Aposentadoria – Por que eu não pretendo me aposentar
Será que "parar de trabalhar" pode acelerar o processo de envelhecimento? Confira aqui (3o artigo da série sobre "aposentadoria")
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2012 às 14h47.
Última atualização em 21 de dezembro de 2018 às 19h59.
Há alguns poucos anos li um artigo que falava sobre um experimento de psicologia que me deixou muito impressionado. Em 1979, pesquisadores da Universidade de Harvard colocaram um grupo de pessoas, com idade na faixa de 70 a 80 anos, em um hotel isolado na Nova Inglaterra e tudo naquele hotel, incluindo decoração, roupas e programação de televisão, foi alterado para parecer que elas estavam em 1959 (ou seja, vinte anos antes da data da pesquisa). Isso é o mais próximo que conseguimos chegar de uma “máquina do tempo” com a tecnologia atual.
O objetivo da pesquisa, liderada pela doutora Ellen Langen, era fazer com que as pessoas se sentissem “mais jovens”, vivendo (ainda que de forma simulada) em uma situação onde percebiam a si mesmas como mais saudáveis e, posteriormente, constatar se essa mudança de percepção causaria também alguma mudança fisiológica.
Para surpresa dos pesquisadores, em apenas alguns dias começaram a aparecer alterações fisiológicas relevantes, que iam desde alívio de dores nas articulações a melhoras na postura corporal e acuidade mental. As pessoas, ao se perceberem em um ambiente onde se reconheciam como mais jovens e mais saudáveis, efetivamente começavam a ficar mais saudáveis. Elas, de certa forma, “rejuvenesceram”.
Essa surpreendente experiência, juntamente com outras semelhantes também conduzidas pela Dra. Ellen Langen, acabou gerando um livro chamado “Counterclockwise”, lançado em 2009 (e ainda não traduzido para o Português) onde ela conta, baseada em todas essas pesquisas, como nossa percepção do mundo e do ambiente em que vivemos influencia nosso processo de envelhecimento.
Ler sobre essa pesquisa me fez refletir muito sobre minha própria vida, e comecei a pensar nas pessoas mais velhas, quando elas falam “no meu tempo o mundo era assim, assim, assado”… Ou “no meu tempo não tinha tanta baixaria na televisão” e coisas do gênero. Minha atenção não estava na mensagem, mas sim nessa coisa de “no meu tempo”. Comecei a pensar com meus botões e me veio a seguinte ideia, completamente maluca e baseada em nada além do que minhas próprias percepções: quando a pessoa situa o “seu tempo” em algum momento do passado, ela pode estar reforçando, em sua mente, a ideia de que simplesmente ela não vive mais no “tempo dela”, então a melhor coisa a fazer, fisiologicamente falando, é acelerar o processo de envelhecimento para morrer logo e “se mandar” deste mundo; afinal, ela não está “no tempo dela” mesmo… Não tem mais o que fazer aqui!
Deste momento em diante passei a policiar melhor meus próprios pensamentos. Vai que, sem querer, eu mando uma mensagem errada para o meu cérebro e ele começa a acelerar o meu processo de envelhecimento… Por mais desvairada que essa ideia possa parecer (e talvez ela seja mesmo), na minha cabeça ela faz sentido. Por isso, até prova em contrário, farei o possível para situar minha vida no momento presente. Isso me leva a pensar, entre outras coisas, que a aposentadoria pode não ser uma ideia tão boa assim.
Se minha ideia estiver correta, então a aposentadoria pode ser um fator que desencadeia uma aceleração do processo de envelhecimento. Minhas observações (não científicas) sobre pessoas idosas que se aposentam e definham, comparadas a outras que se mantêm na ativa e aparentemente são mais saudáveis, também me levam a achar que isso tudo pode ter algum fundamento.
A aposentadoria, tal qual a conhecemos, foi criada para um mundo onde as pessoas faziam trabalhos predominantemente braçais e chegavam à velhice literalmente “acabadas”, incapazes de continuar trabalhando. Mas o trabalho dos dias de hoje é cada vez mais intelectual, e muitas pessoas com mais de sessenta anos estão no auge da sua produtividade. Talvez não faça sentido algum a pessoa planejar sua vida para viver seus últimos anos assistindo à televisão, resmungando e enchendo o saco da família, quando há tanta coisa mais interessante (e lucrativa) para se fazer. Muitas pessoas que se aposentam estão cometendo o imperdoável crime de desperdiçar seu talento e privar o mundo de muitas coisas positivas e interessantes que ainda podem fazer.
Mas vou, enfim, listar algumas das razões pelas quais eu não pretendo me aposentar. Talvez eu consiga fazer com que você também ao menos repense seus planos para a aposentadoria.
1- Não quero acelerar meu envelhecimento
Já falei bastante sobre minhas percepções e minhas ideias nada científicas sobre os efeitos nocivos que poderei causar à minha saúde e à minha vida se me colocar, deliberadamente, em uma situação onde me perceba como simplesmente “um velho”;
2- Eu gosto do que eu faço
Tem uma frase, atribuída a Confúcio, que diz “trabalhe naquilo que gosta e você nunca mais trabalhará um dia na vida”. É a pura verdade, pois quando você ama o que faz, parece que vive em “férias eternas”. Eu felizmente gosto do que faço e não vejo nenhum motivo para parar. Espero continuar fazendo o meu trabalho por muito tempo. Se você não gosta do seu trabalho, recomendo que ache algo de que goste ou que, pelo menos, tente aprender a gostar daquilo que faz.
3- Talvez simplesmente não seja possível
Comentei em meus dois artigos anteriores (“ Aposentadoria – o que o futuro nos reserva ” e “ Aposentadoria – a regra dos 4% ”) que, por conta do novo cenário de investimentos (com perfil de economia desenvolvida) para o qual o Brasil aparentemente caminha, a aposentadoria “plena” e com alto padrão de vida poderá virar um luxo para poucos.
Não é à toa que, nos Estados Unidos, a maior fonte de stress financeiro para funcionários de empresas é a percepção de que não conseguirão acumular um patrimônio suficientemente grande para se aposentar (incluindo a previdência privada).
Tudo que falei sobre não me aposentar não significa que eu não esteja, de alguma forma, me preparando financeiramente e acumulando alguns recursos. Afinal, pode ser que no futuro eu queira reduzir um pouco o ritmo, trabalhar de uma maneira mais folgada e descompromissada. Mas, simplesmente, “parar de vez” não está nos meus planos. Nesse caso, prefiro mudar o termo “aposentadoria” para “conquista da liberdade pessoal”. Que tal assim?
Há alguns poucos anos li um artigo que falava sobre um experimento de psicologia que me deixou muito impressionado. Em 1979, pesquisadores da Universidade de Harvard colocaram um grupo de pessoas, com idade na faixa de 70 a 80 anos, em um hotel isolado na Nova Inglaterra e tudo naquele hotel, incluindo decoração, roupas e programação de televisão, foi alterado para parecer que elas estavam em 1959 (ou seja, vinte anos antes da data da pesquisa). Isso é o mais próximo que conseguimos chegar de uma “máquina do tempo” com a tecnologia atual.
O objetivo da pesquisa, liderada pela doutora Ellen Langen, era fazer com que as pessoas se sentissem “mais jovens”, vivendo (ainda que de forma simulada) em uma situação onde percebiam a si mesmas como mais saudáveis e, posteriormente, constatar se essa mudança de percepção causaria também alguma mudança fisiológica.
Para surpresa dos pesquisadores, em apenas alguns dias começaram a aparecer alterações fisiológicas relevantes, que iam desde alívio de dores nas articulações a melhoras na postura corporal e acuidade mental. As pessoas, ao se perceberem em um ambiente onde se reconheciam como mais jovens e mais saudáveis, efetivamente começavam a ficar mais saudáveis. Elas, de certa forma, “rejuvenesceram”.
Essa surpreendente experiência, juntamente com outras semelhantes também conduzidas pela Dra. Ellen Langen, acabou gerando um livro chamado “Counterclockwise”, lançado em 2009 (e ainda não traduzido para o Português) onde ela conta, baseada em todas essas pesquisas, como nossa percepção do mundo e do ambiente em que vivemos influencia nosso processo de envelhecimento.
Ler sobre essa pesquisa me fez refletir muito sobre minha própria vida, e comecei a pensar nas pessoas mais velhas, quando elas falam “no meu tempo o mundo era assim, assim, assado”… Ou “no meu tempo não tinha tanta baixaria na televisão” e coisas do gênero. Minha atenção não estava na mensagem, mas sim nessa coisa de “no meu tempo”. Comecei a pensar com meus botões e me veio a seguinte ideia, completamente maluca e baseada em nada além do que minhas próprias percepções: quando a pessoa situa o “seu tempo” em algum momento do passado, ela pode estar reforçando, em sua mente, a ideia de que simplesmente ela não vive mais no “tempo dela”, então a melhor coisa a fazer, fisiologicamente falando, é acelerar o processo de envelhecimento para morrer logo e “se mandar” deste mundo; afinal, ela não está “no tempo dela” mesmo… Não tem mais o que fazer aqui!
Deste momento em diante passei a policiar melhor meus próprios pensamentos. Vai que, sem querer, eu mando uma mensagem errada para o meu cérebro e ele começa a acelerar o meu processo de envelhecimento… Por mais desvairada que essa ideia possa parecer (e talvez ela seja mesmo), na minha cabeça ela faz sentido. Por isso, até prova em contrário, farei o possível para situar minha vida no momento presente. Isso me leva a pensar, entre outras coisas, que a aposentadoria pode não ser uma ideia tão boa assim.
Se minha ideia estiver correta, então a aposentadoria pode ser um fator que desencadeia uma aceleração do processo de envelhecimento. Minhas observações (não científicas) sobre pessoas idosas que se aposentam e definham, comparadas a outras que se mantêm na ativa e aparentemente são mais saudáveis, também me levam a achar que isso tudo pode ter algum fundamento.
A aposentadoria, tal qual a conhecemos, foi criada para um mundo onde as pessoas faziam trabalhos predominantemente braçais e chegavam à velhice literalmente “acabadas”, incapazes de continuar trabalhando. Mas o trabalho dos dias de hoje é cada vez mais intelectual, e muitas pessoas com mais de sessenta anos estão no auge da sua produtividade. Talvez não faça sentido algum a pessoa planejar sua vida para viver seus últimos anos assistindo à televisão, resmungando e enchendo o saco da família, quando há tanta coisa mais interessante (e lucrativa) para se fazer. Muitas pessoas que se aposentam estão cometendo o imperdoável crime de desperdiçar seu talento e privar o mundo de muitas coisas positivas e interessantes que ainda podem fazer.
Mas vou, enfim, listar algumas das razões pelas quais eu não pretendo me aposentar. Talvez eu consiga fazer com que você também ao menos repense seus planos para a aposentadoria.
1- Não quero acelerar meu envelhecimento
Já falei bastante sobre minhas percepções e minhas ideias nada científicas sobre os efeitos nocivos que poderei causar à minha saúde e à minha vida se me colocar, deliberadamente, em uma situação onde me perceba como simplesmente “um velho”;
2- Eu gosto do que eu faço
Tem uma frase, atribuída a Confúcio, que diz “trabalhe naquilo que gosta e você nunca mais trabalhará um dia na vida”. É a pura verdade, pois quando você ama o que faz, parece que vive em “férias eternas”. Eu felizmente gosto do que faço e não vejo nenhum motivo para parar. Espero continuar fazendo o meu trabalho por muito tempo. Se você não gosta do seu trabalho, recomendo que ache algo de que goste ou que, pelo menos, tente aprender a gostar daquilo que faz.
3- Talvez simplesmente não seja possível
Comentei em meus dois artigos anteriores (“ Aposentadoria – o que o futuro nos reserva ” e “ Aposentadoria – a regra dos 4% ”) que, por conta do novo cenário de investimentos (com perfil de economia desenvolvida) para o qual o Brasil aparentemente caminha, a aposentadoria “plena” e com alto padrão de vida poderá virar um luxo para poucos.
Não é à toa que, nos Estados Unidos, a maior fonte de stress financeiro para funcionários de empresas é a percepção de que não conseguirão acumular um patrimônio suficientemente grande para se aposentar (incluindo a previdência privada).
Tudo que falei sobre não me aposentar não significa que eu não esteja, de alguma forma, me preparando financeiramente e acumulando alguns recursos. Afinal, pode ser que no futuro eu queira reduzir um pouco o ritmo, trabalhar de uma maneira mais folgada e descompromissada. Mas, simplesmente, “parar de vez” não está nos meus planos. Nesse caso, prefiro mudar o termo “aposentadoria” para “conquista da liberdade pessoal”. Que tal assim?