistemas extremamente robustos, que já foram testados e validados estatisticamente utilizando dados históricos. Eu mesmo dediquei uns bons anos da minha vida ao estudo e desenvolvimento desse tipo de sistema, mas todos os testes do mundo não dão a devida segurança de que o mercado se comportará no futuro do jeito como se comportou no passado. Mas esse tipo de trader “sistemático” é uma minoria (aliás, é outra tribo que não gosta de ser enquadrada como adepto nem da análise técnica nem da fundamentalista). A grande maioria acaba operando com base em regras não muito bem estabelecidas (ou total ausência de regras) e, como é de se esperar, muitos perdem dinheiro. Essa grande massa de traders perdedores fornece as evidências estatísticas nas quais o pessoal do random walk se apoia para argumentar que é um exercício de futilidade tentar “bater o mercado”. É complicado discutir com eles, pois seus argumentos são poderosos e difíceis de rebater.
Vários estudos apontam nessa direção. Em 1999, a North American Securities Administrators Association (NASAA) publicou um estudo chamado “An Analysis of Public Day Trading at a Retail Day Trading Firm”, que demonstrou, após sete meses de pesquisas, que aproximadamente 70% dos adeptos do day trading perdem dinheiro consistentemente. Outro estudo conduzido na Ásia e publicado em 2004 por estudiosos da National Chengchi University, de Taiwan e da Universidade da California, chamado “Do Individual Day Traders Make Money? Evidence from Taiwan” concluiu que o índice de traders consistentemente perdedores é ainda maior: 82%.
Paul B. Farrell, especialista em economia comportamental, colunista do portal de finanças Marketwatch (da Dow Jones & Co.) e autor de vários livros sobre finanças e investimentos, é um grande crítico das estratégias ativas de gestão de recursos (que visam a superar o retorno dos índices do mercado). Em meados dos anos 90 ele criou um “teste de perfil psicológico para traders” que tinha o objetivo de avaliar se uma pessoa estava preparada para encarar o mundo impiedoso do day trading. O teste foi republicado há alguns dias em um artigo do próprio autor e eu tomei a liberdade de traduzi-lo e reproduzi-lo aqui. São vinte perguntas cujas respostas são “sim” ou “não”. Vamos responder?
1- Você tentou mais de uma estratégia de investimentos nova este ano?
2- Você sente que está comprando ou vendendo na hora errada?
3- Você raramente conversa com alguém sobre as perdas que sofre?
4- Você assina dois ou mais newsletters ou serviços de informação e se sente sobrecarregado de informações?
5- Você consegue contar nos dedos de uma mão quantas vezes riu esta semana?
6- Você tem ressentimentos duradouros sobre algo ou alguém?
7- Você adora canais de notícias na TV, mas precisa de mais tempo para suas operações?
8- Você nem chegou a suar se exercitando nas duas últimas semanas?
9- Você pensa se andou apostando demais nas suas últimas operações?
10- Você sente necessidade de álcool ou cafeína mais de três vezes por dia?
11- Você sente que “algo” o impede de ganhar mais dinheiro?
12- Você frequentemente põe em dúvida seus instintos ou sua estratégia?
13- Você sofreu uma grande perda pessoal ou familiar recentemente?
14- Você acredita que suas perdas são causadas por “tubarões” ou “manipuladores” do mercado?
15- Você está acima do peso e come frequentemente coisas pouco saudáveis?
16- Você teme que suas operações futuras possam dar errado por conta de uma “maré de azar”?
17- Sua dieta e seu sono sofrem interferências por preocupações com dinheiro?
18- Seu patrimônio para aposentadoria não está crescendo na velocidade que deveria?
19- Você não tirou férias há mais de um ano e não tem uma vida social ativa?
20- Nada (ou tudo) interfere em sua busca por dinheiro?
Vamos ao resultados. Veja quantos “sim” você respondeu. Farrell diz, sem meias palavras, que se você marcou mais de seis “sim” no teste você não está preparado para virar um day trader. Talvez sejam coisas fáceis (ou nem tanto) de resolver, como tirar umas férias e adotar hábitos mais saudáveis, e logo você estará preparado para fazer o teste novamente e “passar”. Mas talvez seja melhor, simplesmente, pensar em outra profissão.
Alguns especialistas em finanças dizem categoricamente que é “impossível” ganhar dinheiro sendo day trader. É uma afirmação exagerada. Existem pessoas que conseguem viver disso (ainda que muito poucas), e algumas em particular vivem muito bem. Mas é importante ter em mente que trading não é investimento e muito menos um “caminho fácil” para ficar rico e se livrar do seu chefe – trading é um “negócio”, que exige capital, tempo e trabalho. É um “negócio” como qualquer outro, como uma padaria, uma banca de jornais ou uma loja de carros usados. É um negócio com uma taxa de mortalidade bem mais alta que a de outros negócios, mas ainda assim um “negócio”, que exige preparo, planejamento e dedicação. E, como qualquer negócio, pode ser que simplesmente alguns não “levem jeito” para a coisa.
Na dúvida, faça um (outro) teste: passe uns dias brincando em um dos “zilhões” de simuladores de mercado que hoje existem na internet e, se você chegar à conclusão de que realmente ama o “negócio” de trading e que isso é o que você quer fazer pelo resto de sua vida (é importante gostar de verdade do que se faz), invista pesado no seu fortalecimento psicológico e emocional (acredite, sua estrutura psicológica será tão ou mais importante que seu dinheiro nesse negócio) e “caia de cabeça”. Torço para que você esteja entre os 20 ou 30% que vão sobreviver e que prospere muito.
E se quiser saber mais sobre os "prazos operacionais" utilizados pelos traders (day trading é um desses prazos operacionais), dê uma olhada neste outro artigo de minha autoria: "Position, Swing, Day Trading… O que é isso?"
Quer receber atualizações deste blog e outros conteúdos por email? Assine minha newsletter clicando aqui.