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Investimentos e atividades empresariais

"Investir" é algo que pode ter diferentes significados. Para o investidor comum, é importante não confundir investimentos com atividades empresariais

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Você e o Dinheiro

Publicado em 14 de janeiro de 2015 às, 13h11.

Última atualização em 2 de janeiro de 2020 às, 17h45.

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“Investimento” é uma palavra com uma origem meio estranha. Vem do Latim “investire”, que representa vestir (faz sentido…) uma roupa que dá um caráter “oficial”, como um uniforme ou uma vestimenta cerimonial. O uso da palavra “investir” associada ao dinheiro foi reportado, pela primeira vez, no Século XVII, e acredita-se que o termo foi usado no sentido de dizer que o capital adquiriu uma “nova forma”.

A explicação não é muito convincente (ao menos para mim). De qualquer forma, os dicionários modernos definem “investir”, no contexto de finanças, como “empregar capitais com objetivo de obter lucro”.

É uma definição ainda muito ampla. Se a aceitarmos desse jeito, qualquer atividade econômica vira “investimento” e pode acabar gerando uma confusão na cabeça do cidadão comum. Afinal, o que é investir?

Investidor versus especulador

Vamos ver um dilema clássico do mundo das finanças pessoais: a diferença entre um investidor e um especulador. Frequentemente, vemos artigos e debates sobre esse tema, tentando estabelecer as diferenças entre uma coisa e a outra. O dicionário diz que não há diferença (afinal, o especulador também está “empregando capitais com o objetivo de obter lucro”), mas o “senso comum das finanças” já estabeleceu que são coisas bem diferentes.

Então, qual é essa diferença? Como podemos defini-la? Apesar de não estar explícito no dicionário, no mundo das finanças, a maioria das pessoas reconhece o investimento como uma atividade passiva, em que simplesmente se coloca dinheiro e ele cresce sozinho, no “piloto automático”.

Enquadram-se nessa visão de investimento aqueles instrumentos típicos que vemos no mercado financeiro, como a Caderneta de Poupança, os títulos de renda fixa, os fundos mútuos, as ações com objetivo de longo prazo. A gente coloca o dinheiro e “esquece”. Deixa rendendo…

Investidor versus empreendedor

E quando o sujeito resolve empreender, abrir uma firma… É um investimento? A definição do dicionário diz que sim, mas raramente vemos uma pessoa dizer que está investindo numa pizzaria, a não ser que seja um sócio capitalista, que só colocou dinheiro e não está trabalhando, não é mesmo?

O que o tal “senso comum das finanças” diz é que, se você está efetivamente trabalhando em algo, então aquele “algo” não é um investimento, é um… trabalho! Ou melhor, uma atividade empresarial.

Vamos ver o caso dos imóveis. Em que situação nós investimos em imóveis? De acordo com o dicionário, qualquer transação imobiliária que envolva compra será um investimento. Já o tal “senso comum” diz que, se comprarmos um imóvel para revender ou alugar, é um investimento. Porém, comprar um imóvel para reformar e depois vender ou, mais que isso, construir “do zero” um imóvel para vender não é um investimento e, sim, uma atividade empresarial, pois envolve mais que dinheiro. Envolve tempo, dedicação, gerenciamento de pessoas, custos diversos, e tudo isso precisa ser remunerado adequadamente.

De volta ao especulador

Vamos voltar ao dilema investidor versus especulador.

Num contexto de finanças, o especulador é visto como aquele que faz operações financeiras de curto prazo. Também é conhecido como trader (vem de trade, que é "comércio" em Inglês). O trader é, assim como o comerciante convencional, aquele que compra com a intenção de vender (e não manter), daí o nome.

Um day trader (aquele trader que faz operações que se encerram no mesmo dia que começaram) pode ser considerado um investidor? O dicionário diz que sim, porém, na prática, o day trader não pode ser comparado ao investidor “normal”, aquele que compra ações e não fica acompanhando regularmente. O day trader fica estudando e acompanhando o mercado em tempo real. Além do dinheiro, há muito tempo envolvido (que tem custo). O day trader precisa remunerar o dinheiro e o tempo que está sendo empregado. O “investidor comum” só precisa remunerar o dinheiro – provavelmente, ele está trabalhando em outra coisa (como um emprego), que remunera o tempo.

Ou seja, o day trader precisa ter retornos MUITO maiores que o “investidor comum” para que a atividade compense, pois não é um simples “investimento passivo”, é uma atividade empresarial de período integral, como ser dono de uma loja ou uma padaria. O mesmo vale para aquele que constrói imóveis. Ele não é, segundo o “senso comum”, um investidor, e, sim, um empreendedor, pois está lidando não só com dinheiro, mas com tempo, mão de obra etc. Para o investidor comum, até o custo de oportunidade fica pouco relevante quando comparamos com o empreendedor.

É fundamental que investidores saibam distinguir o que é um simples investimento de uma atividade empresarial, pois atividades empresariais têm custos e riscos maiores, então precisam ter retornos significativamente maiores para compensar.

Se você, por acaso, tem dificuldade em distinguir um investimento “puro” de uma atividade empresarial, eu tenho uma forma de enxergar as coisas que talvez possa ajudar: se envolver tempo e trabalho, é uma atividade empresarial, simples assim. Se você está perdendo horas e horas de sua vida tomando decisões de investimento, seu investimento virou uma atividade empresarial, pois, como diz aquele velho ditado, “tempo é dinheiro” e ele precisa ser remunerado. Se você está investindo tempo e esse tempo não é remunerado, você está perdendo dinheiro.

E, para finalizar, algumas sugestões de leitura adicional:

Um investidor "comum" (não empreendedor e nem trader), de orientação mais passiva, pode adotar, em seus investimentos, várias práticas e procedimentos utilizados por investidores profissionais. Se quiser saber mais, dê uma olhada neste outro artigo de minha autoria: "Como investir seu dinheiro como um profissional".

Também tenho outro artigo explicando melhor as diferenças entre o investidor e o trader (confira aqui "O investidor, o especulador e o trader") e, para aqueles que estão decididos a se aventurar no trading, tem um artigo sobre os "prazos operacionais" (confira aqui: "Position, Swing, Day Trading… O que é isso?").

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