O Golpe Nigeriano (“o retorno”)
Nestes últimos dez dias, eu recebi dois emails com o famoso “golpe nigeriano”. Fazia muito tempo que não recebia algo assim, por isso me chamou a atenção ter recebido dois com um intervalo de tempo tão curto. Um deles era o golpe “clássico”, que falava de um príncipe africano que queria movimentar sua fortuna para fora de seu país de origem e precisava de uma “ajudinha” minha. O outro usava […] Leia mais
Publicado em 18 de junho de 2014 às, 10h51.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h25.
Nestes últimos dez dias, eu recebi dois emails com o famoso “golpe nigeriano”. Fazia muito tempo que não recebia algo assim, por isso me chamou a atenção ter recebido dois com um intervalo de tempo tão curto.
Um deles era o golpe “clássico”, que falava de um príncipe africano que queria movimentar sua fortuna para fora de seu país de origem e precisava de uma “ajudinha” minha. O outro usava como pano de fundo a guerra civil na Síria – a pessoa se identificava como um oficial do exército sírio, que queria manter sua fortuna (de algumas dezenas de milhões de dólares) em algum lugar seguro até o final dos combates.
A história muda, os personagens mudam, mas a estrutura do golpe é sempre a mesma. Alguém (sempre uma figura importante em algum país remoto e exótico) tem uma grande fortuna em dinheiro que, por alguma razão, não está conseguindo acessar ou movimentar, e precisa da SUA ajuda para colocar a mão no dinheiro.
Esse tipo de golpe é conhecido internacionalmente como “golpe nigeriano”, pois a maioria tem origem na Nigéria (mas não necessariamente). Não é um golpe típico da era da internet e ele é conduzido por pessoas de carne e osso (se você responder a um desses emails, uma pessoa responderá de volta; não é uma mensagem automática). Ele também é conhecido internacionalmente pelo nome “golpe 419”, pois 419 representa o número do artigo no código penal nigeriano referente a “estelionato” (equivalente ao nosso “171”…).
Há indícios de que esse golpe é muito antigo e de que ele não nasceu “nigeriano”, mas a versão moderna dele se tornou popular nos anos 80 e era feita por correio. E aqui cabe uma “confissão”: sou velho o suficiente para já ter sido alvo do golpe nigeriano por carta, e mais de uma vez! (provavelmente pegaram meu nome em mailings de revistas estrangeiras que eu assinava na época).
O golpe podia ter diferentes desfechos. O mais inocente era a pessoa cair em tentação, mandar uma quantia para “viabilizar a transação” e simplesmente perder o dinheiro. Em outros casos mais graves, a pessoa era convidada a ir até o país (usualmente a própria Nigéria) e era vítima de sequestro e extorsão – alguns desses casos terminaram em assassinato.
Esse golpe tem uma característica muito interessante: as cartas (atualmente emails) são escritas em um Inglês sofrível, cheio de erros primários, e as histórias relatadas são completamente absurdas. Hoje se sabe que isso é intencional. É uma forma de “filtrar o mailing”, de tal forma que uma pessoa minimamente informada vai imediatamente descartar aquilo ou, pelo menos, questionar. Os que prosseguirem com o contato são aqueles que, no linguajar da malandragem, são os “patos”, que vão cair direitinho.
Eu fico aqui pensando com meus botões (a maldita mania de ficar dando ideias…) que grande oportunidade de negócios esses golpistas perdem por não mandarem os emails em Português. A maioria dos brasileiros não tem muita intimidade com o “vernáculo Shakespeariano”, por isso acaba descartando os emails de imediato.
Mas por aqui não falta gente que gosta de golpe, de pirâmide, de promessas vazias e de barcas furadas – até no conto do bilhete premiado tem gente que ainda cai! A propósito, sugiro a leitura de um artigo publicado anteriormente aqui no blog, chamado “A Equação da Picaretagem”. A quantidade de pessoas ingênuas e gananciosas por aqui é tão grande que poderia justificar até mesmo a criação de uma ponte aérea regular entre o Brasil e a Nigéria – um monte de brasileiros felizes da vida viajando para receber uma mala de dinheiro de um príncipe africano…
Eu tenho até medo de imaginar o que pode acontecer se esses caras começarem a mandar cartas e emails em Português.