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Quando investidores preguiçosos chegam mais longe…

Por mais contraintuitivo que possa parecer, as evidências apontam para uma vantagem dos investidores passivos sobre os ativos. Confira aqui.

DR

Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2016 às 13h45.

Última atualização em 10 de maio de 2020 às 21h49.

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Quero começar este artigo falando um pouco do passado: Em novembro de 2012, publiquei um artigo, aqui no blog “Você e o Dinheiro”, chamado “ SPIVA – O terror dos gestores de investimentos ”. Se você investe dinheiro, eu recomendo FORTEMENTE que você o leia, pois é um daqueles artigos que contam “coisas que a indústria de investimentos não gosta que o público saiba”…

Mas, para relembrar, o SPIVA é um estudo semestral divulgado pela Standard & Poors (significa “ S&P Indices Versus Active ”) que compara o desempenho de fundos de diversas categorias com os seus respectivos índices de referência ( benchmarks ).

O estudo vem confirmando algo que outros estudos acadêmicos já mostravam, em diferentes graus, desde os anos 70: A maioria dos investimentos “ativos” (aqueles que buscam superar seus índices de referência) acaba, no longo prazo, apresentando uma performance inferior a esses mesmos índices.

Mas, voltando ao artigo de 2012, no final dele eu fiz uma “provocação” ao leitor, sugerindo que escrevesse para a Standard & Poors pedindo a eles que fizessem um “SPIVA brasileiro” (pois, quando escrevi o artigo, só eram divulgados estudos para os EUA, Austrália e Índia). Bem, minhas preces foram ouvidas e, desde 2015, a S&P começou a fazer o SPIVA para o mercado latino-americano ( clique aqui para ver o SPIVA latino-americano da 1ª metade de 2015 e aqui para o SPIVA latino-americano do final do ano), que foca, ao menos nessas primeiras edições, nos mercados financeiros do Brasil, Chile e México.

Como eu sou um cara ingênuo e sonhador (talvez até um pouco romântico), quero acreditar que meu artigo de 2012 (com meu apelo para que os leitores se manifestassem) teve alguma influência na decisão da S&P de fazer o SPIVA para a América Latina (bem, pelo menos eu fiz minha parte… liguei para o escritório da S&P no Brasil e “enchi o saco” deles até não aguentarem mais).

Agora temos, enfim, um estudo que diz, com todas as palavras, o que acontece no mercado brasileiro e… SURPRESA! As coisas aqui não são muito diferentes daquilo que acontece no resto do mundo… Os fundos de investimentos “ativos”, tanto de renda fixa quanto de renda variável, até conseguem vencer seus índices de referência no curto prazo (um a dois anos), mas, em prazos de até cinco anos, a maioria acaba perdendo.

Bem, isso apenas reforça a tese de que aqueles investidores “passivos”, que procuram seguir os índices de referência (e não superá-los) e movimentam pouco suas carteiras, acabam tendo um desempenho melhor no longo prazo.

Nos EUA, o conceito de “investimento passivo” (ou investimento em índices) vem se tornando bastante difundido, especialmente com a popularização dos ETFs ( Exchange Traded Funds ). A indústria de fundos convencionais vem, inclusive, sendo seriamente “machucada” pelos ETFs. Aqui no Brasil os ETFs ainda estão engatinhando, mas eu acredito que ganharão popularidade no futuro.

Inclusive, nos EUA, vêm surgindo empresas de gestão de investimentos que buscam exatamente seguir uma filosofia passiva. Operam com custos baixos (uma taxa de administração significativamente inferior à dos fundos convencionais, ou mesmo um valor mensal fixo), trabalham majoritariamente com ETFs (não ficam escolhendo ações ou títulos individuais) e fazem, para o cliente, o rebalanceamento periódico de suas carteiras conforme perfis de risco predeterminados.

É uma forma certamente menos glamourosa de investir, mas é a que traz melhores resultados para o cliente, em termos de custos e de retorno. Aliás, uma coisa que está ganhando força nos EUA são serviços de gestão de investimentos essencialmente passivos e apoiados em ferramentas tecnológicas, como roteamento automático de ordens (para o mercado) e aplicativos de controle e acompanhamento dos investimentos (para os clientes). É a fusão da filosofia de investir passivamente com a fervilhante onda fintech, e daí já vieram algumas startups de gestão de investimentos que estão “dando o que falar” nos EUA, como a Wealthfront e a Betterment.  Essas empresas são conhecidas, lá fora, como robo-advisors, pois utilizam ferramentas tecnológicas para automatizar os processos de construção e manutenção das carteiras dos investidores.

Diferentemente do caso do SPIVA, não precisarei rezar ou pedir uma “revolução popular” para termos serviços assim no Brasil, pois felizmente eles já existem (aliás, a comunidade fintech brasileira vem se revelando bastante dinâmica). Dentre eles, posso destacar a Magnetis e a Vérios, sendo que, no caso desta última, eu já estive conversando com eles e fiquei muito bem impressionado com o que vi – tanto a filosofia de trabalho quanto a plataforma tecnológica.

A Vérios é, inclusive, aquela que mais se aproxima do modelo “robo-advisor” que está sendo praticado no exterior. Ela é uma gestora de investimentos (lembrando que, no Brasil, o registro como “gestor” permite que se administre, de forma direta, a conta de investimentos do cliente – é o “porte de arma” do mercado financeiro…) e trabalha apenas com instrumentos que têm uma razoável liquidez, como títulos públicos (Tesouro Direto) e ETFs. Isso deixa os “robôs” mais à vontade para fazer a recomposição das carteiras em tempo real. Já a Magnetis, que é uma consultoria, oferece um “cardápio” um pouco mais diverso, com títulos privados e fundos de investimento, mas a desvantagem é que, usando esse tipo de instrumento, a liquidez (e, consequentemente, a facilidade para rebalancear as carteiras) acaba ficando um pouco mais limitada.

De qualquer forma, estamos vendo “movimento” e gente investindo em modelos de negócios inovadores. Iniciativas assim me deixam um pouco mais otimista com as perspectivas do mercado financeiro brasileiro e me fazem acreditar que o investidor, especialmente aquele menos experiente, terá serviços e ferramentas mais eficientes, mais baratas e mais transparentes ao seu dispor.

E, para finalizar, não custa reforçar. O fato de eu fazer esta “defesa” dos investimentos passivos (como já havia feito em 2012) não significa que eu desacredite nos investimentos ativos (eu acredito que o “alfa” existe… aliás, acho que já vi ele em algum lugar!). Em particular, sou entusiasta das linhas trend following e value investing (mais da primeira do que da segunda), mas acredito que, para a maioria dos investidores (especialmente aqueles que não têm grande interesse nos pormenores do mercado financeiro), a via passiva acaba sendo mais adequada.

Às vezes, sermos preguiçosos nos faz ganhar mais…

Leia também:

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Mas, para relembrar, o SPIVA é um estudo semestral divulgado pela Standard & Poors (significa “ S&P Indices Versus Active ”) que compara o desempenho de fundos de diversas categorias com os seus respectivos índices de referência ( benchmarks ).

O estudo vem confirmando algo que outros estudos acadêmicos já mostravam, em diferentes graus, desde os anos 70: A maioria dos investimentos “ativos” (aqueles que buscam superar seus índices de referência) acaba, no longo prazo, apresentando uma performance inferior a esses mesmos índices.

Mas, voltando ao artigo de 2012, no final dele eu fiz uma “provocação” ao leitor, sugerindo que escrevesse para a Standard & Poors pedindo a eles que fizessem um “SPIVA brasileiro” (pois, quando escrevi o artigo, só eram divulgados estudos para os EUA, Austrália e Índia). Bem, minhas preces foram ouvidas e, desde 2015, a S&P começou a fazer o SPIVA para o mercado latino-americano ( clique aqui para ver o SPIVA latino-americano da 1ª metade de 2015 e aqui para o SPIVA latino-americano do final do ano), que foca, ao menos nessas primeiras edições, nos mercados financeiros do Brasil, Chile e México.

Como eu sou um cara ingênuo e sonhador (talvez até um pouco romântico), quero acreditar que meu artigo de 2012 (com meu apelo para que os leitores se manifestassem) teve alguma influência na decisão da S&P de fazer o SPIVA para a América Latina (bem, pelo menos eu fiz minha parte… liguei para o escritório da S&P no Brasil e “enchi o saco” deles até não aguentarem mais).

Agora temos, enfim, um estudo que diz, com todas as palavras, o que acontece no mercado brasileiro e… SURPRESA! As coisas aqui não são muito diferentes daquilo que acontece no resto do mundo… Os fundos de investimentos “ativos”, tanto de renda fixa quanto de renda variável, até conseguem vencer seus índices de referência no curto prazo (um a dois anos), mas, em prazos de até cinco anos, a maioria acaba perdendo.

Bem, isso apenas reforça a tese de que aqueles investidores “passivos”, que procuram seguir os índices de referência (e não superá-los) e movimentam pouco suas carteiras, acabam tendo um desempenho melhor no longo prazo.

Nos EUA, o conceito de “investimento passivo” (ou investimento em índices) vem se tornando bastante difundido, especialmente com a popularização dos ETFs ( Exchange Traded Funds ). A indústria de fundos convencionais vem, inclusive, sendo seriamente “machucada” pelos ETFs. Aqui no Brasil os ETFs ainda estão engatinhando, mas eu acredito que ganharão popularidade no futuro.

Inclusive, nos EUA, vêm surgindo empresas de gestão de investimentos que buscam exatamente seguir uma filosofia passiva. Operam com custos baixos (uma taxa de administração significativamente inferior à dos fundos convencionais, ou mesmo um valor mensal fixo), trabalham majoritariamente com ETFs (não ficam escolhendo ações ou títulos individuais) e fazem, para o cliente, o rebalanceamento periódico de suas carteiras conforme perfis de risco predeterminados.

É uma forma certamente menos glamourosa de investir, mas é a que traz melhores resultados para o cliente, em termos de custos e de retorno. Aliás, uma coisa que está ganhando força nos EUA são serviços de gestão de investimentos essencialmente passivos e apoiados em ferramentas tecnológicas, como roteamento automático de ordens (para o mercado) e aplicativos de controle e acompanhamento dos investimentos (para os clientes). É a fusão da filosofia de investir passivamente com a fervilhante onda fintech, e daí já vieram algumas startups de gestão de investimentos que estão “dando o que falar” nos EUA, como a Wealthfront e a Betterment.  Essas empresas são conhecidas, lá fora, como robo-advisors, pois utilizam ferramentas tecnológicas para automatizar os processos de construção e manutenção das carteiras dos investidores.

Diferentemente do caso do SPIVA, não precisarei rezar ou pedir uma “revolução popular” para termos serviços assim no Brasil, pois felizmente eles já existem (aliás, a comunidade fintech brasileira vem se revelando bastante dinâmica). Dentre eles, posso destacar a Magnetis e a Vérios, sendo que, no caso desta última, eu já estive conversando com eles e fiquei muito bem impressionado com o que vi – tanto a filosofia de trabalho quanto a plataforma tecnológica.

A Vérios é, inclusive, aquela que mais se aproxima do modelo “robo-advisor” que está sendo praticado no exterior. Ela é uma gestora de investimentos (lembrando que, no Brasil, o registro como “gestor” permite que se administre, de forma direta, a conta de investimentos do cliente – é o “porte de arma” do mercado financeiro…) e trabalha apenas com instrumentos que têm uma razoável liquidez, como títulos públicos (Tesouro Direto) e ETFs. Isso deixa os “robôs” mais à vontade para fazer a recomposição das carteiras em tempo real. Já a Magnetis, que é uma consultoria, oferece um “cardápio” um pouco mais diverso, com títulos privados e fundos de investimento, mas a desvantagem é que, usando esse tipo de instrumento, a liquidez (e, consequentemente, a facilidade para rebalancear as carteiras) acaba ficando um pouco mais limitada.

De qualquer forma, estamos vendo “movimento” e gente investindo em modelos de negócios inovadores. Iniciativas assim me deixam um pouco mais otimista com as perspectivas do mercado financeiro brasileiro e me fazem acreditar que o investidor, especialmente aquele menos experiente, terá serviços e ferramentas mais eficientes, mais baratas e mais transparentes ao seu dispor.

E, para finalizar, não custa reforçar. O fato de eu fazer esta “defesa” dos investimentos passivos (como já havia feito em 2012) não significa que eu desacredite nos investimentos ativos (eu acredito que o “alfa” existe… aliás, acho que já vi ele em algum lugar!). Em particular, sou entusiasta das linhas trend following e value investing (mais da primeira do que da segunda), mas acredito que, para a maioria dos investidores (especialmente aqueles que não têm grande interesse nos pormenores do mercado financeiro), a via passiva acaba sendo mais adequada.

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