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A ilusão do “problema financeiro”

Você tem um problema financeiro? Se acha que sim, pense novamente (ou leia este artigo)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2014 às 18h49.

Última atualização em 11 de maio de 2019 às 14h46.

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Estamos na última semana de agosto. O mês de agosto de 2014 tem muito significado para mim, pois há exatos vinte anos (em agosto de 1994) eu começava “pra valer” minha carreira profissional em finanças, como trainee de uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, na divisão responsável por instituições financeiras (que cuidava de clientes como bancos, seguradoras, fundos de investimentos, de pensão entre outros).

Eu fiz alguns estágios antes disso, então, tecnicamente falando, eu tenho mais de vinte anos de experiência profissional, mas a minha carteira de trabalho foi oficialmente “carimbada” como funcionário efetivo em agosto de 1994.

Vinte anos é bastante tempo, e acho que consegui aprender uma ou duas coisas nesse período. Comecei como trainee de uma empresa de auditoria, depois fui trabalhar em bancos, virei executivo financeiro de empresas de diversos tipos, fui consultor, trader independente, professor, escritor de livros de finanças… São várias atividades diferentes, mas todas elas ligadas ao universo das finanças.

Pessoas e organizações vivem por aí se lamuriando de seus problemas financeiros, mas, olhando em retrospectiva, eu hoje percebo que pouquíssimas vezes nesses vinte anos eu vi um verdadeiro “problema financeiro”. Aliás, às vezes me pergunto se eu cheguei realmente a ver algum, em algum momento…

Um verdadeiro problema financeiro tem uma característica que é fundamental e, sem ela, não pode ser classificado como “problema financeiro”: É um problema que se resolve COM DINHEIRO – simples assim. Se você colocar dinheiro no problema e ele simplesmente sumir, desaparecer, então é porque era um problema financeiro.

Então imagine uma situação hipotética: João vinha levando sua vida tranquilamente, com as finanças em ordem e, de repente, algo ruim e inesperado aconteceu e teve um reflexo financeiro: uma dívida de vinte mil reais.

João compra um bilhete de loteria e, num golpe de sorte, ganha vinte mil reais. Ele usa o dinheiro para pagar a dívida e “puft”, a vida dele volta à normalidade, como se nada tivesse acontecido.

O que acabo de descrever é um verdadeiro problema financeiro, pois colocamos dinheiro na situação e o problema desapareceu.

Agora vamos ver o caso de José, que, assim como João, está devendo vinte mil reais. Porém, essa dívida de vinte mil reais não veio de uma situação imprevista, e sim de um estilo de vida onde se gasta sistematicamente mais do que ganha, se faz dívidas sem saber se há condição de honrá-las, consome-se impulsivamente, conta-se com dinheiro que ainda não existe (como bônus, comissões etc) e por aí vai.

Assim como João, José joga na loteria e ganha um prêmio de vinte mil reais, que ele usa para pagar as dívidas. Com a “situação resolvida”, José segue sua vida como se nada tivesse acontecido.

Seis meses depois, José está novamente “quebrado”…

José não tinha um problema financeiro. A maior evidência de que o problema não era financeiro foi o fato de que colocamos dinheiro na situação e o problema não “sumiu”. Ele foi mascarado por algum tempo, mas logo apareceu de novo. O dinheiro não curou a doença, no máximo funcionou como um analgésico, aliviando a dor temporariamente, mas sem fazer sequer um arranhão na verdadeira causa.

O problema de José não era financeiro. Podia ser um problema de desorganização pessoal, de distorções lógicas/cognitivas, de autoconfiança excessiva, de não saber fazer contas… Enfim, podia ser qualquer coisa, MENOS UM PROBLEMA FINANCEIRO, pois, se fosse um problema financeiro, ele seria resolvido com dinheiro.

Vemos situação parecida com as empresas. Às vezes, vemos empresários e executivos queixando-se dos “problemas financeiros” de suas empresas, mas uma análise mais cuidadosa revela que o tal “problema financeiro” nada mais é que a consequência de gestão ruim, produtos ruins, marketing ruim, situação econômica do país ruim ou diversos outros fatores que nada têm de financeiros.

Sabemos hoje que, infelizmente, uma parcela significativa da população brasileira está endividada, e não é preciso muito esforço para descobrir que, na esmagadora maioria desses casos de endividamento, a causa está em padrões de consumo disfuncionais, uso irresponsável do crédito, sensação de falsa segurança no emprego (que leva as pessoas a sentirem-se confortáveis para fazerem novas dívidas), deslumbramento generalizado, incapacidade de fazer contas (“qual é o valor da parcela?”), enfim, questões de natureza comportamental/cognitiva, e não financeira.

Em mais de vinte anos de experiência na área de finanças, percebo que não preciso de mais que os dedos de uma única mão para contar a quantidade de “problemas financeiros” que já testemunhei…

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Estamos na última semana de agosto. O mês de agosto de 2014 tem muito significado para mim, pois há exatos vinte anos (em agosto de 1994) eu começava “pra valer” minha carreira profissional em finanças, como trainee de uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, na divisão responsável por instituições financeiras (que cuidava de clientes como bancos, seguradoras, fundos de investimentos, de pensão entre outros).

Eu fiz alguns estágios antes disso, então, tecnicamente falando, eu tenho mais de vinte anos de experiência profissional, mas a minha carteira de trabalho foi oficialmente “carimbada” como funcionário efetivo em agosto de 1994.

Vinte anos é bastante tempo, e acho que consegui aprender uma ou duas coisas nesse período. Comecei como trainee de uma empresa de auditoria, depois fui trabalhar em bancos, virei executivo financeiro de empresas de diversos tipos, fui consultor, trader independente, professor, escritor de livros de finanças… São várias atividades diferentes, mas todas elas ligadas ao universo das finanças.

Pessoas e organizações vivem por aí se lamuriando de seus problemas financeiros, mas, olhando em retrospectiva, eu hoje percebo que pouquíssimas vezes nesses vinte anos eu vi um verdadeiro “problema financeiro”. Aliás, às vezes me pergunto se eu cheguei realmente a ver algum, em algum momento…

Um verdadeiro problema financeiro tem uma característica que é fundamental e, sem ela, não pode ser classificado como “problema financeiro”: É um problema que se resolve COM DINHEIRO – simples assim. Se você colocar dinheiro no problema e ele simplesmente sumir, desaparecer, então é porque era um problema financeiro.

Então imagine uma situação hipotética: João vinha levando sua vida tranquilamente, com as finanças em ordem e, de repente, algo ruim e inesperado aconteceu e teve um reflexo financeiro: uma dívida de vinte mil reais.

João compra um bilhete de loteria e, num golpe de sorte, ganha vinte mil reais. Ele usa o dinheiro para pagar a dívida e “puft”, a vida dele volta à normalidade, como se nada tivesse acontecido.

O que acabo de descrever é um verdadeiro problema financeiro, pois colocamos dinheiro na situação e o problema desapareceu.

Agora vamos ver o caso de José, que, assim como João, está devendo vinte mil reais. Porém, essa dívida de vinte mil reais não veio de uma situação imprevista, e sim de um estilo de vida onde se gasta sistematicamente mais do que ganha, se faz dívidas sem saber se há condição de honrá-las, consome-se impulsivamente, conta-se com dinheiro que ainda não existe (como bônus, comissões etc) e por aí vai.

Assim como João, José joga na loteria e ganha um prêmio de vinte mil reais, que ele usa para pagar as dívidas. Com a “situação resolvida”, José segue sua vida como se nada tivesse acontecido.

Seis meses depois, José está novamente “quebrado”…

José não tinha um problema financeiro. A maior evidência de que o problema não era financeiro foi o fato de que colocamos dinheiro na situação e o problema não “sumiu”. Ele foi mascarado por algum tempo, mas logo apareceu de novo. O dinheiro não curou a doença, no máximo funcionou como um analgésico, aliviando a dor temporariamente, mas sem fazer sequer um arranhão na verdadeira causa.

O problema de José não era financeiro. Podia ser um problema de desorganização pessoal, de distorções lógicas/cognitivas, de autoconfiança excessiva, de não saber fazer contas… Enfim, podia ser qualquer coisa, MENOS UM PROBLEMA FINANCEIRO, pois, se fosse um problema financeiro, ele seria resolvido com dinheiro.

Vemos situação parecida com as empresas. Às vezes, vemos empresários e executivos queixando-se dos “problemas financeiros” de suas empresas, mas uma análise mais cuidadosa revela que o tal “problema financeiro” nada mais é que a consequência de gestão ruim, produtos ruins, marketing ruim, situação econômica do país ruim ou diversos outros fatores que nada têm de financeiros.

Sabemos hoje que, infelizmente, uma parcela significativa da população brasileira está endividada, e não é preciso muito esforço para descobrir que, na esmagadora maioria desses casos de endividamento, a causa está em padrões de consumo disfuncionais, uso irresponsável do crédito, sensação de falsa segurança no emprego (que leva as pessoas a sentirem-se confortáveis para fazerem novas dívidas), deslumbramento generalizado, incapacidade de fazer contas (“qual é o valor da parcela?”), enfim, questões de natureza comportamental/cognitiva, e não financeira.

Em mais de vinte anos de experiência na área de finanças, percebo que não preciso de mais que os dedos de uma única mão para contar a quantidade de “problemas financeiros” que já testemunhei…

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