Junk Food Wars & Parte 2: O biscoito de primeiro mundo
Vamos para mais um capítulo da nossa saga pelo mundo da baixa gastronomia (veja a primeira parte clicando aqui), um segmento do mercado que está, como muitos outros, tornando-se um território cheio de armadilhas para o consumidor brasileiro. Uma de minhas indulgências favoritas (e que no momento ocupa a primeira posição no meu ranking pessoal) é o biscoito Oreo de menta, da Nabisco. Eu nunca o vi à venda no […] Leia mais
Publicado em 20 de março de 2014 às, 18h57.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 08h33.
Vamos para mais um capítulo da nossa saga pelo mundo da baixa gastronomia (veja a primeira parte clicando aqui), um segmento do mercado que está, como muitos outros, tornando-se um território cheio de armadilhas para o consumidor brasileiro.
Uma de minhas indulgências favoritas (e que no momento ocupa a primeira posição no meu ranking pessoal) é o biscoito Oreo de menta, da Nabisco. Eu nunca o vi à venda no Brasil, nem em lojas de produtos importados, e acho compreensível, pois parece que menta não é um dos sabores favoritos do brasileiro (temos poucas coisas de menta aqui, comparando-se às opções que vemos lá fora). Muitas pessoas olham torto para o Oreo de menta, inclusive alguns conhecidos que experimentaram disseram que parece um biscoito recheado com pasta de dente (o que é um grande exagero – aliás, existem variações muito mais bizarras do Oreo, vejam clicando aqui).
Bem, por essas e outras, eu só tenho acesso a essa obra prima da alimentação de baixo valor nutricional quando vou para o exterior, ou quando alguma alma caridosa traz para mim (o que aconteceu no mês passado).
Me trouxeram duas embalagens grandes, com três fileiras de biscoitos cada uma (um tipo de embalagem que não temos aqui no Brasil).
No dia em que chegou o meu “presente”, fui ao supermercado e comprei uma embalagem pequena do Oreo nacional (que foi relançado recentemente com grande fanfarra) para comparar.
Bem, o resultado vocês podem observar na imagem abaixo. Será que eu preciso desenhar uma seta apontando qual é o Oreo americano de menta e qual é o nacional?
Ok, agora que vocês viram a imagem, eu preciso dizer que relutei muito em colocá-la aqui no blog. Do jeito que está, dá a impressão de que estou acusando o fabricante de sacanear o consumidor brasileiro, mas a verdade é que eu não sei o motivo dessa diferença e seria muito leviano de minha parte fazer acusações, por isso só posso especular.
O mundo do marketing é cheio de surpresas e a assimetria de informações é brutal. Eu sei muito pouco sobre os motivos que levam os produtos daqui a terem certas características peculiares. Pode parecer que estou julgando que o fabricante do biscoito está nos oferecendo um produto de qualidade inferior (e ressalto novamente que minha intenção não é acusar ou julgar), mas também pode haver uma razão de natureza técnica ou mercadológica.
Tenho que assumir, de boa fé, que DEVE HAVER um bom motivo para tamanha diferença. Pode ser que o fabricante fez uma pesquisa de mercado e chegou à conclusão de que o consumidor brasileiro típico prefere um biscoito com recheio menor e mais duro (falaremos sobre o “mais duro” adiante), pode ser também algum outro motivo. Vai lá saber… Inclusive, quero que os fabricantes do biscoito saibam que o espaço aqui no blog está aberto, caso queiram se manifestar.
Mas não posso negar que fiquei um tanto… frustrado.
Quando eu postei a imagem acima nas redes sociais, a repercussão foi grande. A maioria das pessoas que a viu reagiu com indignação. Alguns outros engraçadinhos disseram que era melhor assim, pois o consumidor brasileiro “engordaria menos”… Quero dizer a esses que poucas coisas na vida me aborrecem mais do que ser sacaneado sob o pretexto de que “é para o meu bem”… Respeitem o meu direito de engordar!
Há pouco, falei de recheio menor e mais duro. Sim, existe também uma diferença na consistência, que obviamente não é visível na imagem. Mas se vocês pegarem dois biscoitos americanos e os desmontarem para fazer um “duplo”, verão que o recheio é tão macio que eles se fundem perfeitamente, e não dá para enxergar a “linha divisória” entre eles. Com o brasileiro isso não acontece.
Enfim, como sempre, fiquem de olho e sempre questionem o real valor daquilo que estão comprando. O que mostrei foi apenas um exemplo, e talvez nem seja um exemplo muito adequado (foi apenas uma situação que me chamou a atenção quando vi, por causa da diferença), mas lembrem-se de que não são apenas nossos carros que custam uma fortuna e têm qualidade inferior aos similares estrangeiros. Esse tipo de padrão se repete em outros segmentos de mercado com maior penetração popular, como a alimentação (e não vou nem falar das diferenças entre as taxas de juros ao consumidor daqui e das economias desenvolvidas, pois aí já seria covardia). E, infelizmente, é uma prática comum de diversas empresas de todos os setores tratar o brasileiro como um consumidor de segunda classe – o resultado disso é que a gente começa a ver maldade em todo lugar, mesmo quando há um motivo (técnico ou mercadológico) para as coisas serem como são.
Estamos sendo “educados” para sermos consumidores passivos, resignados ou cínicos (que também é uma forma de ser passivo).