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Quando ter pouco dinheiro é uma vantagem

O sucesso é uma coisa intrigante, basta ver a quantidade de livros dedicados a tentar explicá-lo. Existem desde estudos supostamente sérios sobre o sucesso, desenvolvidos nos meios acadêmicos e científicos, até aqueles textos de autoajuda barata que beiram o absurdo da superficialidade. O sucesso pode se manifestar em diversas áreas da vida: sucesso no amor, nos negócios, na carreira, nos esportes… O tópico “sucesso nos negócios”, que na verdade é […] Leia mais

DR

Da Redação

Publicado em 6 de agosto de 2012 às 16h39.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 09h21.

O sucesso é uma coisa intrigante, basta ver a quantidade de livros dedicados a tentar explicá-lo. Existem desde estudos supostamente sérios sobre o sucesso, desenvolvidos nos meios acadêmicos e científicos, até aqueles textos de autoajuda barata que beiram o absurdo da superficialidade.

O sucesso pode se manifestar em diversas áreas da vida: sucesso no amor, nos negócios, na carreira, nos esportes… O tópico “sucesso nos negócios”, que na verdade é um sub-tópico de “sucesso material” é, aparentemente, um campeão de popularidade nesse segmento. Basta aparecer um empresário de sucesso e automaticamente aparecem livros e artigos “explicando” as origens daquele sucesso. Muitas vezes (senão TODAS as vezes) esses textos acabam caindo naquilo que Nassim Taleb, no livro “A Lógica do Cisne Negro”, chamava de “problema da evidência silenciosa”. Esse problema diz mais ou menos o seguinte: para cada Steve Jobs que venceu na vida “seguindo suas paixões” (e por conta disso milhares de autores agora publicam por aí livros dizendo que o segredo do sucesso é “seguir sua paixão”), milhares de aspirantes a empresário de sucesso fizeram exatamente o mesmo, só que se estreparam e não sobreviveram para contar sua história, ou pelo menos ninguém se interessou em ouvi-los…

Eu passei boa parte da minha vida ouvindo de amigos e conhecidos coisas do tipo “se eu estivesse realmente numa pior e necessitado, aí eu teria uma verdadeira motivação para ter sucesso nos negócios”. Em princípio isso pode ser apenas mais uma receitinha de bolo de livros de autoajuda baratos, mas a ideia, como um todo, faz algum sentido.

Será que uma vida material um pouco mais segura e confortável (ainda que não o suficiente para prover uma vida luxuosa) nos deixa “moles” e acomodados, e consequentemente pouco motivados para lutar pelo sucesso nos negócios? Será que ter pouco dinheiro é, enfim, o segredo do sucesso nos negócios?

Uma pesquisa publicada em 2010 por dois professores de finanças noruegueses, Jarle Møen (Norwegian School of Economics) e Hans K. Hvide (University of Aberdeen), chamada “ Lean and Hungry or Fat And Content? Entrepreneurs’ Wealth and Start-up Performance ” indica que talvez a limitação de recursos seja uma vantagem para o empresário.

O texto da pesquisa começa citando um trecho de “Julio Cesar” de Shakespeare, dizendo que “a riqueza pode fazer mais mal do que bem”. Os professores utilizaram uma amostra de empresas que foram incorporadas na Noruega no período de 1994 a 2002. Os pesquisadores correlacionaram a performance dessas empresas com a situação patrimonial de seus fundadores (na Noruega é possível ter acesso a esses dados e há uma razoável segurança em sua consistência – ao menos é o que eles dizem…) e identificaram que as empresas fundadas por empreendedores que estavam no quartil superior de riqueza tiveram retornos decepcionantes (ou negativos) em relação às demais.

Antes de tirarmos conclusões, precisamos levar três coisas em consideração: a primeira é que esses empresários vencedores viviam uma situação de ”restrição de recursos”, mas não de pobreza absoluta. A segunda é que podemos facilmente cair no problema da evidência silenciosa. E o terceiro é que é a Noruega, um país com níveis de desenvolvimento econômico e educacionais bastante acima da média dos padrões mundiais. Se fizéssemos uma pesquisa similar aqui no Brasil talvez os resultados seriam mais representativos, mas os dados certamente não seriam tão confiáveis…

De um ponto de vista totalmente intuitivo o resultado da pesquisa até faz sentido (ao menos para mim), mas ela contraria tudo aquilo que aprendemos em economia clássica. Teoricamente pessoas com mais recursos e mais capital têm acesso a oportunidades privilegiadas de investimentos, podem se expor a maiores riscos de forma controlada e podem diversificar investimentos de forma mais eficiente. Ou seja, é o famoso “dinheiro atrai mais dinheiro”.

Mas os autores da pesquisa levantam um ponto interessante: O empreendedor com poucos recursos frequentemente tem que recorrer a bancos e/ou sócios-investidores, que acabam atuando como um elemento de pressão por resultados e o forçam a trabalhar de forma mais objetiva e menos sujeita às armadilhas do excesso de otimismo e autoconfiança.

O que podemos aprender de prático com esta pesquisa? Bem, apesar das evidências, eu não sei se “compro” a ideia de virar empreendedor sem estar financeiramente preparado para isso, mas talvez consigamos aumentar nossas chances de sucesso em tudo que fazemos (e não apenas negócios) se conseguirmos, deliberadamente, nos colocar em uma situação de desconforto que nos motive a avançar. Podemos (e devemos) ter recursos em excesso para atingir nossos objetivos, mas podemos criar mecanismos que dificultem nosso acesso a eles, condicionando isso ao cumprimento de algumas metas pré-estabelecidas. Algo como “você só poderá tocar naquele sorvete que está na geladeira se perder ao menos dois quilos este mês”.

O apoio de amigos e parentes é fundamental em uma situação assim, pois eles poderão funcionar como “guardiões dos recursos”, impedindo que a gente trapaceie em nossas próprias metas. É irônico, mas, as vezes, o maior gesto de amizade que alguém pode nos fazer é nos causar desconforto.

O sucesso é uma coisa intrigante, basta ver a quantidade de livros dedicados a tentar explicá-lo. Existem desde estudos supostamente sérios sobre o sucesso, desenvolvidos nos meios acadêmicos e científicos, até aqueles textos de autoajuda barata que beiram o absurdo da superficialidade.

O sucesso pode se manifestar em diversas áreas da vida: sucesso no amor, nos negócios, na carreira, nos esportes… O tópico “sucesso nos negócios”, que na verdade é um sub-tópico de “sucesso material” é, aparentemente, um campeão de popularidade nesse segmento. Basta aparecer um empresário de sucesso e automaticamente aparecem livros e artigos “explicando” as origens daquele sucesso. Muitas vezes (senão TODAS as vezes) esses textos acabam caindo naquilo que Nassim Taleb, no livro “A Lógica do Cisne Negro”, chamava de “problema da evidência silenciosa”. Esse problema diz mais ou menos o seguinte: para cada Steve Jobs que venceu na vida “seguindo suas paixões” (e por conta disso milhares de autores agora publicam por aí livros dizendo que o segredo do sucesso é “seguir sua paixão”), milhares de aspirantes a empresário de sucesso fizeram exatamente o mesmo, só que se estreparam e não sobreviveram para contar sua história, ou pelo menos ninguém se interessou em ouvi-los…

Eu passei boa parte da minha vida ouvindo de amigos e conhecidos coisas do tipo “se eu estivesse realmente numa pior e necessitado, aí eu teria uma verdadeira motivação para ter sucesso nos negócios”. Em princípio isso pode ser apenas mais uma receitinha de bolo de livros de autoajuda baratos, mas a ideia, como um todo, faz algum sentido.

Será que uma vida material um pouco mais segura e confortável (ainda que não o suficiente para prover uma vida luxuosa) nos deixa “moles” e acomodados, e consequentemente pouco motivados para lutar pelo sucesso nos negócios? Será que ter pouco dinheiro é, enfim, o segredo do sucesso nos negócios?

Uma pesquisa publicada em 2010 por dois professores de finanças noruegueses, Jarle Møen (Norwegian School of Economics) e Hans K. Hvide (University of Aberdeen), chamada “ Lean and Hungry or Fat And Content? Entrepreneurs’ Wealth and Start-up Performance ” indica que talvez a limitação de recursos seja uma vantagem para o empresário.

O texto da pesquisa começa citando um trecho de “Julio Cesar” de Shakespeare, dizendo que “a riqueza pode fazer mais mal do que bem”. Os professores utilizaram uma amostra de empresas que foram incorporadas na Noruega no período de 1994 a 2002. Os pesquisadores correlacionaram a performance dessas empresas com a situação patrimonial de seus fundadores (na Noruega é possível ter acesso a esses dados e há uma razoável segurança em sua consistência – ao menos é o que eles dizem…) e identificaram que as empresas fundadas por empreendedores que estavam no quartil superior de riqueza tiveram retornos decepcionantes (ou negativos) em relação às demais.

Antes de tirarmos conclusões, precisamos levar três coisas em consideração: a primeira é que esses empresários vencedores viviam uma situação de ”restrição de recursos”, mas não de pobreza absoluta. A segunda é que podemos facilmente cair no problema da evidência silenciosa. E o terceiro é que é a Noruega, um país com níveis de desenvolvimento econômico e educacionais bastante acima da média dos padrões mundiais. Se fizéssemos uma pesquisa similar aqui no Brasil talvez os resultados seriam mais representativos, mas os dados certamente não seriam tão confiáveis…

De um ponto de vista totalmente intuitivo o resultado da pesquisa até faz sentido (ao menos para mim), mas ela contraria tudo aquilo que aprendemos em economia clássica. Teoricamente pessoas com mais recursos e mais capital têm acesso a oportunidades privilegiadas de investimentos, podem se expor a maiores riscos de forma controlada e podem diversificar investimentos de forma mais eficiente. Ou seja, é o famoso “dinheiro atrai mais dinheiro”.

Mas os autores da pesquisa levantam um ponto interessante: O empreendedor com poucos recursos frequentemente tem que recorrer a bancos e/ou sócios-investidores, que acabam atuando como um elemento de pressão por resultados e o forçam a trabalhar de forma mais objetiva e menos sujeita às armadilhas do excesso de otimismo e autoconfiança.

O que podemos aprender de prático com esta pesquisa? Bem, apesar das evidências, eu não sei se “compro” a ideia de virar empreendedor sem estar financeiramente preparado para isso, mas talvez consigamos aumentar nossas chances de sucesso em tudo que fazemos (e não apenas negócios) se conseguirmos, deliberadamente, nos colocar em uma situação de desconforto que nos motive a avançar. Podemos (e devemos) ter recursos em excesso para atingir nossos objetivos, mas podemos criar mecanismos que dificultem nosso acesso a eles, condicionando isso ao cumprimento de algumas metas pré-estabelecidas. Algo como “você só poderá tocar naquele sorvete que está na geladeira se perder ao menos dois quilos este mês”.

O apoio de amigos e parentes é fundamental em uma situação assim, pois eles poderão funcionar como “guardiões dos recursos”, impedindo que a gente trapaceie em nossas próprias metas. É irônico, mas, as vezes, o maior gesto de amizade que alguém pode nos fazer é nos causar desconforto.

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